Ciclo Clínico

Caso clínico – Endometriose

Caso clínico – Endometriose

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Caso Clínico: Endometriose

QP: Dor e falta de ar

HMA: C.S.P., 29 anos, casada, faioderma, comparece ao serviço de Urgência e Emergência queixando-se de dor pélvica de forte intensidade e dor contínua no hemitórax direito. Concomitante ao quadro refere dispneia sem esforço. A paciente relata que os sintomas são de caráter cíclico com gravidade aumentada durante o período menstrual e que os mesmos se iniciaram a cerca de três anos, porém aumentaram de intensidade nos últimos dois meses.

HP: Hipertensa, em uso de losartana 50 mg 1x ao dia. Nega outras comorbidades e nega alergia medicamentosa.

HF: Mãe hipertensa e diabética. Demais familiares de primeiro grau, hígidos.

HBPS: Tabagista (5,5 maços/ano) e faz uso de bebidas alcoólicas socialmente.

HGO: Menarca aos 14 anos. Sexarca aos 16 anos. Ciclos menstruais regulares, 27/27 dias. G0P0A0, relata dificuldades para engravidar. Não faz uso de método contraceptivo no momento.

Exame Físico:

Sinais vitais: PA: 135×70 mmHg FC: 104bpm FR: 14irpm Tax.: 36,3°C

Ectoscopia: BEG, BOTE, fácies de dor, fácies álgica, mucosas normocoradas e escleras anictéricas. Pelos e fâneros bem implantados e panículo adiposo bem distribuído.

SCV: Ictus não visível e não palpável. À ausculta, BNRNF-2T, ausência se sopros.

SR: Tórax assimétrico, com leve expansão do hemitórax direito. Murmúrio vesicular e frêmito –toracovocal diminuídos. Som com timpanismo predominante à percussão. Expansibilidade diminuída com predominância em hemitórax direito.

HD: Pneumotórax (?). Endometriose (?).

Propedêutica: hemograma completo, radiografia simples, TC e RM de tórax. Ultrassonografia transvaginal.

Resultado dos exames:

Hemograma:

Eritrograma Valores encontrados Valores de referência
Hemcácias 5,69 milhões/mm³ 4,5 a 5,9 milhões/mm³
Hemoglobina 13,90 g/dL 12,0 a 17,5 g/dL
Hematócrito 41,20% 38% a 57%
VCM 79,41fl 78 a 100fl
HCM 29,43pg 25 a 37pg
CHCM 33,74g/dL 31 a 37g/dL
RDW 14,8% 10 a 15%

Imagens:

1. Radiografia e TC de tórax evidenciaram hidropneumotórax à direita.

2. RM, T1 e T2, com e sem supressão de gordura, evidenciaram lesões nodulares hiperintensas na pleura com difusão restrita, sugestiva de endometrioma.

3. US transvaginal revelou massa cística, multiloculada, nos anexos à direita, que sugeria endometrioma e hematossalpinge ipselateral.

CD: diante da suspeita, com base na história clínica e nos achados de imagens, prosseguiu-se com o protocolo de tratamento do Hospital para endometriose.

Endometriose

Definição:

A endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença de de tecido endometrial, reativo aos hormônios sexuais, em sítio extra-uterino. É considerada doença benigna, no entanto, é causa importante de dor pélvica e infertilidade, ainda que muitas mulheres sejam assintomáticas.

Epidemiologia e fatores de risco:

Acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva, na terceira e quarta décadas de vida, com uma prevalência em torno de 6 a 10%.

Predomina em mulheres brancas e asiáticas e maior concordância diante de familiar positiva. Há maior freqüência nos casos de gestação tardia ou nuliparidade, menarca precoce, ciclos curtos, e fluxos longos ou intensos, além de maior risco em mulheres com malformações anatômicas, dentre outros.

