Caso Clínico:
M.A, 45 anos, técnico de enfermagem há 20 anos, casado, residente de Planaltina-DF, relata constante cansaço físico, tristeza e irritação ao realizar as atividades do trabalho sem vontade de se comprometer com o trabalho. Segundo ele, esses problemas começaram após muitas mudanças no hospital, ele foi realocado a outra unidade e passou a assumir um cargo de gerência, com maiores responsabilidades, teve que trabalhar mais horas por dia, um trabalho mais exaustivo e mais emocionalmente desafiador pois teve que cobrar e demitir funcionários, exigindo esforço na tarefa de supervisionar, além do aumento constante das exigências. Assim, demonstrou extremo cansaço físico, o trabalho que antes era fonte de satisfação pessoal passou a deixá-lo irritado e com tristeza profunda, a relação com a esposa passou a ficar conturbada, com brigas, não sentia mais prazer em realizar as atividades do trabalho, apresenta falta de apetite, perda de peso, sentimento de desvalorização pessoal e vontade de morrer.
Ao exame físico e psíquico encontrava-se em regular estado geral, afebril, acianótico anictérico, hidratado, sem alterações no aparelho respiratório e cardiovascular, apresentou-se com sonolência, bem orientado em tempo e espaço, atenção e concentração voluntárias, memória de curta e longa duração preservadas, sem alterações de linguagem, sem alterações de sensopercepção, com pensamento negativo e lento, com afeto e humor de tristeza, com juízo e crítica preservados e com lentificação da psicomotricidade
O paciente foi então encaminhado para uma clínica psiquiátrica, nesta clínica foi suspeitado o diagnóstico de Síndrome de Burnout pela avaliação clínica na qual foi percebido os três pilares da síndrome, posteriormente foi realizado um teste diagnóstico, o Maslach Burnout Inventory – Human Services Survey (MBI-HSS), um instrumento de coleta de dados para mensurar o Burnout em profissionais de serviços de saúde e de recursos humanos/sociai.
Foi então afastado do trabalho e iniciou tratamento psiquiátrico baseado em três níveis de intervenção, centrados na resposta do indivíduo, no contexto ocupacional e na interação contexto ocupacional e indivíduo para melhorar a relação do paciente com o trabalho. Associado a essas intervenções que buscam atenuar a causa da síndrome, foi realizado a psicoterapia e a utilização de farmacologia para melhorar os sintomas depressivos e de ansiedade.
Questões para orientar a discussão:
- O que é a Síndrome de Burnout?
- Quais os três pilares da síndrome de Burnout?
- Quais os diagnósticos diferenciais?
- Como funciona o MBI-GS?
Respostas:
- A síndrome de burnout é resultante de um estresse crônico decorrente de situações ocupacionais, principalmente quando ocorrem mudanças na maneira de trabalho, estabelecimento de situações de pressão e sobrecarga, podendo ter também conflitos e pouco reconhecimento. De acordo com o CID 10 (Cadastro internacional de Doenças), a síndrome de burnout é reconhecida como estresse ocupacional e como síndrome de esgotamento profissional, sendo considerada uma doença de trabalho. Essa síndrome afeta majoritariamente profissionais de saúde, que estão em contato direto com pessoas e suas famílias, além de estarem expostos a situações estressantes, sobrecarga de trabalho e muitas tomadas de decisões. Essa doença leva a uma diminuição do interesse no trabalho com as relações e acontecimentos perdendo a importância.
- A síndrome de burnout é uma síndrome psicológica que resulta de estressores crônicos do cotidiano ocupacional, sendo caracterizada por exaustão emocional (EE), marcada pela fadiga intensa, falta de vontade de enfrentar o dia de trabalho e sensação de estar sendo exigido além de seus limites emocionais, a despersonalização (DE), caracteriza-se pela indiferença, desvalorização pessoal, distanciamento emocional e a realização pessoal (RP), com a diminuição da autoestima, sentimento de fracasso e incompetência, falta de panoramio pro futuro.
- O principal diagnóstico diferencial do caso clínico acima é a depressão, devido à presença de sintomas depressivos, como a alteração de apetite, perda de peso, redução da energia, sentimento de culpa e desvalia, pensamento de morte e ideação suicida, podendo não ficar esclarecido o diagnóstico de síndrome de Burnout
- O Maslach Burnout Inventory é o instrumento mais usado para o diagnóstico da síndrome de burnout, sendo divido por três categorias profissionais, o para os funcionários da saúde/cuidadores e profissionais dos recursos humanos/sociais, o para educadores e o para profissionais que não necessariamente estão em contato direto com o público alvo. Esse instrumento avalia as três dimensões do burnout, é auto aplicável e efetivo para avaliar a relação dos entrevistados com seu trabalho e o envolvimento do burnout. Contém 22 itens, a frequência das respostas é avaliada por uma escala de pontuação de 1 a 5 na versão brasileira, 1- Nunca; 2- Algumas vezes ao ano; 3- algumas vezes ao mês; 4- algumas vezes na semana; 5- diariamente.

Área: Psiquiatria
Autor: Ana Luiza Antony Gomes de Matos da Costa e Silva
Revisor(a): Vinícius Uler Lavorato
Orientador(a): Dra. Lair da Silva Gonçalves
Liga: Liga Acadêmica de Psiquiatria do Distrito Federal (LIPSI-DF)