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Os resultados preliminares do estudo RECOVERY, ensaio clínico randomizado conduzido no Reino Unido, mostrou benefício no uso da Dexametasona em pacientes hospitalizados por COVID-19. Com isto, guidelines passaram a recomendar o seu uso que, consequentemente, aumentou muito ao redor do mundo.
Embora os médicos estejam familiarizados com os efeitos adversos mais comuns associados ao uso da droga, há a possibilidade que não estejam familiarizados com um menos comum: hiperinfecção por Strongyloides stercoralis.
A hiperinfecção por Strongyloides stercoralis constitui efeito adverso potencialmente grave, mas prevenível. Neste post pretendemos trazer um pequeno resumo sobre o assunto, e fornecer estratégias para evitar esta temível complicação.
A hiperinfecção por Strongyloides stercoralis
A Strongiloidíase é causada pelo parasita nelminto Strongyloides stercoralis. A infecção é adquirida, principalmente, pelo contato com solo contaminado.
Uma característica deste parasita é a possibilidade, uma vez dentro de seu hospedeiro, ser capaz realizar de autoinoculação direta, fazendo com que o hospedeiro humano torne-se autoinfectante, perpetuando a infecção cronicamente, que pode durar até décadas.
Apesar da maioria dos indivíduos serem assintomáticos, uma possível manifestação grave da doença é a síndrome da hiperinfecção.
Esta complicação é de natureza iatrogênica, muitas vezes fatal, e está associada ao uso de drogas imunossupressoras em pessoas com infecção crônica por Strongyloides stercoralis desconhecida.
O agente precipitante mais comumente associado é o uso de corticosteroides, aparentemente independentemente da dose e tempo de tratamento. Estudo que analisou 133 pacientes com hiperinfecção por Strongyloides encontrou associação com administração de corticoides em 83% dos casos.
Estratégias para evitar a complicação com uso de Dexametasona
Busca ativa por infecção assintomática
Já que a maioria dos pacientes com infecção crônica são assintomáticos, a melhor estratégia para evitar a hiperinfecção é buscar ativa e precocemente pela infecção naqueles pacientes candidatos a receber tratamento com terapia imunossupressora, incluindo o uso da Dexametasona.
Eosinofilia em sangue periférico é considerado bom marcador clínico de infecção por Strongyloides. Porém, sua sensibilidade e especificidade baixa, principalmente em prever síndrome da hiperinfecção, torna seu uso isolado limitado.
Portanto, a suspeição de infecção assintomática deve ser feita com base, não em sinais e sintomas, mas em fatores de risco como procedência de locais endêmicos e áreas de risco, bem como história de moradia em residência rural, exposição ocupacional à solo, levando em conta a duração da exposição.
Lembrando que a infecção crônica pode durar décadas, a suspeita não pode ser descartada se a exposição aconteceu há muitos anos atrás. Há casos relatados de infecção crônica com exposição remontando a 50 anos após ter deixado a área endêmica.
Tratamento medicamentoso preventivo para pacientes sob risco
Para pacientes com COVID-19, que são ou podem se tornar candidatos ao uso da Dexametasona, uma possível estratégia para evitar a hiperinfecção por Strongyloides stercoralis, naqueles sob risco moderado ou alto, é o uso da Ivermectina, medicamento seguro, barato e utilizado para o tratamento de infecções parasitárias.
Segue abaixo estratégia de tratamento com Ivermectina proposta por publicação na revista JAMA, para pacientes hospitalizados ou acompanhados ambulatorialmente:

Conclusão do uso da Dexametasona na COVID-19
Baseado nos dados atuais, é claro que o benefício do uso da Dexametasona na COVID-19 naqueles pacientes com indicação supera o risco da hiperinfecção por Strongyloides, já que esta é uma complicação incomum.
É esperado que a Dexametasona se torne cada vez mais prescrita para pacientes com COVID-19, aumentado o risco da complicação tratada neste post.
Sendo esta complicação evitável, e o seu desfecho potencialmente catastrófico para os pacientes que a desenvolvem, os médicos e sistemas de saúde devem considerar a implementação de estratégias preventivas para pacientes que estão sob risco.
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