Ciclo Clínico

Divertículo de Meckel: tudo o que você precisa saber | Colunistas

Divertículo de Meckel: tudo o que você precisa saber | Colunistas

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Imagem de perfil de Allison Diego Bezerra

1. Definição

O divertículo de Meckel, também conhecido como divertículo ileal, é caracterizado como um divertículo verdadeiro, sendo uma anormalidade congênita, descrita como a mais comum do sistema gastrointestinal. Um divertículo, geralmente possui um formato parecido com um saco ou com uma bolsa que realiza uma evaginação para fora de uma estrutura tubular. Por sua vez, um divertículo verdadeiro é aquele que possui todas as camadas da estrutura a qual ele se projeta.

Durante o desenvolvimento intraútero, ocorre o ligamento entre a parte média do intestino e o saco vitelino, conhecido como ducto onfalomesentérico. Se por volta da quinta ou sexta semana do desenvolvimento, esse ducto não regredir é originado o divertículo de Meckel, possuindo todas as camadas do intestino, a mucosa, submucosa e muscular. Ademais, em alguns casos, também pode ser encontrado vestígios de tecidos ectópicos, no qual os principais são tecidos gástricos e pancreáticos. Em sua constituição, o divertículo de Meckel é formado por um conduto aberto na parte referente ao intestino e fechado acima do conduto aberto, continuando até a cicatriz umbilical.

A localização desse divertículo é relativamente variável, sendo encontrado na borda assimétrica do íleo, podendo variar de 40 a 180cm da válvula ileocecal. Contudo, na grande maioria dos casos, a distância é por volta de 90 a 100cm da válvula.

2. Epidemiologia 

As malformações que envolvem o sistema gastrointestinal respondem por cerca de 6% do total de anormalidades congênitas. Como já foi relatado, o divertículo de Meckel é a anormalidade congênita gastrointestinal mais comum, podendo ser encontrada em 1% a 4% da população geral. A sua prevalência é maior em pessoas do sexo masculino do que em mulheres.

É a causa mais comum de sangramentos no sistema gastrointestinal baixo nas crianças e possui maior incidência em neonatos que possuem outras anomalias congênitas, como a fenda palatina, pâncreas anular, atresia de esôfago e atresia anorretal.

3. Quadro clínico  

            A grande maioria dos pacientes com divertículo de Meckel são assintomáticos, e apenas 3 a 4% manifestam algum tipo de sintoma. Dos indivíduos que apresentam sintomatologia, a grande maioria possui menos de 5 anos de idade.

            Dentre as manifestações clínicas mais comuns estão a hemorragia digestiva, obstrução intestinal, diverticulite, apendicite aguda e perfuração. A manifestação mais prevalente é o sangramento gastrointestinal, acontecendo em cerca de 50% dos casos em pacientes com menos de 18 anos. Esse sangramento é ocasionado devido a presença de tecido ectópico, principalmente a mucosa gástrica. Isso acontece porque a presença da mucosa gástrica no divertículo é capaz de produzir e de liberar conteúdo ácido gástrico, que ao entrar em contato com o tecido intestinal do íleo adjacente, causa inicialmente, gastrite de caráter leve a moderado no tecido ectópico, que, se não tratada, pode acabar evoluindo para ulceração do tecido intestinal, causando o sangramento.

            Por sua vez, no público jovem e adulto, é comumente encontrado casos de obstrução intestinal, que pode possuir diversas causas. As principais são: a formação de uma hérnia interna pelo intestino delgado com o mesentério, por causa da permanência do conduto fibrótico remanescente do conduto onfalomesentérico e a presença de volvos ou estenoses decorrentes de processos de diverticulite crônica.

            Em todas essas sintomatologias é possível encontrar no paciente graus variados de distensão abdominal, não eliminação de fezes e gases, vômitos contendo bile, dor abdominal que normalmente é apresentada em cólica e de maneira progressiva, manifestando grande sensibilidade na região umbilical.

4. Diagnóstico                                  

                O diagnóstico do divertículo de Meckel é bastante difícil de ser realizado, tendo em vista que essa anomalia congênita na grande maioria dos casos é manifestada de maneira assintomática. Quando ocorre a manifestação de algum sintoma, normalmente é variado e inespecífico. Assim, geralmente, esse problema é diagnosticado de maneira incidental, por meio de exames ou processos cirúrgicos que são realizados para investigar outras patologias. Contudo, existem alguns exames que ajudam a chegar ao diagnóstico desta doença.

            A radiografia de abdome é um exame bastante realizado na prática médica atualmente, no entanto, possui pouca especificidade. Mas, em casos de inflamação, pode auxiliar a observar sinais de peritonite.

            A ultrassonografia é classificada como um bom método para descobrir possíveis complicações causadas pelo divertículo de Meckel, principalmente quando acontece processos inflamatórios e intussuscepção intestinal. Geralmente é indicada quando o paciente apresenta sangramento retal e sintomatologia sugestiva de abdome inflamatório.

            Atualmente, um dos melhores métodos de diagnóstico do divertículo de Meckel é a cintilografia por tecnésio 99. Esse exame é baseado na boa propriedade que o tecnésio 99 possui de realizar a marcação da mucosa gástrica, sendo captado e secretado pelas células dessa mucosa. A mucosa gástrica é um tecido ectópico que frequentemente é encontrado nessa anormalidade congênita, principalmente em pacientes pediátricos.

            A arteriografia também pode ser utilizada, auxiliando a diagnosticar os principais pontos que ocorre sangramento ou alguma anormalidade arterial, como a nutrição do divertículo por algum vaso. Contudo, uma vez que é caracterizado como um procedimento invasivo, só deve ser utilizada em casos selecionados. 

            A videolaparoscopia é um método muito útil de grande eficácia, servindo para inspeção da cavidade abdominal, podendo realizar também a solução do caso, realizando a diverticulectomia. No entanto, a realização da videolaparoscopia só é indicada quando o paciente não apresenta distensão intestinal. 

5. Tratamento

                O tratamento para o divertículo de Meckel é cirúrgico, podendo ser realizado cirurgia aberta ou laparoscópica, dependendo das complicações, manifestações clínicas e experiência do médico cirurgião, sendo realizada a diverticulectomia ou ressecção ileal.

            A diverticulectomia é realizada quando não ocorre acometimento das alças intestinais. Esse procedimento é indicado principalmente em casos que apresentam obstrução intestinal, onde o divertículo pode causar complicações, como hérnias, volvos e intussuscepção, diminuindo assim, as chances de recidiva.

            Por sua vez, a ressecção ileal é indicada em casos que são apresentados sangramento no divertículo, diverticulite e tumores. A ressecção ileal deve ser realizada nesses casos devido as grandes chances de acometimento das alças intestinais adjacentes à mucosa gástrica ectópica.

Autor: Allison Diego

Instagram: @allison_diego

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

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