Carreira em Medicina

Classificação BIRADS e a importância da mamografia na detecção do câncer de mama | Colunistas

Classificação BIRADS e a importância da mamografia na detecção do câncer de mama | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

O câncer de mama é um tumor maligno que se instala devido a alterações genéticas nas células da glândula mamária. Tais células tornam-se defeituosas e se proliferam de maneira desordenada, levando, assim, à formação de nódulos na mama, em tecidos vizinhos ou em outras partes do corpo, quando ocorrem as metástases. Há vários tipos de câncer de mama, desde os que possuem desenvolvimento rápido até os que crescem lentamente. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. A maioria dos casos, quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, apresentam bom prognóstico. Nesse contexto, o sistema BIRADS surgiu como um método classificatório para facilitar o diagnóstico e tratamento dos indivíduos acometidos por câncer, uniformizando a orientação ao médico quanto à conduta a ser tomada de acordo com os achados mamográficos: negativos, benignos, provavelmente benignos, suspeitos e altamente suspeitos.  

Em relação às estatísticas, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) no ano de 2021, a estimativa de novos casos de câncer de mama é de 66.280, o que denota a dimensão dessa problemática principalmente após a pandemia causada pelo COVID-19, devido aos efeitos do isolamento social.  Tendo em vista que essa doença acomete milhares de pessoas a cada ano, principalmente mulheres, é importante entender os mecanismos de seu desenvolvimento. 

Como essa doença se desenvolve? 

Normalmente as células saudáveis do nosso organismo vivem, dividem-se e morrem, porém, as células cancerígenas, que são aquelas alteradas provocadoras do câncer, dividem-se de forma descontrolada, dando origem a uma neoplasia, a qual normalmente é chamada de tumor maligno. Diversos fatores atuam influenciando o processo de divisão descontrolada que ocasiona a neoplasia, principalmente as mutações genéticas. Estas células malignas, multiplicando-se em outras áreas do corpo, dão origem a uma situação chamada de metástase.

Quanto às etapas de formação das neoplasias, normalmente ocorrem lentamente e passam por diferentes fases:

  • Estágio de iniciação: é a primeira fase do câncer, em que as células sofrem o efeito dos agentes cancerígenos, provocando modificações em alguns de seus genes, porém, ainda não é possível identificar as células malignas;
  • Estágio de promoção: as células transformam-se em célula malignas gradualmente através do contato constante com o agente causador, formando um tumor que começa a aumentar de tamanho;
  • Estágio de progressão: é a fase em que se dá a multiplicação descontrolada das células alteradas, até o surgimento dos sintomas. 

Os fatores que podem provocar o câncer são aqueles que provocam alterações nas células saudáveis, lembrando que quando a exposição é prolongada há maior chance de desenvolver câncer. No entanto, na maioria das vezes não é possível identificar o que deu origem à primeira mutação celular que ocasionou a doença, sendo, portanto, uma incógnita que revela essa área como grande campo de estudos. 

Fatores de risco 

O câncer de mama não tem somente uma causa. A idade é um dos mais importantes fatores de risco para a doença (cerca de quatro em cada cinco casos ocorre após os 50 anos). 

Outros fatores que aumentam o risco da doença são:

Fatores ambientais e comportamentaisFatores da história reprodutiva e hormonalFatores genéticos e hereditários**
Obesidade e sobrepesoPrimeira menstruação antes de 12 anosHistória familiar de câncer de ovário
Inatividade física*Não ter tido filhosCasos de câncer de mama na família, principalmente antes dos 50 anos
Consumo de bebida alcoólicaPrimeira gravidez após os 30 anosHistória familiar de câncer de mama em homens
Exposição frequente a radiações ionizantes para tratamento (radioterapia) ou exames diagnósticos (tomografia, Raios-X, mamografia, etc)Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anosAlteração genética, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2
Tabagismo – há evidências sugestivas de aumento de riscoUso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona)
Ter feito reposição hormonal pós-menopausa, principalmente por mais de cinco anos
Fonte: INCA, 2021.

