Coronavírus

Demonstração de imunidade para o novo coronavírus em humanos

Demonstração de imunidade para o novo coronavírus em humanos

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Pela primeira vez, cientistas conseguiram demonstrar a imunidade para o novo coronavírus em seres humanos. Por não serem possíveis experimentos em laboratórios diante da gravidade da doença e falta de um tratamento, a “experiência” ocorreu de forma inusitada: em um barco pesqueiro na cidade de Seattle, Estados Unidos.

Em abril, 120 dos 122 tripulantes do barco American Dynasty foram testados por PCR, para saber se estavam infectados pela Covid-19, e também por sorologia, para identificar se já tinham contraído o vírus anteriormente.

Como resultado, 120 testaram negativo no PCR e 114 na sorologia. Portanto, os testes iniciais concluíram que os marinheiros estavam livres do vírus e seis dos tripulantes já haviam sido infectados, tinham se curado e possuíam anticorpos contra o vírus – não se sabe o motivo de dois tripulantes não serem testados, mas isso “permitiu a descoberta”.

Passados 18 dias em alto mar, a tripulação apresentou sintomas da Covid-19 e uma pessoa precisou ser hospitalizada, fazendo o barco retornar para a costa. Com isso, novos testes demonstraram que 104 das 122 pessoas a bordo foram infectadas pelo vírus SARS-CoV-2. Estudos mostraram ainda que todos foram contaminados por uma única cepa de vírus.

Mas, o que ocorreu com os seis marinheiros que possuíam anticorpos no momento do embarque? 

Três deles não foram infectados e os três outros foram infectados e testaram positivo para o PCR, após voltarem ao porto. Com isso, os cientistas da Universidade de Washington, que publicou um estudo preliminar sobre o caso do American Dynasty investigaram a diferença entre “os dois grupos” e chegaram ao seguinte resultado:

  • Os não-infectados apresentaram níveis muito altos de anticorpos no teste da Abbott antes do embarque. Já entre os infectados, dois apresentavam níveis limítrofes de anticorpos e o outro um nível baixo.

Os pesquisadores não concluíram se as três pessoas que testaram positivo para o PCR na volta ao porto se reinfectaram na viagem ou ainda se o resultado do teste sorológico inicial foi falso positivo. 

Entretanto, os cientistas decidiram analisar e caracterizar melhor os anticorpos presentes nessas seis pessoas. 

Então, eles descobriram que as três pessoas não-infectadas possuíam anticorpos contra o que chamam de lança (aquele chifre que o vírus possui e se liga à célula, permitindo a sua penetração). Informação comprovada em dois testes sorológicos: um contra a “spike protein” (S) – responsável por formar toda a lança – e outro contra o “receptor binding domain” (RBD) – a ponta da lança que se liga à célula.

Por fim, os cientistas buscaram confirmar que os anticorpos eram os responsáveis pela imunidade obtida e utilizaram mais dois ensaios. 

Por mais uma vez o resultado confirmou que os marinheiros não se infectaram por conta de anticorpos que bloqueavam a entrada do vírus na célula e aqueles que foram infectados não possuíam os mesmos. 

Então, os pesquisadores concluíram que as pessoas que desenvolvem anticorpos contra a “spike protein” (S) e, ainda mais especificamente, para a ponta de S, chamada de RBD, possuem imunidade ao vírus.

O que dizem outros cientistas sobre a imunidade ao SARs-Cov-2?

A comunidade científica se mostrou otimista com os resultados obtidos na pesquisa. Para o virologista Florian Krammer do hospital Mount Sinai, Nova York, em entrevista ao El País, se trata da “primeira prova do efeito protetor de infecções prévias”.

Entretanto Del Val, do Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa, em Madri, deixou alguns questionamentos no ar. “Nos 22 milhões de casos confirmados no mundo, haverá alguns reexpostos à infecção. Entretanto, não se descrevem reinfecções mais graves ou nem sequer tão graves quanto as primeiras. São benignas ou passam despercebidas. A imunidade é boa, protege. Por quanto tempo? Não sabemos”.

Já para a virologista Isabel Sola, umas das diretoras do desenvolvimento de uma vacina experimental contra o coronavírus no Centro Nacional de Biotecnologia de Madri, vale destacar que “é a primeira vez que se observa em humanos uma associação entre a presença de anticorpos neutralizantes no sangue, como resultado de uma infecção prévia, e o amparo frente a uma nova infecção”.

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