Coronavírus

Corticoide como adjuvante na síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica

Corticoide como adjuvante na síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica

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A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) é a complição mais temida da COVID-19 em crianças. Consiste em uma variedade de sinais e sintomas, que geralmente ocorrem de 2 – 4 semanas após infecção e caracteriza-se por febre persistente, sintomas gastrointestinais, rash, conjuntivite bilateral não purulenta, sinais inflamatórios mucocutâneos e envolvimento cardiovascular. 

É uma complicação grave, que pode levar à morte ou à necessidade de suporte hemodinâmico em até 75% dos casos. 

O tratamento para esta doença relativamente nova baseia-se nos guidelines já existentes para a Doença de Kawasaki, que consiste em uso de Imunoglobulinas intravenosas, as vezes combinada com Corticoide.

Evidências científicas sobre o melhor tratamento para a síndrome ainda são escassas, e por isso hoje iremos abordar um estudo que endereça o seguinte tema:

Há diferença de desfechos entre o tratamento com Imunoglobulinas + Metilprednisolona comparado com o tratamento apenas com Imunoglobulinas?

Como o estudo foi realizado

O estudo foi do tipo coorte retrospectiva, que incluiu 111 crianças com a SIM-P. Para comparação, foi definido cenário de falha terapêutica quando a febre persistia por mais de 2 dias, ou quando retornava dentro de 7 dias. 

Os dados foram coletados da Agência Nacional Francesa de Saúde Pública. Para ser considerado caso de SIM-P, os pacientes deveriam cumprir as definições propostas pela Organização Mundial de Saúde. 

Outros desfechos analisados consistiram em:

  • Necessidade de terapia de segunda linha;
  • Suporte hemodinâmico;
  • Disfunção aguda ventricular esquerda;
  • Tempo de permanência na unidade intensiva pediátrica.

Quais foram os achados encontrados

O número de crianças que não responderam ao tratamento no grupo imunoglobulinas + metilprednisolona foi de 9%, em contrapartida com 51% no grupo com apenas imunoglobulinas.

O tratamento combinado foi associado a menor risco de falha terapêutica, uso de terapia de segunda linha, suporte hemodinâmico, disfunção aguda ventricular esquerda e tempo de permanência na unidade de terapia intensiva pediátrica. 

O que podemos concluir a partir destes resultados

Os resultados apresentados pelo estudo mostraram que o tratamento combinado (imunoglobulinas + metilprednisolona) foi associado à um melhor curso febril da SIM-P.

Os resultados também apontaram para melhores desfechos secundários para o grupo com a terapia com corticoides.

É já aventado na discussão científica atual que haja vias comuns entre a síndrome respiratória aguda grave da COVID-19 em adultos e a SIM-P. 

A terapia com corticoide em adultos já é utilizada, e é possível que na SIM-P a terapia com corticoide atue diminuindo sistemicamente o processo inflamatório causado pelo SARS-CoV-2.

Porém, por se tratar de estudo observacional, ainda se faz necessário mais pesquisas no tema para validar a terapia combinada.

Mas vale lembrar que a SIM-P é uma síndrome rara e que será difícil conduzir um estudo randomizado e controlado. 

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Referências

Association of Intravenous Immunoglobulins Plus Methylprednisolone vs Immunoglobulins Alone With Course of Fever in Multisystem Inflammatory Syndrome in Children – JAMA Network