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Em artigo publicado na revista científica The Lancet, pesquisadores brasileiros apontaram quatro hipóteses não excludentes que podem justificar o aumento drástico no número de casos de COVID-19 em Manaus. De dezembro a janeiro, a capital do Amazonas passou de 552 internações para 3.341.
Com o título “Ressurgência da covid-19 em Manaus, a despeito da alta soroprevalência”, o trabalho reúne 23 pesquisadores liderados pela imunologista Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), uma das responsáveis pelo sequenciamento do coronavírus no Brasil.
Taxa de contaminação superestimada
A primeira hipótese descrita pelos especialistas tem a ver com a chamada taxa de ataque, ou seja, o número de pessoas infectadas. Os cientistas acreditam que ela pode ter sido superestimada durante a primeira onda da COVID-19, iniciada entre março e abril de 2020.
Estudos apontaram que em outubro 76% da população de Manaus tinham anticorpos contra o novo coronavírus. Com isso, a capital teria atingido a imunidade de rebanho, calculada entre 60% e 70%. Assim, os pesquisadores acreditam que a taxa de contaminação da população possa ter sido superestimada.
“Em geral, a prevalência nos doadores de sangue, em qualquer doença, é subestimada, pois pessoas com sintomas são excluídas da doação, o que pode ter influenciado na estimativa”, afirmou Sabino ao Jornal da USP.
Redução da imunidade
A segunda hipótese levantada pelos cientistas é a perda de proteção imunológica das pessoas que já tinham contraído o vírus. Segundo Sabino, pesquisas apontam que a infecção é rara em pessoas que apresentam anticorpos, porém a maioria delas acompanhou os pacientes por seis meses.
“Os novos casos em Manaus ocorreram de sete a oito meses depois do pico, quando ainda não existiam dados claros quanto à reinfecção”, explicou a pesquisadora. Ainda sim, os cientistas garantem que a diminuição da imunidade por si só não explica totalmente o recente ressurgimento da COVID-19 na cidade.
Nova linhagem
O surgimento de uma nova linhagem do coronavírus, identificada em dezembro no Amazonas, é a terceira hipótese. Ainda não se sabe ao certo, mas há a possibilidade que ela consiga burlar a proteção imunológica provocada por infecções anteriores.
Segundo estudos recentes, 85% das amostras de casos de COVID-19 coletadas em Manaus em janeiro foram causadas pela variante nova, batizada de P.1. Vale mencionar que outras linhagens também foram descobertas no Brasil.
Maior transmissibilidade
Por fim, a quarta suposição descrita no artigo pelos cientistas brasileiros é que as novas linhagens do Sars-CoV-2 podem ter maior poder de transmissão do que a que circulava no início da pandemia. “Com isso, o limiar de imunidade populacional para bloquear um novo surto é maior”, ressaltou Sabino, reforçando a necessidade de intensificar ações de pesquisa que forneçam respostas e orientem ações de combate à COVID-19.
O artigo indica maior vigilância sorológica e genômica dos casos, com atenção especial para ocorrências de reinfecção, inclusive pela nova linhagem. Os cientistas também sugerem investigações aprofundadas sobre a eficácia das vacinas contra o vírus e suas variantes.
*Com informações do Valor Econômico