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Apesar da COVID-19 se tratar de uma doença relativamente nova, muitos médicos consideram-na principalmente do domínio da medicina intensiva. As complicações da COVID-19, como hipóxia, síndrome respiratória aguda grave, insuficiência renal, miocardite e trombose são condições que intensivista lida com frequência em sua prática diária.
Desafios da COVID-19
Muitos desafios se apresentaram aos intensivistas durante a pandemia. Por exemplo: para cada manifestação da COVID-19, havia dúvida se o tratamento padrão seria a melhor escolha; o volume enorme de pacientes desafiou equipe e recursos necessários, e o número de EPI’s tornou-se limitado.
Diversos outros aspectos inusitados se apresentaram na doença causada pelo SARS-CoV-2, que não eram observados comumente em outras doenças infecciosas.
O amplo espectro de sintomas, por exemplo, onde o infectado pode apresentar-se completamente assintomático, ou com poucos sintomas num curso benigno da doença, até a apresentação letal, com sintomas graves que progridem para o óbito.
Uma outra característica desafiadora: os indivíduos infectados se tornavam mais capazes de transmitir a doença antes de desenvolverem sintomas, ou logo após o início dos mesmos. Se apenas os sintomáticos transmitissem a doença, se tornaria mais fácil controlar a rápida transmissão do vírus e, consequentemente, o crescimento da pandemia.
A falta de evidências disponíveis
O cuidado que precisou ser fornecido aos pacientes foi ainda complicado pela falta de evidências robustas sobre qual o melhor tratamento. Estudos randomizados e controlados são os mais adequados para o estabelecimento da melhor terapêutica.
Porém, estes levam tempo para serem realizados. Os estudos observacionais podem ser feitos de forma mais rápida, todavia, mesmo aqueles realizados com o maior rigor, padecem de evidência forte por limitações próprias da metodologia, que não pode eliminar fatores confundidores e vieses.
O uso de corticosteroides para tratamento da COVID-19 foi um exemplo desafiador. Estudos observacionais apontaram, inicialmente, benefício do uso da droga, com redução da mortalidade.
Mas os achados poderiam estar errados, já que um grande número de ensaios não havia encontrado benefício do uso da droga em pacientes com doença respiratória aguda.
O importante estudo RECOVERY mostrou depois que havia sim efeito protetor dos corticosteroides na COVID-19, mas somente naqueles pacientes que precisavam de ventilação mecânica ou suporte de oxigênio, não mostrando benefícios do uso nos demais pacientes.
A inovação no uso da posição prona na medicina intensiva durante a COVID-19
Dados posteriores mostraram maior taxas de mortalidade naqueles pacientes que requeriam ventilação mecânica. Os esforços se voltaram, dessa maneira, a evitar a progressão para intubação dos pacientes até o limite possível.
Uma das estratégias utilizadas foi a técnica da pronação, já utilizada como terapia adjuvante para pacientes intubados com síndrome respiratória aguda. Os médicos começaram então a usar a posição prona para pacientes que não estavam ainda em ventilação mecânica.
Estudos posteriores mostraram eficácia da técnica, com melhora da saturação de oxigênio após 1 hora de pronação, e menor probabilidade de requerer intubação orotraqueal para estes pacientes.
O aumento da demanda por intensivistas na pandemia
A pandemia também trouxe o desafio do aumento repentino da demanda de cuidados intensivos, o que levou vários hospitais a adotarem estratégias de redistribuição de equipe.
A profissão médica também demonstrou, em todo o mundo, espírito de serviço ao interesse público, e muitos médicos não praticantes da medicina intensiva passaram a atuar na área, quando a demanda excedeu o número de intensivistas.
Conclusão
A COVID-19 trouxe consigo muitos desafios à área da medicina intensiva, mas também para as demais áreas. O crescimento do conhecimento sobre a doença tem trazido à tona a importância não só do tratamento correto, mas também da importância do serviço público e do uso racional do mesmo.
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