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A área da cardiologia engloba o estudo de uma variedade de patologias. Uma delas, a febre reumática, é uma condição acompanhada de faringoamigdalite não supurativa causada pelo estreptococo β-hemolítico do grupo A, que ocorre a partir da geração de uma resposta autoimune tardia que, a princípio, seria destinada ao combate do agente etiológico, mas acaba se direcionando às estruturas do próprio corpo, causando efeitos deletérios.
Até o momento, o diagnóstico dessa patologia é majoritariamente clínico, sendo a aplicação dos critérios de Jones considerada o padrão-ouro.
A última atualização desses critérios pela American Heart Association (AHA) foi em 2015. A novidade dessa nova revisão foi a recomendação do uso dos critérios de Jones não somente para diagnosticar episódios iniciais, mas também para diagnosticar episódios recorrentes da doença.
Os critérios de Jones se dividem em maiores e menores, distinção esta que se baseia na especificidade desses achados.
1. Critérios maiores de Jones
Consistem nos achados mais específicos da doença, os quais incluem, de acordo com maior prevalência: poliartrite, cardite, coreia de Sydenham, nódulos subcutâneos e eritema marginado.
Poliartrite/artrite
Caracteriza-se por um acometimento migratório, incapacitante e assimétrico das articulações, principalmente as maiores (joelhos, tornozelos, cotovelos, punhos e quadril). Geralmente é autolimitada e é normal que não deixe sequelas.
Cardite
Consiste na manifestação mais preocupante da febre reumática, pois é a única entre as demais que normalmente gera sequelas e que pode levar o paciente ao óbito durante a fase aguda. O achado está associado ao acometimento de um dos folhetos cardíacos (pericárdio, miocárdio ou endocárdio), principalmente o endocárdio. Apesar disso, são os acometimentos das válvulas cardíacas que determinam o quadro clínico e prognóstico do paciente.
No primeiro episódio de febre reumática, três sopros podem indicar a presença da doença: sopro sistólico de regurgitação mitral, sopro diastólico de Carey Coombs e sopro diastólico de regurgitação aórtica.
Coreia de Sydenham
Esse achado corresponde a uma desordem neurológica que age insidiosamente, ocasionando movimentos involuntários e abruptos, labilidade emocional e fraqueza muscular. Esses episódios são exacerbados durantes atividades estressantes ou que demandem esforço e são atenuados durante situações de calmaria (ex.: sono). É mais frequente em crianças e adolescentes do sexo feminino.
Nódulos subcutâneos
Os nódulos subcutâneos caracterizam-se por serem pequenos, firmes, arredondados e indolores, sem características inflamatórias, com tendência a surgir próximo a proeminências e tendões extensores. São manifestações raras e de aparecimento tardio.
Eritema marginado
Este achado consiste em lesões eritematosas indolores, com borda corada e centro claro, em geral não pruriginosas (isto é, não causam coceira). São transitórias e acometem geralmente membros e tronco, sem atingir a face.
2. Critérios menores de Jones
Os critérios menores incluem características clínicas e laboratoriais com menor especificidade para febre reumática. Entretanto, quando avaliados juntamente aos critérios maiores e à evidência de infecção estreptocócica, permitem o diagnóstico da doença. São eles:
- Febre: ocorre em quase todos os surtos e caracteriza-se por temperatura ≥ 38,5°C;
- Artralgia: caracteriza-se pela ausência de capacidade funcional das articulações;
- Elevação de reagentes de fase aguda: proteína C reativa (PCR) ≥ 3mg/dL e/ou velocidade de hemossedimentação (VHS) ≥ 60mm na 1ª hora;
- Intervalo PR prolongado: considera-se aumentado em crianças quando for > 0,18s e em adolescente/adultos quando for > 0,20s.
Vale destacar que, se o paciente apresentar tanto artrite quando artralgia, contabiliza-se somente a artrite (critério maior). Ademais, em caso de elevação tanto de PCR quanto de VHS, contabiliza-se somente 1 critério menor.
3. Aplicação dos critérios de Jones
A aplicação dos critérios de Jones para o diagnóstico de febre reumática deve levar em consideração se o paciente já teve ou não episódios da doença, para que saibamos se estamos tentando diagnosticar um surto inicial ou reincidente.
Diagnóstico de um surto inicial
Considera-se uma alta probabilidade de que o paciente esteja com um surto inicial de FR quando há evidência de infecção estreptocócica prévia (elevação dos títulos da antiestreptolisina, o ASLO, constitui-se como um forte indicador de infecção estreptocócica) e quando forem preenchidos:
- 2 critérios maiores;
- Ou 1 critério maior e 2 menores.
Por exemplo: para um paciente sem história prévia de FR, com elevação dos títulos da ASLO (evidência de infecção estreptocócica prévia) e que apresenta artrite em punho, temperatura corporal igual a 37,5°C, VHS aumentado e intervalo PR prolongado, o diagnóstico é dado pelo preenchimento de 1 critério maior e 2 critérios menores.
Diagnóstico de recidiva de febre reumática
Para esses pacientes, os critérios mínimos para diagnosticar são:
- 2 critérios maiores;
- Ou 1 critério maior e 2 menores;
- Ou 3 critérios menores.
4. Conclusão
Os critérios de Jones são divididos em maiores (artrite, cardite, Coreia de Sydenham, nódulos subcutâneos e eritema marginado) e menores (febre, artralgia, elevação dos reagentes de fase aguda e intervalo PR prolongado).
Para diagnosticar tanto primeiro surto quanto surto reincidente, contabiliza-se 3 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores. No último caso, pode-se fechar o diagnóstico se 3 critérios menores forem constatados.
Além disso, o diagnóstico com o uso dos critérios de Jones é reforçado em caso de evidência de infecção estreptocócica prévia.
Autor: Danilo José Silva Moreira
Instagram: @dani_m.96
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