Etiologia:

A etiologia da doença ainda é totalmente elucidada, mas vários estudos e teorias tentam explicar tais fenômenos, como é o caso da Teoria da Menstruação Retrógrada, Imunológica, Teoria da Metaplasia Celômica, Restos embrionários, Metástase Linfovascular, dentre outros.

Fisiopatogenia:

A partir das possíveis teorias etiológicas, o tecido endometrial pode-se implantar em vários sítios extra-uterinos, sobretudo o peritônio pélvico, ovários e septo retovaginal, mas também pode acometer, de forma mais rara, o pericárdio, a pleura, o sistema nervoso central, ou qualquer outro local do organismo. Como o estroma e glândulas endometriais são responsivos aos hormônios ovarianos, o quadro apresentaria um caráter cíclico e com relação temporal com os períodos menstruais. Assim, nos períodos de crise, desenvolve-se um processo de reação inflamatória, levando a achados clínicos característicos.

Quadro Clínico:

O quadro clínico clássico da endometriose genital resume-se especialmente em dor (dismenorréia, dispaureunia e dor pélvica crônica) e infertilidade. As formas extra-genitais são na maioria das vezes assintomáticas; quando sintomática manifestam-se, sobretudo, com dor e/ou massas palpáveis, de padrão cíclico, além de outros achados conforme o local de ocorrência, tais como distensão e dor abdominal, constipação/diarréia, hematoquezia cíclica (forma gastrointestinal), disúria e hematúria cíclica (forma no trato urinário), dor torácica e dispnéia cíclica (forma torácica).

Diagnóstico:

Exame físico: em geral, os achados são variáveis e dependem do local de implantação. Os principais são: dor a mobilização do colo uterino; aumento as sensibilidade e presença de massas/ nódulos anexiais e em fórnice posterior; implantes azulados visualizáveis na vagina, ao exame especular.

Exames complementares: videolaparoscopia (método de escolha; visualiza os implantes e realiza biópsia de focos suspeitos); ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética (pouco úteis no diagnóstico, devido a menor resolução das imagens); dosagem de CA 125 (glicoproteína derivada do epitélio celômico, que tem certa correlação com grau da doença, quantificando-o).

Diagnóstico Diferencial:

Sob suspeita de endometriose, deve-se afastar a possibilidade de doença inflamatória pélvica, adenomiose, síndrome do cólon irritável, doença diverticular, câncer de cólon, tumores ovarianos e cistite.

Tratamento:

Em geral, a doença costuma ser progressiva, tornando o tratamento necessário. As opções incluem conduta expectante (em casos de doença leve, na perimenopausa), sintomáticos (analgésicos, AINEs), contraceptivos orais (o estrogênio da fórmula, suprime a esteroidogênese, induzindo a amenorréia, e evitando a implantação e crescimento de focos endometriais), outras terapias hormonais (progestagênios, danazol, análogos do GnRH, etc) e as abordagens cirúrgicas (diante de sintomas graves e incapacitantes e/ou casos não responsivos aos métodos conservadores).

Confira o vídeo:

Referências:

1.      ANDRADE FILHO, Laert Oliveira; CAMPOS, José Ribas Milanez de; HADDAD, Rui. Pneumotórax. J. bras. pneumol.,  São Paulo ,  v. 32, supl. 4, p. S212-216,  Aug.  2006 .

2.       CAMARGOS, Aroldo; MEL, Victor Hugo de. Ginecologia Ambulatorial. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2008.

3.       FREITAS, Fernando (Et al). Rotinas em ginecologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

4.       MARCHIORI, Edson et al . Endometriose pleural: achados na ressonância magnética. J. bras. pneumol.,  São Paulo ,  v. 38, n. 6, p. 797-802,  Dec.  2012 .

5.       NACUL, Andrea Prestes; SPRITZER, Poli Mara. Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento da endometriose. Rev. Bras. Ginecol. Obstet.,  Rio de Janeiro ,  v. 32, n. 6, p. 298-307,  June  2010 .

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