Paciente de 5 anos comparece ao ambulatório de pediatria com mãe. A informante queixa que, há aproximadamente 5 meses, a paciente vem apresentando eliminações de material sanguinolento pelo orifício vaginal, que ocorreriam aproximadamente duas vezes ao mês e com duração do fluxo de aproximadamente 3 dias. Ainda, relata que faz uso de aproximadamente 2 absorventes higiênicos por dia. Não há outras queixas associadas.
Ao exame, a criança apresenta-se orientada, com desenvolvimento neuropsicomotor adequado à idade, corada, hidratada, anictérica e acianótica. Os aparelhos respiratório, cardiovascular e abdome não mostram alterações dignas de nota. À classificação de Tanner, apresenta mamas infantis e ausência de pelos púbicos (M0 P0). O exame da genitália não apresenta sangramento ativo.
Inicialmente, suspeita-se de puberdade precoce, apesar do desenvolvimento das mamas, manifestação geralmente inicial desta desordem não ter ocorrido. Não há histórico familiar desta condição, e a mãe relata não fazer uso de anticoncepcionais orais, que poderiam ter sido ingeridos acidentalmente pela criança e desencadeado o quadro. Solicitam-se uma dosagem do LH basal, ultrassonografia pélvica e radiografia de punho e mão não dominantes para determinar idade óssea. Os resultados mostraram idade óssea de 5 anos, ovários e útero infantis e LH adequado para a idade.
Descartada a hipótese inicial, é aventada a hipótese de que a paciente esteja sofrendo abuso sexual. A informante relata que a criança, além de morar na mesma residência que ela, coabita com os avós, dois tios e tem contato próximo com adultos próximos à família, porém não apresentou alterações de comportamento nos últimos meses. Solicitam-se sorologias para HIV, sífilis e hepatites B e C e a paciente é encaminhada ao ambulatório de ginecologia, psiquiatria infantil e à assistência social. Os resultados do exame sorológico são negativos, e a criança não possui sinais de agressão sexual ao exame ginecológico.
Diagnóstico
O diagnóstico se concretiza após acompanhamento por psiquiatra infantil: a criança não possui desordem orgânica, porém sofre violência psíquica praticada pela mãe, que coloca sangue nas roupas íntimas da filha. A Síndrome de Münchhausen por procuração é uma condição psiquiátrica na qual o tutor (geralmente os pais) transfere à criança a busca por atenção através da procura por atendimento médico frequente, com queixas que não são solucionadas por exames diagnósticos ou tratamento convencionais. Pode ocorrer limitação das atividades da criança para evitar o agravamento da doença fictícia, além de dependência do agressor e a crença de que possui uma doença grave. Essa prática impõe abusos gravíssimos à vítima devido à realização indiscriminada de exames invasivos, internações, uso de medicamentos desnecessários, culminando em danos psíquicos.

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