* Não realizar ao menos 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada. Para maiores informações, consulte o Guia de Atividade Física para a população brasileira (abre em outra janela).

**A mulher que possui um ou mais fatores genéticos/hereditários apresenta risco elevado de desenvolver câncer de mama. Apenas 5 a 10 % dos casos da doença estão relacionados a esses fatores.

Atenção: a presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher terá necessariamente a doença

Sinais e sintomas 

O câncer de mama pode ser percebido em fases iniciais, na maioria dos casos, por meio dos seguintes sinais e sintomas:

  • Nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor: é a principal manifestação da doença, estando presente em cerca de 90% dos casos quando o câncer é percebido pela própria mulher
  • Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja
  • Alterações no bico do peito (mamilo)
  • Pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço
  • Saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos

A postura atenta das mulheres em relação à saúde das mamas é fundamental para a detecção precoce do câncer da mama.

BIRADS 

O BIRADS é uma sigla que se refere a Breast Imaging Reporting and Data System (Sistema de Relatório de Dados sobre Imagem da Mama), ou seja, é um sistema adotado para estimar qual a chance de determinada imagem da mamografia ser câncer. Esse sistema varia de 0 a 6, possuindo como finalidade promover uma uniformização dos relatórios mamográficos, pois a falta de uniformidade resulta em relatórios ambíguos que podem interferir na estratégia de conduta, tornar um controle evolutivo difícil, ou até impossível, trazendo dificuldades na interpretação de quais mamografias seriam interpretadas como positivas ou negativas. O objetivo da classificação BIRADS é evitar confusões em laudos mamográficos, tornando os achados padronizados e as recomendações claras. Um dos principais componentes do BIRADS é a impressão diagnóstica e, com isso, a recomendação da conduta a ser tomada, com base nos achados mamográficos.

Por exemplo, veja os exemplos abaixo: 

Figura 1: Mamografia normal (BIRADS 1) 

Figura 2: Mamografia com nódulo provavelmente maligno (BIRADS 5)

Rastreamento e a importância da mamografia

Os métodos para rastreamento de câncer de mama são ferramentas fundamentais para o diagnóstico precoce da doença, ou seja, quando os sintomas ainda não existem. Os principais métodos de rastreio são:

  1. Alerta às mulheres para a saúde das mamas: acesso à informação sobre a doença e autoexame das mamas;
  2. Consulta médica com especialista (mastologista) para exame clínico das mamas anualmente;
  3. Exame de mamografia, a ser realizado anualmente em todas as mulheres acima dos 40 anos de idade.

Vale lembrar que mulheres que possuem história de câncer de mama na família, principalmente em parentes de primeiro grau (mãe e irmãs), devem procurar acompanhamento médico e realizar a mamografia anualmente a partir dos 35 anos de idade.

O diagnóstico definitivo é dependente de um conjunto de informações baseadas no exame clínico, no estudo radiológico (mamografia e ultrassonografia) associado ao BIRADS e no resultado de exames anatomopatológicos da lesão. O diagnóstico final emitido no laudo anatomopatológico é dado pelo médico patologista através da análise microscópica de amostras de tecido obtidas por biópsia (core biopsy ou mamotomia) e também do espécime cirúrgico, contendo informações básicas como, por exemplo, o subtipo histológico e grau de diferenciação tumoral.

