Oftalmologia

Doenças oculares: tipos, principais sintomas, diagnóstico e manejo

Doenças oculares: tipos, principais sintomas, diagnóstico e manejo

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Entenda melhor como as doenças oculares podem ser manifestadas, suas classificações e como realizar um bom diagnóstico e abordagem. Bons estudos!

As doenças oculares são uma causa de prejuízo importante na qualidade de vida do paciente. Por isso, saber identificá-las é fundamental para o médico generalista, reconhecendo a necessidade de encaminhamento para o especialista.

Prevalência de doenças oculares em diferentes faixas etárias

As doenças oculares são muito variadas e, por isso, cada uma delas apresenta particularidades quanto à população mais afetada.

Em crianças e adolescentes, são comuns os erros refrativos, como a miopia, hipermetropia e astigmatismo. Com o uso de telas, essas condições vêm se agravado sensivelmente no consultório do especialista.

Ainda, a ambliopia, também conhecido como “olho preguiçoso” também é comum em crianças. Pelo contato com ambientes escolares, a conjuntivite passa a também ter relevância nessa faixa etária.

Nos adultos, miopia e a hipermetropia geralmente continuam a ser prevalentes. Somado à isso, principalmente por ambientes com ar condicionado e telas de computadores, a síndrome do olho seco também tem se tornado uma queixa comum.

Com o envelhecimento da população, doenças oculares relacionadas à idade têm maior prevalência. A catarata é uma das principais causas de perda visual em idosos e requer intervenção cirúrgica para restaurar a visão, sobre a qual falaremos melhor adiante.

O glaucoma também ganha espaço entre a população senil, caracterizada por danos progressivos ao nervo óptico, muitas vezes resultando em perda de visão periférica.

Catarata: doença ocular “da velhice”

A catarata é caracterizada pela opacidade da lente ocular, causando uma visão turva e distorcida. Trata-se de uma das doenças oculares mais prevalentes no mundo, muito comum na velhice, e uma importante causa de cegueira.

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Perda do reflexo vermelho, indicando uma catarata madura. Fonte: Cortesia de Deborah S Jacobs, MD.

A principal causa de catarata é o envelhecimento natural ocular. Por outro lado, ainda pode ser causada por lesões oculares. Algumas possíveis causas fora a velhice são:

  • Uso prolongado de medicamentos corticosteroides;
  • Exposição excessiva à radiação ultravioleta;
  • Tabagismo;
  • Doenças metabólicas (diabetes);
  • História familiar.

Os sintomas mais comuns é a visão opaca, turva e embaçada. Essa diminuição de acuidade visual piora especialmente à noite, à pouca luz.

Catarata - Dr. Gabriel Ferreira - Oftalmologista em Joinville
Exemplo de como seria enxergar com catarata.

Geralmente se desenvolve lentamente, e os sintomas podem piorar gradualmente com o tempo. Em estágios iniciais, pode ser possível corrigir a visão com óculos ou lentes de contato, mas, à medida que a catarata progride, a visão afetada pode tornar-se mais difícil de ser corrigida.

Como a catarata pode ser corrigida?

Diferente de outras doenças oculares que veremos, a única maneira de correção da catarata é pela abordagem cirúrgica.

A cirurgia de catarata é uma das mais realizadas no mundo, sendo considerada muito segura, eficaz e rápida. Durante o procedimento, o cristalino opaco é removido e substituído por uma lente artificial intraocular, que restabelece a visão clara.

Glaucoma: uma das doenças oculares mais comuns no Brasil e no mundo

O glaucoma é uma condição caracterizada por uma neuropatia óptica progressiva, que causa danos estruturais no nervo óptico e leva à diminuição da camada de fibras nervosas da retina (CFNR).

Essas alterações funcionais são irreversíveis e resultam em perda gradual do campo visual. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível, sendo responsável por aproximadamente 13% a 20% dos casos de cegueira em nível global. Apesar disso, é considerada uma doença subdiagnosticada.

Os fatores de risco para o glaucoma incluem:

  • História familiar positiva
  • Idade acima dos 40 anos;
  • Espessura corneana fina;
  • Alta miopia.

