Coronavírus

Covid-19: Sistema imune é nosso front de guerra| Colunistas

Covid-19: Sistema imune é nosso front de guerra| Colunistas

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Imagem de perfil de Gabriela Sartori

Vírus são parasitas obrigatórios, partículas feitas de proteínas, acelulares e que, portanto, dependem de uma célula para se replicar. Do latim, vírus significa fluido venenoso ou toxina. Em meio à pandemia atual de coronavírus (Covid-19), essa definição realmente é a mais sensata.

A ciência, ainda hoje, encontra dificuldades em lidar com esses parasitas. Por serem acelulares, a polêmica do “é vivo ou não?” ainda ronda a mente dos pesquisadores e justamente por esse motivo, tratamentos específicos e efetivos são muito difíceis de desenvolver.  As maiores armas hoje existentes são as vacinas. Motivo? Vacina é estímulo imune!

A defesa imunitária contra os vírus é feita, de forma muito simplificada, em conjunto pela imunidade inata (nossa primeira linha de defesa) e imunidade adaptativa. Primeiramente, interferons tipo I (IFN-α e IFN-β), macrófagos e células NK fazem reconhecimento e apresentação do antígeno (no caso, o vírus). Dessa forma, é como se as células de defesa inata levantassem uma bandeira dizendo “atenção, temos invasores.” As células NK, natural killers, são citotóxicas e têm o poder de matar células infectadas. Os interferons atuam ativando macrófagos e aumentando sua capacidade microbicida.  A partir desse momento, a imunidade adaptativa é recrutada. O Linfócito TCD8+, por meio do MHC de classe I, reconhecerá o vírus e fará lise das células infectadas. O MHC é justamente a “bandeirinha” que sinaliza perigo para célula infectada. O Linfócito TCD4+ auxiliará o Linfócito B na fabricação de anticorpos. Os anticorpos, então, se ligarão ao vírus quando esses estiverem fora da célula, e neutralizarão sua atividade, congelando a infecção. Além disso, os anticorpos podem se ligar às células já infectadas e reforçar a ação das células NK. Que trabalho maravilhoso, não?

Então por que o Coronavírus e outros inúmeros vírus conseguem causar doença grave ao ponto de não conseguirmos sobreviver? A resposta é: tempo. Para a produção de anticorpos, as células de defesa levam algum tempo, tempo esse que às vezes é maior do que a velocidade de replicação do microorganismo.

Especificamente relativo ao Covid-19, o vírus tem local de atuação muito delicado e nobre:  Pneumócitos tipo 2 e células epiteliais (há exceções, com manifestação em TGI). São locais onde pouco processo inflamatório pode resultar em uma clínica exuberante e potencialmente fatal, devido à síndrome da angústia respiratória, insuficiência respiratória. O mais alarmante é que o quadro clínico pode não ser agravado exclusivamente pela toxicidade do vírus, mas por toda hipersensibilidade causada pelo processo inflamatório imunitário.

Agora com o mecanismo de defesa contra vírus explicado, fica fácil entender o motivo pelo qual as vacinas são as armas mais poderosas contra esse tipo de infecção. As vacinas são imunobiológicos, feitas com vírus (ou outros microorganismos) atenuados ou inativados. O objetivo delas é justamente inocular o antígeno no organismo numa proporção INCAPAZ de causar doença, mas capaz de estimular as células a fabricarem anticorpos e células de memória para defesa contra aquele agente. Assim, é como se as armas já estivessem estocadas: quando a guerra (infecção) chegar, é só atirar (liberar anticorpos). O problema do tempo de produção dos anticorpos está solucionado. Quanto mais rápida a resposta à infecção, menor a capacidade do vírus de causar estragos maiores ou até a morte.

 E por que a Pandemia se alastra cada vez mais e ainda não temos vacina disponível? Porque a ciência também depende de tempo, investimento financeiro, voluntários e muitos, mas muitos testes e muitas, mas muitas etapas para concluir uma vacina que não adoeça as pessoas e que seja eficiente contra o vírus. Muita gente pensa que se trata de mágica, principalmente os leigos. Mas, incrivelmente, a ciência e a tecnologia têm trabalhado muito bem juntas e a rapidez dos avanços tem sido assustadora (no bom sentido da palavra).

Enquanto a ciência trabalha incansavelmente no desenvolvimento da vacina contra o Covid-19, nós podemos tomar atitudes (além do distanciamento social e da higiene) a fim de nos mantermos saudáveis e, sobretudo, ajudar nosso sistema imune. A primeira atitude é manter a calma: O cortisol (hormônio do estresse) tem ação imunodepressora e por isso, quanto mais estressados estamos, mais vulneráveis a infecções. A segunda atitude é ter boas noites de sono: ainda relacionado ao cortisol, durante o sono, o hormônio atinge os níveis mais baixos de concentração. Além disso, neste período, nosso cérebro elimina informações desnecessárias e excessivas, ação essencial nos dias de hoje em que, a quantidade de informações nos deixa cada vez mais ansiosos e angustiados.

Em terceiro lugar, mas não menos importante: Prezar por uma alimentação de qualidade, que inclua vitaminas A, C, D, B, selênio, Ferro, Zinco, entre outros. Alguns desses micronutrientes têm, comprovadamente, ações antimicrobianas e, além disso, cada um deles possui uma função na fabricação das células sanguíneas. Portanto, alimentar-se bem é fornecer matéria prima para a medula (local de hematopoese) e para todo o resto do organismo. Os alimentos são a melhor fonte de vitaminas. Porém, gestantes, atletas, idosos e imunocomprometidos e portadores de doenças como como diabetes e câncer podem fazer uso de suplementação, além das boas práticas alimentares. O que não podemos fazer é nos deixar levar pela pressão da indústria farmacêutica que, muitas vezes, aproveita da vulnerabilidade e da ansiedade em tempos de pandemia para vender multivitamínicos caríssimos e que não trarão benefício algum.   

E sobretudo: hidratar-se. A água compõe a maior parte da nossa estrutura (quase 70%) e é necessária para o funcionamento de todo o metabolismo. Mucosas ressecadas favorecem a entrada de vírus e bactérias e a falta de água sobrecarrega coração e rins, faz a circulação ficar lentificada e desfavorece a resposta imunológica. 

Por fim, cabe uma reflexão: a Pandemia do Covid-19 é um alerta à mudança de hábitos, um aviso de que a saúde e a qualidade de vida são muito mais importantes e prioritárias do que qualquer outro aspecto da vida. É desesperador perceber o quanto somos tão fortes e tão frágeis ao mesmo tempo e que, acima de tudo, por mais que não percebamos, estamos todos conectados, de uma maneira ou outra, pela casa comum, o planeta Terra.

Confira o vídeo:


O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.