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Por Farmacêutico Ramon Rodrigues Sá
Revisão: Professor Rodrigo Taminato
A busca incansável por um agente farmacológico capaz de agir de maneira efetiva contra a infecção causada pelo novo coronavírus, a COVID-19, parece estar chegando perto de uma saída. Algumas pesquisas, como as relacionadas ao uso dos fármacos cloroquina e hidroxicloroquina, apresentaram resultados promissores.
Segundo o trabalho publicado no Cell Research¹ (04 de fevereiro de 2020) por pesquisadores chineses (WANG et al., 2020), a utilização de dois fármacos Remdesivir e Cloroquina promoveram de maneira eficaz a inibição do novo coronavírus.
Cloroquina e suas indicações
No Brasil, existem tanto medicamentos à base de Cloroquina como de Hidroxicloroquina registrados. As indicações aprovadas para esses medicamentos são:
- Afecções reumáticas e dermatológicas (reumatismo e problemas de pele);
- Artrite reumatoide (inflamação crônica das articulações);
- Artrite reumatoide juvenil (em crianças);
- Lúpus eritematoso sistêmico (doença multissistêmica);
- Lúpus eritematoso discoide (lúpus eritematodo da pele);
- Condições dermatológicas (problemas de pele) provocadas ou agravadas pela luz solar;
- Malária (doença causada por protozoários): tratamento das crises agudas e tratamento supressivo de malária por Plasmodium vivax, P. ovale, P. malariae e cepas (linhagens) sensíveis de P. falciparum (protozoários causadores de malária). Tratamento radical da malária provocada por cepas sensíveis de P. falciparum.
Uso off label da Cloroquina
O uso é caracterizado off label quando o fármaco é utilizado para uma indicação diferente daquela que foi autorizada pelo órgão regulatório no país (ANVISA, 2005).
Logo, nos casos onde alguns fármacos mostram-se eficientes contra uma dada patologia fora da sua indicação prevista, temos a sua utilização como off label.
No caso da cloroquina e seus derivados (ex: hidroxicloroquina), foi evidenciado a sua eficiência farmacológica contra a COVID-19, nos pacientes em casos de síndrome respiratória aguda severa. Logo, a partir de tal resultado, prováveis mecanismos foram propostos para entendimento da sua ação frente ao vírus.

Mecanismos de Ação Prováveis da Cloroquina e seus derivados
Atualmente diversos centros de pesquisa em ensaio clínico vêm publicando em revistas de alto impacto científico prováveis mecanismos de ação, sendo apenas 3 mecanismos de ação mais aceitos pelo corpo acadêmico-científico.
1º mecanismo – Modificação Conformacional do Receptor da Enzima Conversora de Angiotensina do Tipo – 2 (ECA 2)
De acordo com alguns pesquisadores a cloroquina e seus derivados parecem modificar o receptor por um mecanismo de glicosilação, o que acarreta por altera o sítio de ligação que não mais consegue se ligar a proteína S (Spike) do novo corona vírus.
2º mecanismo – Alteração do pH do Endossomo
De acordo com alguns pesquisadores a cloroquina e seus derivados promovem a alcalinização (pH > 7,0) no interior do endossomo, o que leva ao não rompimento do envelope viral, o que acarreta da não liberação do RNA viral no citoplasma, levando a não replicação do vírus e consequentemente a redução da carga viral.
3º mecanismo – Redução e Inibição na liberação de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-6)
De acordo com alguns trabalhos publicados no último mês, o novo corona vírus promove o aumento da concentração de citocinas pró-inflamatórias, o que acarreta no quadro de pneumonite e as suas complicações.
Os ensaios utilizando a cloroquina e seus derivados em pacientes com a síndrome respiratória aguda severa, obtiveram resultados significativos nesses pacientes, tendo a redução do quadro inflamatório respiratório e a melhora dos outros sintomas.
Essa explicação veio da avaliação dos níveis de citocinas pró-inflamatórias, que o estudo em questão, comprova a redução com o uso da cloroquina e seus derivados. O terceiro mecanismo é o que possui maior aceitação entres os estudiosos e pesquisadores da área.
Mesmo com todos esses resultados animadores e os prováveis mecanismos já descritos, a terapia contra o novo corona vírus ainda não é algo conclusivo. Todos os dados produzidos até o momento do ponto de vista farmacológico foram feitos em pequenas populações, o que não garante a total comprovação de eficácia, segurança e indicação terapêutica.
Logo, a cloroquina e seus derivados estão sendo liberadas para utilização em estágios graves da COVID-19, não tendo sua liberação e indicação para pacientes que estejam assintomáticos ou tenham sinais/sintomas de menor severidade.
Confira o vídeo:
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