Em geral, a pesquisa de metástase em linfonodos (nódulos) da axila é feita inicialmente através da biópsia do linfonodo sentinela, que é o linfonodo mais próximo e o primeiro a ser atingido por linfa proveniente da área tumoral. O mesmo é retirado durante a cirurgia e enviado ao médico patologista para exame de congelação, o qual é realizado dentro do centro cirúrgico no mesmo momento e diz ao cirurgião se há acometimento pelo tumor ou não, definindo assim a conduta cirúrgica em relação à retirada de mais linfonodos da axila (esvaziamento axilar). É também o médico patologista que analisa o exame auxiliar imuno-histoquímico. Este determina, no mesmo tecido da biópsia ou cirurgia, a presença de receptores hormonais e de HER-2. Ambos são marcadores que devem ser sempre pesquisados já que além de definirem o subtipo molecular do câncer de mama, disponibilizam informações importantes para que o mastologista e o oncologista escolham o melhor tratamento para o paciente de maneira individualizada.

Desse modo, é notório que a mamografia é um exame extremamente importante para todas as mulheres, pois permite visualizar nódulos com grande probabilidade de malignidade. É o único que, comprovadamente, é capaz de detectar o câncer de mama em estágio inicial, possibilitando, assim, um tratamento mais eficaz e com maiores chances de cura. 

Tratamento

O tratamento do câncer de mama envolve terapia clínica (quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia) e cirúrgica (retirada conservadora do tumor ou retirada de toda a mama). Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial de cura. Quando há evidências de metástases (doença disseminada), o tratamento tem por objetivo melhorar a qualidade de vida da paciente.

Prevenção 

A prevenção primária desse tipo de câncer ainda não é totalmente possível devido à grande quantidade de fatores de risco e das alterações genéticas envolvidas na sua causa. Porém, existem atitudes cientificamente provadas que ajudam a diminuir o risco do câncer de mama, tais como a prevenção da obesidade, a prática de exercícios físicos regularmente, dieta equilibrada e a promoção do aleitamento materno. 

Todas as mulheres, independentemente da idade, devem ser estimuladas a conhecer seu corpo para saber o que é e o que não é normal em suas mamas. A maior parte dos cânceres de mama é descoberta pelas próprias mulheres. Além disso, o Ministério da Saúde recomenda que a mamografia de rastreamento (exame realizado quando não há sinais nem sintomas suspeitos) seja ofertada para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.  A recomendação brasileira segue a orientação da Organização Mundial da Saúde e de países que adotam o rastreamento mamográfico.

O SUS oferece exame de mamografia para todas as idades, conforme indicação médica.

Saiba mais em cartilha Câncer de mama: vamos falar sobre isso?

Previna-se! 

Conclusão 

Portanto, diante do que foi dito, pode-se entender a necessidade de disseminar a importância da mamografia associada ao conhecimento sobre o BIRADS. A avaliação mamográfica utilizando a classificação pelo método BIRADS permite uma adequada padronização dos laudos, o que ajuda na comparação de exames por diferentes radiologistas e condutas a serem tomadas frente a achados mamográficos específicos, eliminando conflitos entre laudos mamográficos de diferentes profissionais, bem como quanto à conduta médica a ser seguida. Assim, o BIRADS se constitui como grande aliado no combate ao câncer de mama. 

Autora: Walérya Siqueira 

Instagram: @waleryasb


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências 

VIEIRA, Augusto Vasconcellos; TOIGO, Felipe Tietbohl. Classificação BI-RADS ™: categorização de 4.968 mamografias. Radiologia Brasileira, v. 35, p. 205-208, 2002. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rb/a/Jz5DfHJRhqnmwp9sfFfL5Jq/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 06 Dez 2021. 

O que é câncer, como surge e diagnóstico. 2018. Disponível em: https://www.tuasaude.com/como-surge-o-cancer/ 

Câncer de mama. 2016. Disponível em: http://www.sbp.org.br/cancer-de-mama/?gclid=Cj0KCQiAqbyNBhC2ARIsALDwAsBTvDZ53ZP1dpvkEI86pdJFlpSjcW8tavmpgcdhztpSyfD0MEmolnsaAtKuEALw_wcB   

Câncer de mama. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama 

Você sabe o que é Birads?. 2020. Disponível em: https://vidasaudavel.einstein.br/o-que-e-birads/