Endocrinologia

Desenvolvimento motor grosseiro: a importância no acompanhamento e na identificação precoce | Colunistas

Desenvolvimento motor grosseiro: a importância no acompanhamento e na identificação precoce | Colunistas

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O que é desenvolvimento infantil?

O desenvolvimento infantil é o processo de aprendizado que compreende alguns domínios de função, como as habilidades motoras, cognitivas, sociais e de linguagem, na qual estão todos interligados.

Desenvolvimento motor grosseiro

O desenvolvimento motor grosseiro refere-se às habilidades motoras que a criança passa seguindo uma regularidade esperada em cada fase, existindo um tempo máximo para cada situação ocorrer, podendo variar de criança para criança. Caso essas aptidões não sejam devidamente estimuladas no período adequado, pode levar a um atraso no desenvolvimento. Na primeira infância, que engloba crianças entre zero e cinco anos, é a fase na qual a criança recebe estímulos diversos do ambiente e o desenvolvimento das habilidades motoras ocorre rapidamente.

Como é feita a avaliação do desenvolvimento motor grosseiro?

Desde o nascimento, nas primeiras consultas com o pediatra, deve-se questionar à mãe ou ao cuidador da criança sobre fatores que estão relacionados com o desenvolvimento do bebê, fazer anamnese e exame físico completos e avaliar quanto aos marcos do desenvolvimento. É importante observar sobre o cuidado da mãe, se há ou não participação paterna e da rede de apoio.

 Além disso, é interessante extrair informações sobre fatores de risco associados ao desenvolvimento, como ausência de pré-natal, prematuridade, baixo peso ao nascer, casos de deficiência mental na família, violência doméstica, uso de drogas na gestação e depressão materna. Esses fatores podem interferir significativamente no desenvolvimento neuropsicomotor da criança.

No Brasil, a Caderneta de Saúde da Criança, do Ministério da Saúde, disponibiliza uma planilha para avaliação do desenvolvimento da criança até os três anos de idade, na qual contém os principais marcos do desenvolvimento, em cada fase, para facilitar o acompanhamento dos ganhos no desenvolvimento motor de acordo com o crescimento da criança.

Quais os principais marcos do desenvolvimento motor na criança e em que momento elas aparecem?

Vale lembrar que o desenvolvimento motor infantil vai ter início na vida uterina, que além do crescimento físico, vai acontecer a maturação neurológica, na qual possibilita a construção dessas habilidades.

Recém-nascido

O recém-nascido se apresenta com um padrão motor imaturo, significa que o bebê mantém um reflexo tônico cervical assimétrico, tem como posição predominante do tônus em flexão, hipotonia na musculatura paravertebral e movimentos reflexos que tendem a desaparecer com o passar dos meses.

Lactentes

Nos lactentes, o padrão motor predominante em flexão é substituído pela posição em extensão, e ocorre a alternância entre flexão e extensão dos membros.

É importante lembrar que o desenvolvimento neuropsicomotor da criança ocorre na direção crânio caudal, com aquisições mais simples, e, posteriormente, as mais complexas. A primeira musculatura a ser controlada pelo bebe é a ocular, seguida do controle da cabeça e, posteriormente, controle do tronco.

Marcos do desenvolvimento motor grosseiro

1° mês:

– Os membros tendem a permanecer fletidos, por isso escutamos que os bebês ficam “encolhidinhos”;

– As mãos tendem a ficar fechadas.

2 meses:

– O bebê já consegue elevar a cabeça e ombros na posição prona; 

– Segue objetos com o olhar;

– Entre 2 e 4 meses, já conseguem ficar de bruços.

4 meses:

– Eles já desenvolvem a prega voluntária das mãos, isto é, ele consegue agarrar os objetos que são colocados em sua mão, trazendo para a linha média;

– Sustenta a cabeça;

– Senta com apoio;

– Entre 4 e 6 meses, conseguem mover a cabeça em direção a estímulos sonoros.

6 meses:

– Nessa fase, já é possível alcançar objetos ou brinquedos;

– Leva objetos à boca;

– Rolar;

– Entre 6 e 9 meses, a criança pode começar a engatinhar.

