O dedo em martelo, também conhecido como mallet-finger ou baseball finger, é uma deformidade em flexão da falange distal nos dedos ocasionada por uma lesão/ruptura do tendão extensor terminal, formado pela união das duas bandas laterais, com inserção no lábio dorsal da base da falange distal. Pode ser causado também por uma fratura intrarreticular do lábio dorsal da falange distal. [1][2][6]
As lesões do mecanismo extensor são bastante comuns no traumatismo de mão e ocorrem frequentemente em acidentes cotidianos, como bater a ponta dos dedos com força contra alguma superfície ou um choque durante a prática esportiva. A lesões acometem principalmente o terceiro, quarto e quinto dedo da mão dominante. [1][2][4]
No artigo “Osteossíntese do dedo em martelo com placa e parafuso: avaliação de 25 pacientes”, publicado pela Revista Brasileira de Ortopedia, em junho de 2016, durante avaliação dos pacientes acometidos pela lesão e submetidos a tratamento cirúrgico, entre maio de 2008 e dezembro de 2012, percebeu-se que 68% apresentaram a lesão em mão dominante e, do total de casos, 36% tiveram o acometimento do 4º quirodáctilo, 36% do 3º quirodáctilo, 16% do 5º quirodáctilo e 12% do 2º quirodáctilo. [5]
Nos EUA, estima-se que a incidência desta lesão esteja na faixa de 10/100.000 por ano, e acometa principalmente aos homens na proporção de 3:2 em relação às mulheres. [4]
Sintomas
O principal sintoma é a queda da ponta do dedo, que não pode ser estendida sem a ajuda da outra mão. Pode haver edema, hematoma e mudança na coloração da junta do dedo, fator mais comumente associado às fraturas, mas, na maioria dos casos, não é referida muita dor no local do trauma. [1][7]
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado, principalmente, com a observação da falange distal do dedo caída durante o exame clínico. Para determinar o grau da lesão e se há fratura associada, o médico poderá solicitar exames de raio-X (RX), ressonância magnética (RM) e ultrassonografia (USG). Com o RX será possível observar a ruptura do tendão, qualquer fratura óssea e se o osso está desalinhado. Exames como RM e USG são mais sensíveis e utilizados em alguns casos para estabelecer o diagnóstico e o tratamento mais adequado. [8]
Classificação
Um dos métodos mais utilizados para determinar o grau de gravidade do dedo em martelo e o tipo de tratamento (conservador ou cirúrgico) é a classificação de Albertoni.
Figura 1. Classificação de Albertoni para o Dedo em Martelo

Tratamento
O tratamento será estabelecido de acordo com a gravidade do caso. Casos mais leves podem ser tratados de forma conservadora, e casos mais graves necessitam de intervenção cirúrgica para correção.
O tratamento conservador é indicado quando o fragmento ósseo é pequeno e com pouco deslocamento e deve ser instituído para as seguintes fraturas (de acordo com a classificação de Albertoni):
- A1. Lesão tendínea pura, com queda da falange distal < 30°;
- B1. Lesão com arrancamento ósseo e queda da falange distal < 30°;
- C1. Lesão com fratura da base da falange distal com a articulação interfalangiana distal estável;
- D1. Deslocamento epifisário da falange distal.
Em casos dessa natureza, o paciente permanece com o dedo imobilizado por um intervalo de 6 a 8 semanas. É importante que, durante este período, a tala de imobilização não seja retirada sem indicação médica, o que pode ocasionar o rompimento da cicatriz em formação. A imobilização deve ser realizada o mais rápido possível, para que não evolua para uma lesão crônica. [9][10][11]
O tratamento cirúrgico ocorre quando o fragmento ósseo é grande e com um deslocamento considerável e deve ser instituído para as seguintes fraturas (de acordo com a classificação de Albertoni):
- A2. Lesão tendínea pura com queda da falange distal em 30°;
- B2. Lesão com arrancamento ósseo e queda da falange distal em 30°;
- C2. Lesão com fratura da base da falange distal com a articulação interfalangiana instável.
O procedimento pode ser realizado por cirurgia aberta ou por punção de agulha. Para fixação e manutenção da posição das pontas dos dedos, até que o tendão seja curado, podem ser utilizados pinos, fios metálicos (como o fio de Kirschner), parafusos e placas. Em casos crônicos, existe a indicação da técnica de Brooks-Graner, que consiste na remoção em bloco de uma cunha fusiforme dorsal de 1-2mm de base de pele e tecido cicatricial. Em seguida, é inserido um fio de Kirschner para manutenção da extensão e realizada uma sutura em bloco. A imobilização deve ser mantida de 6 a 8 semanas, quando o fio é retirado. [4][8][9][11]
Após o período de imobilização, inicia-se a fase de reabilitação, que consiste em exercícios ativos de amplitude de movimento, com o objetivo de reestabelecer a amplitude normal. Caso ocorra perda significativa na flexão ativa, que não retorna com a reabilitação, após duas semanas pode ser iniciada a flexão passiva da articulação interfalangiana distal. [10]
Prognóstico
Em sua grande maioria, os casos de lesão do dedo de martelo possuem resultados muito satisfatórios. Casos cirúrgicos e tratados tardiamente podem evoluir com alguma perda funcional parcial e discreta deformidade em extensão, mas com visível ganho funcional em relação à deformidade inicial.
O dedo em martelo é uma lesão relativamente comum, de fácil diagnóstico e de bom prognóstico se tratada adequadamente e com rapidez, portanto, caso perceba que não consegue endireitar a ponta dos dedos após um forte impacto, procure ajuda especializada e siga todas a orientações de imobilização.
Autor: Diogo Valvano de Medeiros