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Com a diminuição do número de infecções, internações e mortes, bem como o avanço da vacinação, diversos países e estados brasileiros têm retirado a obrigatoriedade do uso de máscaras nas últimas semanas, tanto em ambientes abertos quanto fechados. Será que é o momento para isso? Será que já podemos deixar de usar máscara com segurança?
Especialistas ao redor do mundo dizem que não, e alertam para que, principalmente idosos e imunossuprimidos, entre outros grupos de risco, mantenham o uso de máscaras. Por que?
O uso de máscaras na prevenção do COVID
O uso de máscaras se mostrou muito eficaz para evitar a transmissão da COVID-19 em todo o mundo. Isso porque a COVID é transmitida por gotículas, expelidas por pessoas infectadas ao tossir, espirrar ou até mesmo falar.
As máscaras são uma medida de proteção para você mesmo e para as pessoas ao seu redor, porque funcionam como uma barreira física, impedindo a liberação dessas gotículas contaminadas com vírus no ar, evitando que outras pessoas no mesmo ambiente se infectem.
Por que usar máscara mesmo vacinado?
A vacina diminui a chance de que um infectado evolua para casos graves com necessidade de internação e morte. Mas não impede a transmissão do COVID!
Sendo assim, você, mesmo vacinado, pode acabar se infectando e desenvolvendo um quadro mais grave ou transmitindo a doença para indivíduos ainda não vacinados, como crianças menores de 5 anos ou pessoas com contraindicação à vacina, como imunossuprimidos.
Outro agravante no Brasil é que não temos disponíveis as drogas já disponibilizadas em outros países com eficácia comprovada contra a COVID.
Além disso, é importante lembrar que mesmo casos leves podem ter sequelas que duram vários meses, como cefaleia, fadiga, dispneia e déficit de memória.
Vírus são sequências de material genético presentes em uma cápsula de proteína. Para se replicar, precisam encontrar um hospedeiro. O vírus se liga às células do organismo do hospedeiro, injetando seu material genético ali, para que a célula faça a replicação de seu DNA ou RNA.
Porém, quando uma nova cópia de matéria genético é feita, podem ocorrer mutações, que são como erros de digitação na sequência do código daquele material genético.
A maioria das mutações é prejudicial aos vírus, limitando sua propagação. Outras mutações são neutras e não afetam a eficácia de reprodução de um vírus ou célula. Entretanto, algumas mutações são úteis para o vírus, podendo, por exemplo, fortalecê-lo para que passe de um hospedeiro a outro – como o que ocorreu com a variante B.1.1.7, 50% mais transmissível, identificada pela primeira vez no Reino Unido.
Os vírus de RNA, como o SARS-CoV-2, são mais suscetíveis a altas taxas de mutação, pois seus genes são copiados pela RNA polimerase, que não é capaz de revisar e corrigir suas cópias de material genético (somente a DNA polimerase é capaz de fazer isso).
Assim, quanto mais o vírus se espalha, mais oportunidades ele tem de se replicar, e, consequentemente, mais mutações ele sofrerá e mais ele evoluirá. Dessa forma, tirar as máscaras em um momento com baixas taxas de internações e mortes, mas com altas taxas de novos casos é um risco para o surgimento de cada vez mais variantes.
Desde o início da pandemia, já se falou em muitas novas variantes, mas as vacinas disponíveis mostraram-se eficazes na prevenção da COVID grave para todas as variantes. Entretanto, não temos como prever se em algum momento pode surgir uma nova variante que drible as vacinas.
Os números atuais no Brasil
A COVID-19 já matou, no Brasil, mais de 650.000 pessoas. E atualmente, mata mais de 300 pessoas por dia no país.
A vacinação avançou muito, com mais de 80% da população com a 1ª dose e mais de 70% com a 2ª, mas menos da metade das pessoas com menos de 50 anos tomaram a 3ª dose. Além disso, crianças menores de 5 anos ainda não puderam tomar nenhuma dose da vacina.
Como está o resto do mundo?
Alemanha, Áustria, Reino Unido, China, Coreia do Sul… muitos países da Europa e da Ásia estão enfrentando um aumento no número de casos de COVID-19. Essa subida acontece após uma queda nas infecções pelo coronavírus, registrada entre o final de janeiro e o início de março – nesse período, esses países deram fim à maioria das medidas preventivas, como o uso de máscaras em lugares fechados.
Alguns governos chegaram a decretar o fim da pandemia e anunciaram que a COVID passaria a ser encarada como uma endemia.
Esse aumento de casos em alguns países acontece em um momento em que a BA.2, uma variante da ômicron (BA.1) começa a se tornar dominante em muitos lugares. A BA.2 tem uma capacidade de transmissão 1,5 vez maior em comparação com a BA.1, que já era um dos vírus mais contagiosos que surgiram no último século.
Portugal, que está com uma alta cobertura vacinal e teve mais casos de infecção prévia, não está vivendo esse aumento de casos agora.
Conclusão
Em ambientes abertos e bem ventilados, uma pessoa sem máscara tem um risco muito menor de inalar uma quantidade de vírus capaz de causar doença. Por isso, desobrigar o uso de máscara em locais abertos é uma medida plausível em cidades com alta cobertura vacinal.
Mas em ambientes fechados, as partículas se acumulam no ar. Assim, nesses lugares, uma pessoa sem máscara tem um risco maior de adquirir a doença, já que ela pode inalar uma quantidade maior de vírus. Por isso, abandonar o uso de máscara em locais fechados é, no momento, uma medida precipitada.
Não devemos encarar as máscaras como algo ruim e limitador, que restringe nossa liberdade. Elas devem ser incorporadas em algumas situações como um equipamento de segurança, como o uso do cinto de segurança. Isso não significa que vamos ter que usar máscara para sempre, mas pelo menos até que realmente tenhamos segurança em abandonar seu uso.
Ao que tudo indica, já passamos pela pior fase da pandemia, mas ela ainda não acabou! É necessário cautela e responsabilidade, para não jogarmos fora todo o cuidado que tivemos nesses 2 anos de pandemia.
Referências
Uol, BBC, Ministério da Saúde e National Geographic Brasil
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.