7 meses:

– Senta sem apoio.

9 meses:

– O bebê já consegue trocar objetos de uma mão para a outra;

– Adquire a pinça polegar-dedo;

– Entre 9 e 12 meses, o bebe já engatinha ou anda com apoio.

10 meses:

– A criança já consegue ficar em pé sem apoio.

12 meses:

– Bate palmas;

– Acena para outras pessoas;

– Adquire a pinça completa (polpa-polpa);

– Consegue segurar copo ou mamadeira;

– Entre 12 e 18 meses, o bebê já consegue andar sozinho.

15 meses:

– Anda sem apoio;

– Consegue fazer torre de três cubos.

18 meses:

– A criança consegue fazer o movimento de rabiscar;

– Andar para frente e para trás.

24 meses:

– Já possui a habilidade de correr;

– Consegue remover vestimentas;

– Sobe degraus baixos;

– Entre 2 e 3 anos, pode ocorrer o desfralde e controle do esfíncter da criança.

É importante ressaltar que essas etapas não devem ser seguidas como regra de maneira rigorosa. É comum ocorrer uma variação de idade entre o aparecimento de cada marco motor, vai depender de cada criança, e deve ser avaliada individualmente.

Quando pensar em atraso no desenvolvimento motor?

Caso haja todos os marcos presentes, havendo um ou mais fatores de risco, é considerado um desenvolvimento adequado com fator de risco. Nesses casos, é importante alertar à mãe, ou cuidador, sobre os sinais de alerta; caso haja algum, essa criança será reavaliada dentro de um período de 30 dias.

Se há ausência de um ou mais marcos, de acordo com a faixa etária da criança, trata-se de um alerta para o desenvolvimento. Sendo assim, o ideal é orientar a mãe, ou cuidador da criança, sobre como estimulá-la corretamente, e retornar com 30 dias para uma nova avaliação.

Casos como perímetro cefálico < -2 escore Z ou >+2 escore Z, ou se houver presença de 3 ou mais alterações fenotípicas, ou ainda, ausência de 2 ou mais marcos do desenvolvimento na faixa etária da criança, é possível se tratar de um atraso de desenvolvimento. Nesse caso, a conduta ideal é encaminhar essa criança para uma avaliação neuropsicomotora.

Sinais de alerta para atraso do desenvolvimento motor em crianças

É importante os pais ficarem atentos se os filhos estão demorando de atingir as etapas motoras nas idades esperadas. Alguns sinais a serem observados são:

– Se a criança não consegue sustentar a cabeça, quando fica muito “molinha” e não consegue movimentar;

– Se os braços e pernas estão “durinhos”, atrapalhando as tarefas de higiene e os movimentos de forma adequada;

– Se o bebê não consegue pegar brinquedos após o 6° mês de vida;

– Se o bebê não consegue se relacionar com pessoas ao longo do tempo, ou com o ambiente a sua volta.

Conclusão

Diante disso, é importante que os pais levem a criança para o acompanhamento com o pediatra para uma avaliação mais precisa e contínua. Para os profissionais de saúde e pediatras, é importante saber e identificar os marcos do desenvolvimento motor ideal para cada faixa etária, afim de acompanhar e prestar os seus devidos esclarecimentos, e, caso seja necessário, fazer o encaminhamento dessa criança para uma avaliação neuropsicomotora mais minuciosa com o fisioterapeuta.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências bibliográficas:

  1. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Cadernos de Atenção Básica, no 33. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
  2. Ministério da Saúde. Caderneta de Saúde da Criança: Menino. 12a edição. Brasília> 2019.
  3. NELSON. Tratado de Pediatria – Richard E. Behrman, Hal B. Jenson, Robert Kliegman. 20ª Edição. Elsevier. 2017
  4. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Pediatria do Crescimento e Desenvolvimento. Caderneta de Saúde da Criança Instrumento e Promoção do Desenvolvimento: como avaliar e intervir em crianças. 2017.

Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. Ed. Barueri, SP: Manole, 2017.