LANEURO – Liga Acadêmica de Neurociências
Autora: Fernanda Barcelos Santos
Orientador: Marcelo Viana Rodrigues da Cunha, Graduado em Medicina pela Faculdade Souza Marques (2002), especialização em Clinical Fellowship – Neurotrauma (2011) e especialização em Clinical Fellowship – Spine (2012) ambos pela University of Toronto. Residência Médica pelo Hospital da Baleia (2006). Atualmente é Neurocirurgião do Biocor Instituto, Neurocirurgião do Hospital Belo Horizonte, Neurocirurgião do Hospital da Unimed e Neurocirurgião do Hospital Madre Teresa. Professor adjunto da Faculdade de Medicina da PUC Minas da disciplina de Semiologia Neurológica.
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)
Neurologia
História Clínica
Paciente masculino, 75 anos, branco, casado, aposentado, ensino fundamental incompleto, natural e procedente de Ipatinga. Esposa relata história clínica do paciente: durante a madrugada, se despertou com confusão mental. Ficou longo tempo no banheiro e, após sair, percebeu-se que ele havia cortado o cateter da diálise. Na manhã seguinte foram até o hospital em função da remoção do cateter e da manutenção da alteração mental. No hospital, foi diagnosticado com hiponatremia e ficou internado. Foi feita reconstituição cateter e orientação para acompanhamento da cor do líquido drenado. No dia seguinte após a alta, voltou para o hospital, pois a coloração do líquido estava turva e sentia muita dor abdominal. Foi receitado antibiótico de amplo espectro (cefepime) para tratamento da peritonite. Após alguns dias, a dor desapareceu e o líquido voltou a coloração normal. Durante o tempo de internação, o paciente apresentou leves alterações no comportamento, insuficientes para gerar investigação. Recebeu alta durante a tarde e a noite, no jantar, apresentou alterações maiores. Durante a noite não conseguiu dormir e no dia seguinte foi levado para o hospital, onde se apresentou irritado e agressivo. A esposa nega histórico de alterações do comportamento e de agressividade.
O paciente é diabético, hipertenso, possui falência renal e faz diálise peritoneal todos os dias de 5 em 5 horas. Nega tabagismo e etilismo.
Exame Físico
Pressão Arterial: 140/80 mmHg
Aparelho Cardiovascular: Bulhas Normorítmicas e Normofonéticas em 2 tempos, sem sopros, clicks ou estalidos.
Aparelho Respiratório: Murmúrio Vesicular predominante no tórax, bilateral, sem ruídos adventícios. Percussão sem alterações. Indolor à palpação. Ausência de frêmitos
Exames complementares
Hemograma, glicemia de jejum, eletrólitos, uréia e creatinina, albumina, dosagem sérica de vitamina B12 e ácido fólico e TC de crânio.
Exames laboratoriais sem alterações e TC revelou leve hipotrofia hipocampal.
Discussão
Demências potencialmente reversíveis são condições associadas com sintomas cognitivos ou comportamentais que são resolvidos assim que a causa primária é tratada. Dentre algumas das possíveis causas, encontram-se fatores nutricionais, metabólicos e uso de substâncias. A deficiência da vitamina B12, por exemplo, é comumente causa de demência. Essa relação deve-se à elevação dos níveis de homocisteína, que provocam neurotoxicidade ou à deficiência de S-adenosilmetionina, que ocasionam falha nas reações de metilação dos fosfolipídeos da bainha de mielina. A reversão total do quadro, mesmo em fases iniciais, é rara. No entanto, pesquisas apontam que a reposição de B12 no primeiro ano após a instalação da deficiência pode apresentar amplas vantagens. Já a causa metabólica mais comum de demência é o hiper ou hipotireoidismo. Tais condições podem cursar com sintomas como desorientação, desatenção, apatia, perda de memória, ideias delirantes, dentre outros. Esses sintomas podem ser revertidos após tratamento adequado. Além disso, o uso de determinados medicamentos ou mesmo a polifarmácia podem provocar sintomas que simulam demência, de maneira que a anamnese do paciente tem grande importância para encontrar-se a etiologia dos sintomas. Os medicamentos podem ser causa de delirium em 17% e demência em 1,5% a 10 % dos casos de indivíduos com declínio cognitivo. Alguns dos medicamentos comumente associados às demências são: analgésicos, sedativos, antidepressivos, antipsicóticos, anticolinérgicos e corticoesteroides Assim, diante das variadas causas de demência, a solicitação de exames que avaliem a função tireoidiana, hepática e renal, bem como a solicitação do hemograma, da dosagem sérica de B12 e da sorologia para HIV e sífilis podem auxiliar significativamente o médico no diagnóstico do paciente.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Elizabete Viana de. Tratado de geriatria e gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
FORNARI, Luis Henrique Tieppo et al. As diversas faces da síndrome demencial: como diagnosticar clinicamente?. Scientia Medica, Porto Alegre, v.20, n.2, 2010. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/scientiamedica/article/viewFile/5824/5430> Acesso em: 18 Out. 2016.
CHARI, Damodar et al. Reversible dementia in elderly: really uncommon?. Journal of geriatric mental health. v.2, n.1, Jul. 2015. Disponível em: http://www.jgmh.org/article.asp?issn=2348-9995;year=2015;volume=2;issue=1;spage=30;epage=37;aulast=Chari. Acesso em: 18 Out. 2016.
LONGO, Dan L. et al. Medicina interna de Harrison. 18.ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. v.2.
Gostou do caso? Discuta no fórum de comentários abaixo!