Coronavírus

COVID-19 e Cloroquina: Há estudos suficientes que justifiquem seu uso? | Colunistas

COVID-19 e Cloroquina: Há estudos suficientes que justifiquem seu uso? | Colunistas

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Sobre o COVID-19

O Coronavírus (SARS-CoV-2), vírus causador da doença COVID-19, é assim nomeado por ter espículas proeminentes em sua superfície semelhante à uma coroa, é envelopado, possui apenas uma fita de RNA e um nucleocapsídeo helicoidal. Ele pode causar sintomas variados, mas afeta principalmente as vias respiratórias, podendo ocasionar desde um resfriado leve em jovens saudáveis, até a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) em idosos, pessoas com problemas cardiovasculares e imunocomprometidos.

Sua transmissão ocorre tanto por contato pessoa-pessoa, quanto pelo ar e contato com secreções contaminadas, sendo que pessoas assintomáticas portadoras do vírus também são capazes de transmitir a doença COVID-19.

Farmacologia da Cloroquina  

A cloroquina é um fármaco utilizado para profilaxia e tratamento da malária causada pelos parasitas Plasmodium vivax, P. ovale e P. malarie, amebíase hepática, artrite reumatóide, lúpus, sarcoidose e doenças oculares de fotossensibilidade.

Os metabólitos da cloroquina interferem na síntese de proteínas por inibir a polimerase do DNA e RNA, além de serem armazenados em vacúolos digestivos do parasita, ocasionando o aumento do pH e comprometendo a utilização da hemoglobina das hemácias pelo parasita. A ação desse fármaco sobre o lúpus e a artrite reumatóide é pouco conhecida, no entanto, sua atividade antiinflamatória é reconhecida e alguns estudos laboratoriais indicam que ele inibe a quimiotaxia de leucócitos polimorfonucleares, eosinófilos e macrófagos.

A cloroquina tem uma faixa estreita de segurança, sendo que uma dose de 30mg/kg pode levar a óbito. Tem como efeitos adversos, a toxicidade aguda, que inclui efeitos cardiovasculares como hipotensão, vasodilatação, arritmias, aumento do intervalo QT, perda da função e miocárdica e parada cardíaca; e efeitos neurológicos, como convulsões, confusão mental e coma. Ainda, pode causar, mais raramente, hemólise, e seu uso prolongado pode causar retinopatias que podem progredir para cegueira.

Farmacologia da Azitromicina

A azitromicina é um antibiótico macrolídeo, que atua se ligando irreversivelmente a um sítio da subunidade 50S do ribossomo bacteriano, inibindo as etapas de translocação na síntese de proteínas. Ela é muito utilizada em infecções respiratórias por H. influenzae e Moraxella catarrhalis, em uretrites causadas por Chlamydia trachomatis e também, associada a outros fármacos, para combater o Mycobacterium avium, que causa doenças respiratórias e sistêmicas em pessoas imunocomprometidas. Seus efeitos adversos incluem irritação e aumento da motilidade gástrica, icterícia colestática e ototoxicidade.

Associação da Cloroquina e Azitromicina com o COVID-19

Um grupo de pesquisadores chineses realizaram um estudo laboratorial, adicionando cloroquina em células infectadas por SARS-CoV-2 e constataram que a cloroquina é altamente eficaz na redução da replicação viral, principalmente por ter uma boa capacidade de penetração em tecidos, em especial, no tecido pulmonar. Assim, esse estudo recomenda o uso de 500mg de cloroquina, duas vezes ao dia, por 5 a 10 dias, dependendo da gravidade, em pacientes diagnosticados com COVID-19.        

Um estudo de Gautret et al, publicado em 17 de março de 2020, demonstrou que o desfecho laboratorial foi a negativação virológica do swab nasal, em que após seis dias de tratamento, 70% dos pacientes tratados com hidroxicloroquina foram curados, comparando com 12,5% no grupo controle. Já dos pacientes que receberam hidroxicloroquina com azitromicina 100% obtiveram a cura.

Esse estudo sugere que a hidroxicloroquina e a azitromicina apresentam um efeito sinérgico, ou seja, ao serem associadas, têm seus efeitos potencializados. Assim, essa combinação pode atuar como uma terapia antiviral contra SARS-CoV-2 e prevenir

superinfecções bacterianas. A hidroxicloroquina é um derivado da cloroquina com menos efeitos tóxicos, principalmente relacionados à cardiotoxicidade.

O uso desses fármacos concomitantes exige a monitorização constante do paciente, uma vez que a cloroquina tem uma meia vida bastante alta, cerca de 30h, e pode causar efeitos adversos fatais, controle difícil de ser realizado frente à uma pandemia, na qual se tem um crescimento exponencial do número de infectados. A associação desses fármacos apresenta um risco potencial do paciente ter o intervalo QT prolongado e esse risco deve ser avaliado individualmente.

A Organização Mundial da Saúde confirma que ainda não há evidências de estudo randomizado controlado para informar sobre o tratamento para o COVID-19, haja vista que nesses estudos foram utilizados outros métodos não tão fidedignos e com um número de pessoas insatisfatório e, que os estudos a serem realizados, devem passar por um rigoroso comitê de ética de estudos clínicos, desse modo, a cloroquina ainda é vista como experimental.

Fármaco não deve ser usado sem prescrição médica

Com a divulgação de algumas pesquisas laboratoriais que apresentaram resultados satisfatórias para o uso cloroquina e hidroxicloroquina, a população brasileira causou o esgotamento destes fármacos em várias farmácias, deixando pacientes crônicos, que fazem o uso contínuo, sem acesso ao medicamento. No entanto, de acordo com o Ministério da Saúde, o fármaco é promissor, mas ainda não há estudos suficientes que garantem o seu uso com segurança e, que caso for comprovada sua eficácia contra o COVID-19, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade de ofertar o medicamento de forma gratuita.

Conclusão

Portanto, é importante que a população, embora esteja angustiada com o curso incerto da doença no Brasil, siga as recomendações de isolamento social e higiene e aguarde até que o melhor tratamento seja comprovado pela comunidade científica e autorizado pelos órgãos competentes de saúde, uma vez que os efeitos colaterais da cloroquina podem ser letais.

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Autora: Tainara Pezzini, Estudante de Medicina

Instagram: @tainarapezzini