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Caso Clínico: Dermatologia – Manchas na pele

Caso Clínico: Dermatologia – Manchas na pele

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Imagem de perfil de Graduação Médica

História Clínica

HMR, sexo masculino, 2 anos.

Queixa principal: coceira e manchas vermelhas há um dia.

História da moléstia atual: acompanhado de sua mãe MMR, procurou atendimento apresentando como queixa principal há 1 dia, manchas vermelhas com coceira em todo o corpo. A mãe refere que a criança ingeriu dipirona no dia do aparecimento das lesões na pele por apresentar leve coriza.

Antecedentes pessoais e familiares

Mãe nega alergias medicamentosas e alimentares anteriores e  comorbidades familiares

Exame físico

Paciente em bom estado geral; vigil; lúcido e orientado no tempo e espaço; sem agitação psicomotora; fácies hipocrática; anictérico; hidratado; normocorado; acianótico; boa perfusão capilar periférica, orofaringe hiperemiada, apresentando leve coriza.

Dados vitais:   FC: 100 bpm FR: 20 irpm PA: 120 x 70mmHg  Temperatura: 36,5 ºC

Pele e fâneros: placas eritematosas, edemaciadas, de variados tamanhos de 1 a 7cm de diâmetro, localizadas em face, tronco anterior e posterior e membros superiores e inferiores.

Aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular em 2 tempos com bulhas normofonéticas, sem sopros. Ictus cordis palpável e não visível em quinto espaço intercostal esquerdo, linha hemiclavicular. Pulsos arteriais periféricos simétricos, sincrônicos e de boa amplitude.

Aparelho respiratório: tórax atípico, eupnéico, ausência de tiragem e uso de musculatura acessória. Expansibilidade preservada bilateralmente com frêmito toraco-vocal uniforme, palpável bilateralmente, com som claro pulmonar e murmúrio vesicular presente bilateralmente sem ruídos adventícios.

Abdome: plano, normotenso, sem massas, tumorações, visceromegalias, circulação colateral, pulsações e peristaltismo visível. Indolor a palpação, sem sinais de irritação peritoneal, com fígado e baço não palpáveis. Percussão timpânica em vísceras ocas e maciça em vísceras solidas. Ruídos hidroaéreos presentes.

Extremidades: membros superiores e inferiores sem edema, com pulsos palpáveis simétricos e amplos, panturrilhas livres.

Exame laboratorial

Hemograma completo sem alterações.

Pontos de discussão

1. Pela história e exame clínico, qual a Hipótese diagnóstica?

2. Quais são os diagnósticos diferenciais?

3. Qual a escolha terapêutica?

Diante da história do paciente, a hipótese diagnóstica é a reação alérgica medicamentosa, neste caso devido ao uso de dipirona pela primeira vez.

Em relação à hipersensibilidade alérgica temos a classificação de Gell e Coombs para melhor estabelecer os fundamentos e compreender tais reações :

A hipersensibilidade do tipo I (anafilático), ocorre pela formação de anticorpos IgE para fármacos ou seus metabólitos (haptenos). No caso em questão estamos diante deste tipo de hipersensibilidade alérgica, onde a ligação de antígeno (fármaco associado à proteína carregadora) com anticorpos IgE fixados à membrana de mastócitos determina a ativação destas células e conseqüente liberação de substâncias com atividade em vasos, musculatura lisa, glândulas e terminações nervosas. Esta situação é típica das reações alérgicas agudas clássicas, como urticária/angioedema e anafilaxia.

O tipo II (citotóxico) é caracterizada pela ação de anticorpos IgG ou IgM específicos para drogas ou seus fragmentos adsorvidos na membrana de células ou para seqüências antigênicas da membrana celular alteradas pela droga. A ativação deste mecanismo determina a destruição da célula alvo e a perda da função celular e tecidual. Anemias, leucopenias e trombocitopenia são as manifestações clínicas associadas a este mecanismo de hipersensibilidade.

O tipo III (complexos imunes) de Gell e Coombs identifica a reação que ocorre pela formação e deposição tecidual de complexos formados entre antígeno e anticorpo. A subseqüente ativação do sistema do complemento determina atração e ativação de polimorfonucleares e mononucleares, provocando lesão tecidual. Exemplo desta situação é a doença do soro, caracterizada por quadro urticariano, acompanhada de manifestações sistêmicas, como febre e artralgia.

O tipo IV (hipersensibilidade tardia) é mediado por linfócitos T e seus produtos solúveis. Exemplo clássico é a dermatite de contato alérgica. Os exantemas morbiliformes parecem estar associados à participação de linfócitos T e citocinas

Manifestações clínicas da hipersensibilidade alérgica

No caso o paciente apresentou urticária, sendo que esta é uma das apresentações mais comuns de reação a drogas. É caracterizada pela formação de placas edemaciadas, com bordos irregulares, pruriginosas, surgindo em vários locais, simultaneamente ou não. Nos quadros agudos, as placas urticadas são evanescentes desaparecendo em minutos a poucas horas. Muitas vezes a urticária é acompanhada de angioedema, caracterizado pelo edema de partes moles, como pálpebras, lábios e órgãos genitais. Nas crises agudas de urticária sempre devemos pesquisar reação a medicamentos. Urticária pode surgir tanto pela presença de anticorpos IgE para a droga, como por hipersensibilidade não-alérgica (reação pseudo-alérgica). Analgésicos e AINH são os principais agentes causais de crises de urticária em nosso meio.

Como diagnóstico diferencial, temos as Infecções bacterianas, exantemas virais, alergia alimentar, hipóteses que foram descartadas mediante história clínica, exame físico e exame complementar.

A escolha terapêutica  para o paciente foi o uso de Anti-histamínico oral e prednisolona oral.

REFERÊNCIAS

Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 28, Nº 3, 2005.

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