De maneira geral, o glaucoma se associa a um aumento da pressão intraocular. Cronicamente, essa pressão aumentada passa a danificar as fibras do nervo óptico prejudicando, inicialmente, a visão periférica.

Glaucoma de ângulo aberto

É o tipo mais comum de glaucoma.

Nesse caso, o fluido dentro do olho (humor aquoso) drena de forma inadequada, levando ao acúmulo gradual da pressão intraocular. A perda de visão costuma ser lenta e indolor, o que pode tornar difícil perceber o problema até que haja um dano significativo ao nervo óptico.

Apesar de termos esse conhecimento, a sua fisiopatologia exata ainda não é conhecida, mas acredita-se estar relacionada à diminuição do fluxo aquoso.

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Glaucoma de ângulo aberto. Fonte: Deborah S Jacobs, MD.

Glaucoma de ângulo fechado

Nesse caos, o ângulo entre a íris do olho e a córnea se fecha. Com isso, o humor aquoso é impedido de ser drenado corretamente.

Como resultado disso, o aumento da pressão intraocular (PIO) ocorre de forma repentina, exigindo tratamento imediato. Por essa razão, os sintomas são agudos, como náuseas e visão embaçada.

Manejo do paciente com glaucoma: como tratar essa doença ocular?

O objetivo do tratamento do glaucoma visa reduzir a pressão intraocular, impedindo a progressão da doença e cegueira do paciente. Existem muitos tipos de tratamento para o glaucoma, o que dependerá do que é apresentado pelo paciente.

Os colírios são a forma mais comum de tratamento. Funcionam reduzindo a pressão intraocular e aumentando a drenagem do fluído, ou mesmo diminuindo a produção de humor aquoso. Alguns exemplos são:

  • Betabloqueadores, como o Timolol (muito comum), Betaxolol e Levobunolol;
  • Agonistas alfa-adrenérgicos, como Apraclonidina e Brimonidina;
  • Análogos de prostaglandinas, como Latanoprosta.

Alguns medicamentos orais também podem ser utilizados, ajudando a reduzir a pressão intraocular, recomendados quando os colírios não são suficientes.

A cirurgia filtrante também passa a ser uma opção quando os tratamentos conservadores não são suficiente. Um exemplo de técnica é a trabeculectomia, em que é criada uma pequena abertura no olho para permitir a drenagem adequada do humor aquoso.

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Trabeculectomia. Fonte: Clínica Cohr Oftalmologia.

Retinopatia diabética e hipertensiva: comorbidade e doenças oculares

Embora a retinopatia diabética e hipertensiva sejam duas doenças distintas, ambas são resultados de complicações envolvendo importantes comorbidades: diabetes e hipertensão.

A retinopatia diabética é uma complicação ocular que ocorre em pessoas com diabetes mellitus. Cronicamente, o excesso de glicose sérica pode danificar os pequenos vasos sanguíneos da retina, causando a retinopatia diabética.

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Hemorragias retinianas, exsudatos lipídicos amarelos e manchas algodonosas esbranquiçadas (infartos da camada de fibras nervosas. Fonte: Donald J D’Amico, MD.

Por esse motivo, o controle da diabetes é tão importante: evitar a progressão dessa complicação. A duração da diabetes e o controle do nível glicêmico estão diretamente associados à gravidade da doença.

Com relação à retinopatia hipertensiva, é uma condição ocular que ocorre em pessoas com hipertensão arterial. A pressão arterial alta pode danificar os vasos sanguíneos em todo o corpo, incluindo os da retina. A retinopatia hipertensiva pode apresentar diferentes estágios, desde vasos sanguíneos estreitados (arteriolas) até hemorragias e inchaço da retina.

Tanto para a retinopatia diabética quanto hipertensiva o exame de fundoscopia de olho é capaz de identificar e estadiar as duas condições.

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Exame de fundoscopia de olho de diferentes pacientes com retinopatia hipertensiva.

Uveíte: do que se trata?

