Índice
A Classificação Internacional de Doenças (CID – 10) estabelece quatro níveis de função visual: visão normal, deficiência visual moderada, deficiência visual grave e cegueira. Os parâmetros utilizados para a análise de deficiências na visão são as escalas de acuidade visual (capacidade de identificar os objetos a uma certa distância) e de campo visual (o quanto de uma área o olho consegue ver quando focado em um ponto central). A definição atual de cegueira engloba os indivíduos que apresentam incapacidade total de visão, como também os de baixa visão que manifestam prejuízos nas atividades diárias, em níveis incapacitantes.
A prevalência e as causas de cegueira variam conforme a região, as condições geográficas e socioeconômicas. Com base nos dados da Agência Internacional de Prevenção à Cegueira (IAPB), em 2020, no Brasil, estima-se que a quantidade de indivíduos com perda de visão era de 29 milhões. Destes, cerca de 1,8 milhões apresentam incapacidade total de visão. A IAPB também estipula que em média de 26 mil crianças brasileiras desenvolveram cegueiras por doenças oculares que poderiam ter sido preveníveis e tratáveis precocemente. Desse modo, é perceptível a necessidade de conhecer as causas da perda visual na infância como requisito para a prevenção à estados conducentes à cegueira e promoção da saúde ocular.
Principais causas por etiologia
Hereditária: catarata, distrofia retiniana, albinismo.
Infância: trauma, sarampo, deficiência de vitamina A, meningite.
Perinatal: retinopatia da prematuridade, alteração cortical, oftalmia neonatal.
Intrauterina: rubéola, toxoplasmose, álcool.
Desconhecida: anomalias, início desconhecido.
Causas mais frequentes
Catarata
A catarata pediátrica é uma das principais causas tratáveis ou preveníveis de cegueira na infância. É caracterizada pela perda de transparência do cristalino e diminuição da elasticidade do cristalino, que impede os feixes luminosos de atingirem os fotorreceptores retinianos e diminui a capacidade acomodativa. O indivíduo irá apresentar perda quantitativa da visão (acuidade de longe e perto), perda qualitativa (embaçamento e distorção, opacidade) e dificuldade de enxergar contra a luz.
Pode estar associado a malformações oculares congênitas, infecções intrauterinas, síndromes genéticas, alterações sistêmicas, erros de inato do metabolismo, hereditariedade, uso de medicamentos, radiação ou trauma ocular. Sendo assim, precisa ser identificado e tratado precocemente. O diagnóstico precoce se dá, principalmente, pelo teste do reflexo vermelho e deve ser realizado durante as primeiras semanas após o nascimento. Em relação ao tratamento, a cirurgia “facectomia extracapsular” na qual é implantada uma lente intraocular, é altamente eficaz, resultando em quase imediata reabilitação da visão.
Retinopatia da prematuridade
A retinopatia da prematuridade é um distúrbio em que os pequenos vasos sanguíneos no fundo dos olhos (retina) do bebê prematuro crescem de maneira anômala, comprometendo a vascularização da retina imatura. Nos estágios mais graves, o crescimento rápido e anômalo dos pequenos vasos sanguíneos pode causar o descolamento da retina e a perda de visão.
Por ser um distúrbio ligado diretamente ao nascimento prematuro, a melhor forma de prevenção é através da realização do pré-natal. No que concerne ao diagnóstico e tratamento, o recém-nascido precisa ser acompanhado por um especialista até o crescimento dos vasos sanguíneos, e apenas nos casos graves que há intervenções cirúrgicas, tratamentos a laser ou farmacológica, para evitar a perda da capacidade visual.
Glaucoma
O glaucoma é caracterizado por impedir que o fluido seja drenado suficientemente da parte frontal do olho. Esse bloqueio aumenta a pressão dentro do olho, lesiona o nervo óptico, interfere no desenvolvimento do globo ocular e da acuidade visual e, se deixado sem tratamento pode causar cegueira completa. Na infância, o tipo de glaucoma pode ser dividido de acordo com a faixa etária em que se desenvolve: glaucoma congênito (desde o nascimento), glaucoma infantil (desenvolve entre 1 a 24 meses de vida) e glaucoma juvenil (após os 3 anos de idade). No Brasil, o glaucoma congênito e infantil está entre as principais causas de cegueira em crianças.
Aumenta-se o tamanho do glóbulo ocular, haja vista que a esclera (membrana externa, branca e fibrosa do globo ocular) e a córnea (parte anterior e transparente na frente da íris e da pupila) se distendem devido à elevação da pressão intraocular. Vale salientar que essa distensão não ocorre no glaucoma adulto. A sensibilidade à luz, lacrimejamento, opacidade são os sinais mais comuns.
Como forma de impedir a progressão do distúrbio, realiza-se intervenção cirúrgica para criar um novo sistema de drenagem (goniotomia, trabeculectomia ou TREC). Em média, 25% do total de casos necessitam de uma segunda intervenção no primeiro ano após o diagnóstico.
Principais meios de prevenção
O primeiro passo preventivo é a realização do pré-natal, como meio de monitorar a gestante e o bebê para que tenham um período gestacional saudável e sem complicações. Esse acompanhamento é fundamental, pois auxilia na prevenção e diagnóstico precoce de determinadas doenças, como a retinopatia da prematuridade.
Após o nascimento do bebê, é essencial a realização do teste de reflexo vermelho, conhecido por “teste do olhinho”. Deve ser realizado ainda na maternidade e é capaz de detectar a presença de patologias oculares que ocasione, por exemplo, opacidades de córnea, tumores intraoculares, inflamações intraoculares ou hemorragias intravítreas.
Outro meio de prevenção é a triagem oftalmológica entre 0 e 6 anos, quando se completa o desenvolvimento visual. Possibilitando a identificação de possíveis danos oculares, que se não tratados reduzem a qualidade de vida infantil e dependendo do caso, levar a cegueira.
Conclusão
Em suma, a cegueira infantil é um quadro que interfere nas condições físicas e psíquicas da criança e familiares, além de mudar a dinâmica familiar e da sociedade. Assim, é de fundamental importância o diagnóstico precoce de anomalias oculares na infância para que tenha um tratamento hábil e que evite danos irreparáveis, como a cegueira. Os tratamentos preventivos, como o acesso ao pré-natal para as gestantes e a promoção de saúde ocular na infância são bases para controlar os problemas na visão.
Autora: Fávilla Pinto
Instagram:@favillav_
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
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Referências:
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OTTAIANO, J. A. A. et al. As Condições deSaúde Ocular no Brasil. Conselho Brasileiro de Ofatalmologia. Edição 1 – 2019. ISBN: 978-8-56-210904-1
The International Agency for the Prevention of Blindness. Disponível em: