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Diagnóstico Laboratorial de Sífilis: VDRL e FTA-ABS | Colunistas

Diagnóstico Laboratorial de Sífilis: VDRL e FTA-ABS | Colunistas

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1. Conceitos básicos

A sífilis é uma treponematose causada pela infecção da bactéria Treponema pallidum. O treponema é um patógeno obrigatório dos seres humanos, ou seja, não está presente em nenhum animal nem em reservatório.

A sífilis apresenta transmissão sexual, sendo caracterizada como uma IST (infecção sexualmente transmissível), transmissão pelo contato sanguíneo e transmissão vertical entre a mãe e o filho, caracterizada pela sífilis congênita. O diagnóstico laboratorial dessa doença é realizado sempre em conjunto com a clínica do paciente, e pode ser feito por meio dos testes treponêmicos e não treponêmicos.

1.1 Apresentação clínica

A sífilis desde 2010 representa uma doença de notificação compulsória tanto para transmissão sexual como vertical, que pode apresentar-se com variações ao longo de seus estágios. É bastante comum na prática médica, a ocorrência de reinfecção de sífilis, uma vez que esta patologia não apresenta tratamento que garanta imunidade efetiva. Geralmente pacientes que apresentam sífilis também apresentam coinfecção por HIV, por isso é sempre importante no diagnóstico laboratorial de sífilis verificar o anti-HIV.

A sífilis primária geralmente é caracterizada pelo aparecimento de uma única lesão ulcerada genital, indolor que surge entre 4 a 6 semanas após a infecção. Essa lesão denominada de Cancro duro é altamente infecciosa, e surge no sítio de inoculação, ou seja, no local em que aconteceu a infecção.

A sífilis secundária começa a partir do momento em que o T. pallidum sai do sítio de inoculação e passa a se movimentar pela corrente sanguínea, isso é, disseminação hematogênica. As principais manifestações clínicas são lesões cutâneas do tipo exantema palmoplantar.

Outros sintomas incluem: febre, adenomegalia, eritema e alopécia, no qual podem aparecer de 1 a 6 meses após a infecção sexual. É considerado sífilis precoce quando a infecção ocorreu em menos de 2 anos, e sífilis tardia com a infecção mais que 2 anos.

Fonte: https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/dst/sifilis-fotos/

A sífilis latente corresponde ao período de inativação e assintomático da doença que pode durar anos. A sífilis pode não se manifestar novamente, entretanto pode ser interrompida apresentando sinais e sintomas da forma secundária e terciária. A sífilis terciária manifesta-se caso não ocorra o tratamento da patologia em fases mais baixa.

As manifestações clínicas podem aparecer em um período de 2 anos até décadas após a infecção. Os principais sinais e sintomas são: danos ao SNC (neurosífilis), lesões cutâneas na forma de goma cutânea também conhecida como goma sifilítica, lesões ósseas e danos cardiovasculares.

Fonte: https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/dst/sifilis-fotos/
Fonte: https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/dst/sifilis-fotos/

A sífilis congênita acontece quando há uma transmissão transplacentária conhecida também como transmissão vertical do Treponema pallidum. Essa transmissão ocorre caso a mãe seja portadora de sífilis com maior risco nas fases iniciais da doença. A triagem para Sífilis deve ser realizada no 1° e no 3° trimestre durante a gestação, e é muito importante evitar com que a transmissão vertical ocorra, pois essa está relacionada com altas chances de perda fetal e natimortos. Não ocorre transmissão pelo leite materno.

A sífilis em 60% dos RN pode apresentar poucos ou nenhum sintoma. Quando ela apresenta sintomas nos primeiros 2 anos de vida é denominada de Sífilis congênita precoce, após os 2 anos é conhecida como Sífilis congênita tardia.

Os sinais e sintomas da sífilis congênita precoce vão desde sinais inespecíficos até lesões ósseas. Os sinais inespecíficos incluem restrição do Crescimento Intra-Uterino (RCIU), hepatoesplenomegalia, lesões cutâneas como exantema maculopapular, pênfigo palmoplantar, fissuras radiadas periorificiais e rinite serossanguinolenta. Lesões ósseas como periostite, osteíte; osteocondrite metafisária e pseudoparalisia de Parrot, também podem estar presentes.

A sífilis congênita tardia costuma apenas aparecer caso o diagnóstico e tratamento de sífilis congênita não seja realizado. Os principais sintomas incluem alterações neurológicas como surdez, retardo mental e hidrocefalia; e lesões ósseas como fronte olímpica, nariz em sela e tíbia em lâmina de sabre. A Tríade de Hutchinson representa um achado semiológico característico de sífilis congênita tardia composto pelos dentes de Hutchinson, ceratite intersticial e lesão do VIII NC (vestibulococlear).

2.VDRL

O VDRL, junto com outros testes como o RPR, USR e TRUST, corresponde aos testes não treponêmicos, que são os primeiros a serem realizados quando o paciente se apresenta com suspeita de sífilis e, apesar de pouco específicos, são bastante sensíveis. Eles servem para a realização da triagem e também para o monitoramento da doença, uma vez que detectam a presença de anticorpos contra o T. pallidum no sangue.

O VDRL é o principal teste não treponêmico utilizado durante a clínica médica, no qual o resultado é passado por meio de frações denominadas de títulos. Como já visto, esse teste pode ser utilizado para ver a eficiência do esquema terapêutico, por meio da redução dos títulos, após o início do tratamento. Em caso de sífilis congênita, os títulos do recém-nascido (RN) são quatro vezes maiores que os títulos da mãe. O VDRL é dado como teste positivo quando o título é igual ou superior 1/16.

Algumas condições como gravidez, idade avançada, doenças infecciosas, doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES), e outros fatores, como idade avançada, podem dar falso positivo no VDRL. Sendo assim, é necessário que a suspeita seja investigada com um teste treponêmico, que é muito mais específico.

A cicatriz sorológica é um quadro de paciente em que representa um efeito no qual os títulos do VDRL dão valores menores que 1/4. Dessa forma, esse paciente não possui a doença em seu estado infeccioso, pois já foi tratado previamente.

3. FTA-ABS

O FTA-ABS, e outros testes como o TPHA e ELISA, são testes treponêmicos, específicos e qualitativos para a detecção do antígeno característico do Treponema pallidum. Esse método laboratorial serve para confirmar o diagnóstico de sífilis e, uma vez positivo, nunca mais volta a ser negativo, pois já houve a produção de IgG. Vale lembrar que IgM é a imunoglobulina relacionada a fases agudas da doença, enquanto que a IgG está mais ligada à cronicidade da doença.

Disponível em: Manual Técnico para o diagnóstico da Sífilis.

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