A uveíte é uma condição ocular envolvendo a inflamação da úvea. Essa é a camada média do olho, composta pela íris, corpo celular e coroide.

Embora seja pouco comentada, a úvea é a responsável por fornecer suprimento sanguíneo e nutrientes para a retina, além de controlar o tamanho da pupila. A uveíte pode se dividir em:

  • Anterior: acometendo a íris e o corpo celular (tipo mais comum), podendo ser um quadro agudo ou crônico;
  • Intermediária: afetando o corpo ciliar e o espaço vítreo, que é o gel que preenche a cavidade ocular;
  • Posterior: afetando o coroide, a camada vascular do olho entre a retina e a esclera;
  • Pavuneítica: todas as partes da úvea. Forma mais grave e rara da doença.

As principais causas da uveíte são por infecções (virais, bacterianas e fúngica), doenças autoimunes, como artrite reumatoide e inflamatórias sistêmicas, como Crohn. Em muitos casos, a causa exata da uveíte não é conhecida.

Pensando nos sinais inflamatórios conhecidos, os sintomas da uveíte incluem: dor ocular, vermelhidão, fotofobia e diminuição da acuidade visual. Ainda, pode ser descrita a percepção de manchas flutuantes, chamadas de “moscas volantes”.

Como tratar essa doença ocular?

O tratamento da uveíte envolve reduzir a inflamação e aliviar os sintomas do paciente.

Por isso, o recomendado são colírios anti-inflamatórios prescritos para tratar a doença. Em alguns casos mais graves ou quando a uveíte é causada por doenças autoimunes, podem ser necessários tratamentos mais intensivos, como corticosteroides orais ou medicamentos imunossupressores.

Rastreamento e detecção precoce de doenças oculares

Infelizmente, ainda não é uma cultura do brasileiro visitar o consultório do oftalmologista com regularidade. Por isso, a educação acerca das doenças oculares deve ser cada vez mais disseminada pelas grandes mídias, promovendo essa importância.

O rastreamento e exames oftalmológicos regulares são fundamentais para detectar doenças importantes e realizar o tratamento adequado. Sendo assim:

  • Crianças: devem passar por um exame oftalmológico completo nos primeiros anos de vida, antes de iniciar a escola e, em seguida, a cada dois anos, a menos que haja problemas oculares específicos que exijam visitas mais frequentes;
  • Adultos jovens e de meia-idade: devem realizar exames oftalmológicos completos a cada dois anos, mesmo sem problemas oculares conhecidos;
  • Idosos: a partir dos 60 anos, é recomendado que os idosos façam exames oftalmológicos completos anualmente, devido ao aumento da prevalência de doenças oculares relacionadas à idade, como catarata, glaucoma e degeneração macular.

Ainda, é importante reforçar ao seu paciente a importância do controle de doenças associadas, como diabetes e hipertensão. Conhecer ainda o histórico familiar pode prevenir e alertar para doenças específicas oculares.

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Perguntas frequentes sobre as doenças oculares

  1. O que é uveíte?
    A uveíte é uma inflamação da úvea, a camada média do olho.
  2. Qual é a principal característica do glaucoma?
    O glaucoma é uma doença que causa danos ao nervo óptico e pode levar à perda progressiva da visão, geralmente começando pela visão periférica.
  3. O que é a catarata?
    A catarata é uma condição em que a lente natural do olho, o cristalino, torna-se opaco e turvo, causando visão embaçada.

Referências

  1. Perfil do diagnóstico inicial em pacientes com glaucoma. Alexis Galeno Matos. Revista Brasileira de Oftalmologia.
  2. Glaucoma de ângulo aberto: epidemiologia, apresentação clínica e diagnóstico. Deborah S Jacobs, MD. UpToDate
  3. Catarata em adultos. Deborah S Jacobs, MD. UpToDate
  4. Uveitis: Etiology, clinical manifestations, and diagnosis. George N Papaliodis, MD. UpToDate
  5. Retinopatia diabética: classificação e características clínicas. Donald J D’Amico, MDAnjali R Shah, MD. UpToDate