Coronavírus

Cloroquina é tóxica para células vasculares, diz estudo da UFPR

Cloroquina é tóxica para células vasculares, diz estudo da UFPR

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Depois de alerta de especialistas e das organizações internacionais de saúde sobre os riscos do uso de medicamentos sem comprovação científica para combater a COVID-19, um novo estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) concluiu que a cloroquina é tóxica e provoca danos em células endoteliais, presentes em todos os vasos sanguíneos do corpo humano.

Os resultados foram publicados na revista Toxicology and Applied Pharmacology e são fruto do doutorado do pesquisador Paulo Cézar Gregório, que trabalhou com linhagens de células endoteliais humanas extraídas de vasos sanguíneos. O material foi cultivado na presença de cloroquina, em concentrações incapazes de causar sua morte celular, por até 72 horas.

Durante esse período, a célula induziu significativamente o acúmulo de organelas ácidas, aumentou os níveis de radicais livres e diminuiu a produção de óxido nítrico, levando ao estresse oxidativo e dano celular, processo chamado de disfunção endotelial.

Risco não compensa o benefício

Nessa disfunção endotelial, a célula substituí a produção de substâncias protetoras pela de substâncias tóxicas em excesso, o que pode afetar a circulação sanguínea e, por consequência, órgãos como coração, rins e pulmões.

Como o comportamento das células cultivadas em laboratório é semelhante ao de células endoteliais infectadas pelo SARS-CoV-2, Gregório e sua equipe concluíram que a lesão nas células pode atestar o fracasso da cloroquina como terapia para tratar  a COVID-19.

“Se por um lado, a cloroquina pode diminuir a replicação viral, por outro promove uma citotoxicidade que pode potencializar a infecção viral”, disse Gregório ao Portal UFPR.  

Vale lembrar que a cloroquina tem seu uso consolidado para o tratamento de malária e doenças autoimunes, como o lúpus. Como não existe medicação sem efeitos adversos, os especialistas devem pesar os riscos e benefícios antes de indicar o uso.

“É preferível controlar doenças graves, em troca dos efeitos colaterais do remédio (cloroquina). Assim é com toda terapia comprovada para alguma doença. Os benefícios têm que superar os riscos”, concluiu.

“Pá de cal” na cloroquina

Pesquisas anteriores já comprovaram que a mortalidade nos casos graves de COVID-19 está relacionada à lesão celular endotelial (micro ou macrotrombose). Os resultados do novo estudo são importantes para endossar o descarte do medicamento como positivo para combater a infecção.

“Já está provado que a Covid causa muitos problemas de coagulação e de circulação. Com isso, conseguimos ligar esses efeitos que observamos nas células, aos que os pacientes apresentam clinicamente”, disse a professora Andréa Emília Marques Stinghen, que orientou o estudo.

Desde os primeiros meses da pandemia do novo coronavírus, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) se posicionou pedindo a retirada da cloroquina de todas as fases do tratamento da COVID-19, acompanhando todas as sociedades médicas e científicas dos países do norte global, bem como recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).  

Mesmo com todas as evidências científicas mostrando a ineficácia do medicamento no tratamento da infecção por SARS-CoV-2, o Ministério da Saúde orientou o uso precoce do remédio, bem como da hidroxocloroquina e da azitromicina, ambos também sem comprovação de eficácia contra a COVID-19.

*Com informações do IG