Internato

Tumor de células da granulosa do ovário

Tumor de células da granulosa do ovário

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Relato de caso

Paciente T.S.. do sexo feminino, 33 anos, parda, nuligesta, com ciclos menstruais irregulares, nunca teve relações sexuais, nega tabagismo, portadora de diabetes tipo 2 (tratada com glifage XR e linagliptina), sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes. Há cerca de 3 meses iniciou com metrorragia e foi atendida por médico de outra unidade, em bom estado geral, sinais vitais estáveis, palpação de útero e anexos prejudicada pela obesidade da paciente. Nos exames complementares, foi constatado aumento do volume uterino em ecografia (202cc) e anemia em hemograma.  A paciente foi encaminhada ao hospital E.D. para curetagem uterina semiótica. Foi realizado o procedimento e coletado material para análise, o laudo histológico não mostrou atipias ou outras alterações. Em tomografia computadorizada de pelve, observou-se imagem de tecidos moles com pequenos cistos e/ou necrose em seu interior com cerca de 7cm. Paciente é, então, internada para ooforectomia/ooforoplastia, onde é identificado tumor em anexo direito com cerca de 7cm de diâmetro, anexo esquerdo e útero sem particularidades. Realizada anexectomia direita e tumor é enviado para análise anatomo patológica. Laudo da patologia indica tumor de células da granulosa do ovário do adulto. Paciente recebe alta hospitalar dois dias depois da cirurgia, com orientação para acompanhamento ambulatorial.

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Discussão

Tumor de células da granulosa do ovário está entre os tumores malignos tardios mais recorrentes da ginecologia2. Estes se originam das células do cordão estromal, também chamado de cordão sexual, e representam de 2% a 5% de todos os cânceres ovarianos2,4. Apresentam-se como combinações de elementos femininos (células da teca e granulosa) e masculinos (células de Sertoli e Leydig). É o tumor de ovário produtor de estrógeno mais comum e por isto frequentemente associado à hiperplasia de endométrio, pólipos ou carcinoma. Pode ser classificado em formas juvenil (TCGJ) e adulta (TCGA), sendo TCGA a mais recorrente (95%) e acometendo mulheres na menopausa³. A maior parte dos casos ocorre em mulheres acima de 40 anos de idade, sendo unilateral em 85% dos casos¹. Em estudo de coorte retrospectivo de 24 pacientes com idades entre 30 e 82 anos (média 51,7), Bezerra et al constatou que 11 pacientes (45,8%) tinham idade até 50 anos, assim como a paciente apresentada no presente caso clínico, enquanto 13 pacientes (54,2%) tinham mais de 50 anos e eram menopausadas³. No que diz respeito aos sinais e sintomas encontrados para suspeita deste tumor, destaca-se o sangramento uterino anormal e dor, atribuída ao grande tamanho dos tumores de células granulosas. No grupo de mulheres em idade reprodutiva, pacientes costumam ter irregularidades menstruais, menorragia, sangramento intermenstrual ou amenorréia e em mulheres pós-menopausa o sangramento uterino anormal pode ser o sintoma presente1,2,4. Dentre os sintomas apresentados ao diagnóstico das pacientes do estudo de Bezerra et al, dez mulheres (41,7%) referiram dor pélvica; seis mulheres (25%), sangramento vaginal, e quatro mulheres (16,7%) apresentaram aumento do volume abdominal³. A sintomatologia do tumor de células granulosas é devida ao fato deste tumor ser hormonalmente ativo, produzindo constantemente estradiol. Koukourakism et al postularam 3 explicações para a possível relação entre estimulação ovariana e tumor de célula da granulosa. Primeira, a célula granulosa está presente no ovário, aguardando um gatilho hormonal; segunda, o aumento das concentrações de hormônio folículo estimulante (FSH) é oncogênico para o tumor de célula da granulosa; e a terceira explicação, o início do tumor de célula da granulosa durante a estimulação ovariana é coincidência². De acordo com Bezerra et al, caracteristicamente os tumores costumam ter em média 12 cm de diâmetro (variam de menor que 2 cm até 40 cm) e são sólidos ou císticos (parcialmente ou completamente). Considerado um tumor de baixo grau de malignidade, caracterizado por um crescimento indolente que tende para uma recorrência tardia, quando comparado com o tumor epitelial o seu prognóstico é excelente. Os fatores de prognóstico referem-se ao estádio, o grau, o tamanho do tumor, rotura do tumor, presença de metástases, atipias e ploidia Em relação à recorrência, usualmente está confinada à pelve ou peritoneo; porém, pode ocorrer no fígado, pulmão, osso e outros sítios6. O tratamento primário para os tumores de células da granulosa consiste de salpingooforectomia unilateral, com biópsia do ovário contralateral, para afastar bilateralidade. Em pacientes com mais idade, aconselha-se a histectomia e a anexectomiabilateral4. Já a radioterapia é usada quando há recorrência do tumor ou este está localizado em outros sítios.


Referências bibliográficas

1.      BEZERRA, Artur Lício Rocha; LORENZATO, Felipe Rinalo Barbosa.Tumores das células da granulosa dos ovários: estudo de 24 casos. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [online]. 2004, vol.26, n.8, p.605-610. Disponivel em < http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v26n8/a03v26n8.pdf> Acesso em 09 fev 2017.

2.      D´IPPOLITO, Giuseppe et al. Neoplasias sólidas de ovário: análise sistematizada e ensaio iconográfico. Rev Image; v. 28 n. 3: p. 165–170. 2006. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Luis_De_Souza/publication/242569142_Neoplasias_solidas_de_ovario_analise_sistematizada_e_ensaio_iconografico/links/56a1800808ae27f7de267304.pdf> Acesso em 04 fev 2017

3.      FREITAS, Fernando. Rotinas em ginecologia. Porto Alegre, RS. Artmed, 2006.

4.      INCA. Instituto Nacional do Câncer. Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde. Disponível em < http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/ovario> Acesso em 12 fev 2017

5.      KOUKOURAKISM, Georgios et al. Granulosa Cell Tumor of the Ovary: Tumor Review. Integrative Cancer Therapies. v. 7 n.3: p. 204 – 215. 2008. Disponível em <http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1534735408322845> Acesso em 04 fev 2017

6.      VALADARES, Sara; PEREIRA, Fernanda; TORREZÃO, Isabel. Tumor de células da granulosa – a propósito de um caso clínico. Arquivos da Maternidade Dr. Alfredo da Costa. v.17 n.1: p. 46 – 50.  2001. Disponível em http://repositorio.chlc.min-saude.pt/bitstream/10400.17/1323/1/Arq%20MAC%202001%2046.pdf Acesso em 12 fev 2017