Psiquiatria

Como identificar a Síndrome de Borderline? | Colunistas

Como identificar a Síndrome de Borderline? | Colunistas

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Você sabe o significado da palavra Borderline? Se traduz em “limítrofe”, termo que caracteriza esse grave e complexo quadro de desarranjo mental. O Transtorno de Personalidade Borderline é definido pela quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American Psychiatric Association [APA], 2014) por um padrão difuso de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, acompanhado de impulsividade acentuada presente em vários contextos. Os pacientes possuem um importante prejuízo funcional e constantemente frequentam os serviços de saúde em decorrência de repetidas hospitalizações e tratamentos de longa duração com medicamentos e psicoterapia.

Embora não seja conferida tamanha relevância ao distúrbio em relação as outras entidades psiquiátricas, representa o principal transtorno de personalidade no âmbito clínico, acometendo em média 10% dos pacientes ambulatoriais e 20% dos pacientes psiquiátricos internados.  Na população geral, atinge cerca de 1,6% a 5,9% das pessoas. O sexo feminino possui uma maior predominância, chegando a 70% dos casos. As tentativas de suicídio chegam a 10% nos diagnosticados com o transtorno, taxa que é 50 vezes maior em relação a população em geral.

            Mas quando suspeitar dessa patologia? De modo geral, os sintomas incomodam todas as pessoas do círculo de convivência do paciente, principalmente os familiares. Sendo assim, a identificação da Síndrome não é rotineiramente difícil. Quanto as alterações afetivas, os pacientes apresentam sensações, por vezes divergentes. A principal queixa se constitui em um intenso “vazio”, que muitas vezes é confundida com tristeza e consequentemente depressão. Podem também apresentar tensão aversiva, englobando raiva, vergonha, pânico, terror e solidão.

            A demasiada reatividade no humor é outro aspecto marcante, caracterizado pelas mudanças aceleradas de um estado para outro, flutuando por períodos disfóricos e eutímicos durante o mesmo dia. Além do mais, a cognição também se apresenta alterada, com a sintomatologia variando desde ideias superestimadas de estar mal a experiências de dissociação, como despersonalização e alteração da percepção da realidade. Os pacientes também podem apresentar quadros transitórios e circunscritos de ilusões e alucinações baseadas na realidade, configurando sintomas semelhantes aos psicóticos.

            Outro aspecto importante são os frequentes episódios de impulsividade, que pode se apresentar pela auto-destruição, chamando atenção o comportamento suicida e auto-mutilação ou por formas gerais, como desordens alimentares, uso de drogas, direção imprudente, explosões verbais e participação em orgias. Por fim, os relacionamentos interpessoais são configurados pela instabilidade e intensidade, com pensamentos frequentes de medo de abandono e oscilação entre extremos de idealização e desvalorização, sendo que, discussões e rompimentos são evidentes e espantam pessoas do convívio social.

            Dentre as possibilidades de tratamento, a psicotepia representa a primeira escolha, sendo a Terapia Comportamental Dialética a melhor opção segundo a Associação Americana de Psicologia. Apesar do tratamento combinado de farmacoterapia e psicoterapia ser superior a intervenção medicamentosa isoladamente, não há comprovação em relação a superioridade do tratamento combinado sobre a psicoterapia isolada.

            Por fim, a percepção dos principais indícios que podem caracterizar a Síndrome de Borderline são de extrema importância para a investigação, que é idealmente realizada por uma anamnese minuciosa, onde pode se utilizar de estratégias da semiologia psiquiátrica, que são também aplicáveis aos generalistas. Com o diagnóstico precoce, proporciona-se ao paciente maiores possibilidades de reestabelecer a estabilidade das relações sociais ou minimizar o impacto social causado pela patologia.

Até breve!

AUTOR: Filipe Quadros Costa

Instagram: @filipequadros_ 


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

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