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Confira neste artigo o como as descobertas sobre o HIV contribuíram no desenvolvimento de uma vacina contra covid!
A pandemia do COVID-19 destacou a importância do engajamento global e precisou centralizar as atenções das pesquisas, mesmo que em nível acelerado, em uma resposta para o enfrentamento da situação caótica da saúde mundial.
O contexto promoveu a parceria entre ciência, governo e comunidade, o que acelerou a criação da vacina. É relevante destacar que os avanços dos estudos de combate ao HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) tiveram um impacto positivo na resposta do COVID-19.
Contextualização sobre a epidemia global de HIV
A epidemia global de HIV, nos anos 1980, representa um marco para a ciência, haja vista que desde então muitas pesquisas vem sendo realizadas, obtendo sucesso em tratamentos eficazes, mas que ainda tentam entender o vírus e suas mutações.
As últimas quatro décadas de cooperação cientifica para descoberta de um imunizante contra o HIV foram utilizadas como base das pesquisas na descoberta da vacina contra o Sars-Cov-2.
Investimento massivo, suporte governamental de muitas nações e engajamento global do mundo científico com o compartilhamento de dados foram fatores essenciais que permitiram, em tempo recorde, avanços no combate ao coronavírus.
Avanços na discussão
A curto prazo, o COVID-19 provocou alguns impactos na pesquisa e nos serviços para indivíduos com HIV. Em todo mundo, a grande maioria dos ensaios clínicos voltados para o HIV pararam ou retardaram seus estudos migrando seu foco para o enfrentamento do coronavírus.
Os órgãos que investem nas pesquisas do HIV são os mesmos que financiam os estudos sobre o vírus SARS-CoV-2. Os centros clínicos utilizados para HIV migraram a testagem para a COVID-19, assim como a maioria dos pesquisadores redirecionaram sua linha de pesquisa.
Desse modo, todo esse cenário de mudança pode ocasionar uma interrupção contínua da prestação de serviços de HIV, bem como de outras doenças infecciosas.
Comparação entre o HIV e covid-19
O HIV são retrovírus pertencente ao gênero Lentivirus. Apresentam longo período de incubação, provocam infecções persistentes e supressão do sistema imune.
O vírus da imunodeficiência age, principalmente, comprometendo os linfócitos T CD4+, podendo destruir de modo direto pela replicação viral ou indireto através da resposta imunológica do hospedeiro. Dependendo da intensidade da resposta, pode-se haver disfunção celular ou apoptose.
O HIV tem alta taxa de mutação, além de mudar de acordo com a população e a área geográfica.
Diferenças na forma de transmissão
A transmissão do HIV ocorre pela exposição a fluidos corporais infectados, por exemplo:
- sangue,
- sêmen,
- fluidos vaginais,
- leite materno.
As rotas de transmissão mais comuns são através do contato sexual desprotegido e de mãe para filho (transmissão vertical) durante a gravidez, no momento do parto ou no aleitamento materno.
Ao contrário do HIV, a síndrome respiratória aguda grave do coronavírus é uma infecção com um curto período de incubação. O vírus SARS-CoV-2 é um vírus de RNA e pertencente ao gênero Beta-CoVs (Betacoronavirus) e ao subgênero Sarbecovirus.
Essa grande família de vírus é comum em diferentes animais e, assim, raramente o coronavírus que atingem animais podem infectar seres humanos, como por exemplo do MERS-CoV e SARS-CoV.
Na China, em dezembro de 2019, aconteceu a transmissão de um novo coronavírus, o qual se chamou SARS-CoV-2, sendo disseminada entre a população.
A transmissão foi rápida, provocando a pandemia do COVID-19, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves.
O COVID-19 mudou, significativamente, o cotidiano das pessoas em todo mundo, introduzindo um novo estilo de vida e novas medidas sanitárias.
Portanto, é perceptível que a atual pandemia afeta desproporcionalmente grupos em condições de vulnerabilidade social. Situação semelhante ao que acontece com o HIV, segundo a Organização Mundial de Saúde, dada as disparidades no sistema de saúde.
A vacina como solução contra o vírus
Quando um vírus continua circulando na população aumentam as possibilidades de mutações, situação que já está acontecendo com o SARS-Cov-2. Desse modo, no contexto caótico de pandemia, é de suma importância a corrida por vacinas.
Diversas abordagens para o desenvolvimento do imunizante estão sendo utilizadas, como: inativada, vivas atenuadas, de vetor viral, de DNA e RNA.
Devido à alta capacidade de mutação, o HIV apresenta maior dificuldade na criação de imunizantes eficazes, visto sua variabilidade genética em diversas regiões do mundo.
HIV e a vacina contra covid: o que se espera?
Espera-se que, mesmo diante da complexidade do HIV, a utilização da tecnologia do RNA mensageiro, como foi adotado com sucesso nas vacinas contra COVID-19, em especial a da Pfizer, seja positivo para o desenvolvimento de um possível imunizante contra o HIV.
Tal abordagem poderia intervir na grande capacidade de mutação, fazendo com que o organismo produza anticorpos independentemente da cepa.
É notório que o desenvolvimento de vacinas para a prevenção contra infecções é a maior e melhor intervenção, até hoje, para minimizar os impactos causados por doenças transmissíveis.
HIV e vacina contra covid: curiosidade
Em 2009, foram publicados os resultados do ensaio clínico de fase 3 da vacina ALVAC/AIDSVAX, a única que apresentou eficácia na prevenção do HIV.
Os testes foram realizados na Tailândia, com cerca de 16 mil voluntários, obtendo 30% de redução nas infecções entre os indivíduos vacinados.
Dez anos depois, a Universidade de Harvard, nos EUA, desenvolveu uma nova vacina com uma eficácia ainda maior, cerca de 67%, em experimentos realizados com macacos.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
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Referências:
CHENNEVILLE, T.; GABBIDON, K.; HANSON, P.; HOLYFIELD, C. The Impact of COVID-19 on HIV Treatment and Research: A Call to Action. International Journal of Environmental Research and Public Health. Jun/2020. Doi:10.3390/ijerph17124548. Disponível em:
Estudo Mosaico de vacina preventiva contra o HIV chega ao Brasil. Disponível em:
MCMAHON, J. H.; HOY, J. F.; KAMARULZAMAN, A.; BEKKER, L. G.; CHRIS BEYRER, C.; LEWINA, S. R. Leveraging the advances in HIV for COVID-19. Lancet, p. 943–944, Out/2020. Doi: 10.1016/S0140-6736(20)32012-2. Disponível em: < Leveraging the advances in HIV for COVID-19 (nih.gov)> Acesso em: 10/03/2020.
World Health Organization. Global Update on the Health Sector Response to HIV. 2014. Disponível em: