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A doença de Wilson ou degeneração hepatolenticular é uma doença genética, conhecida pelo acúmulo de cobre no organismo, principalmente no cérebro, rins e fígado. A doença começa entre os 5 e os 23 anos e por ser uma doença rara, muitos diagnósticos demoram a se concretizar.
Para compreender melhor essa doença é necessário entender seu desenvolvimento. A doença de Wilson é uma condição autossômica recessiva e é resultado da mutação do gene ATP 7B localizado no cromossomo 13, essa mutação leva a uma redução na excreção de cobre pela bile através da ceruloplasmina, uma glicoproteína que transporta o metal por todo o corpo. Como consequência, o cobre se acumula em vários tecidos, como fígado, sistema nervoso central, córneas e rins, gerando lesões hepatocelulares cirróticas, demência, distúrbios neuropsiquiátricos, comprometimento da função renal e cardíaca. A tríade clássica de apresentação é composta por doença hepática, neurológica e oftalmológica.
A doença de Wilson é uma doença hepática rara, mas seu diagnóstico tem grande impacto, uma vez que existe um tratamento específico disponível e se aplicado de maneira precoce evita complicações graves. O diagnóstico pode ser difícil, não existe um teste único com sensibilidade adequada. Não há cura para a doença de Wilson, no entanto existem medicamentos que ajudam a reduzir o acúmulo de cobre no corpo.
História, antecedentes e causas
A doença de Wilson foi assim nomeada em 12 de maio de 1937 em homenagem ao descobridor Samuel Alexander Kinnier Wilson, que era um neurologista britânico que ficou conhecido por esse feito.
Samuel descreveu a doença pela primeira vez no ano de 1912, em sua tese de mestrado a nomeou como uma degeneração lenticular progressiva associada à cirrose hepática. Esse trabalho lhe rendeu a medalha de ouro na Universidade de Edimburgo (Fonseca e Prado, 2004). A continuidade do seu trabalho associou seu nome a uma doença que também é conhecida como degeneração hepatolenticular.
O cobre é um elemento essencial na dieta sendo necessário, por exemplo, em processos como a respiração mitocondrial e está presente em diversos alimentos que consumimos diariamente, porém quando consumido em excesso precisa ser excretado pelo o corpo. Na doença em questão não há excreção do excedente, o que provoca um aumento e acúmulo de cobre no organismo, o que com o passar do tempo gera uma piora progressiva. A doença pode permanecer assintomática por muitos anos.
A doença de Wilson é autossômica recessiva e acumula cobre em órgãos como fígado, olhos, cérebro e rins, causando diversas lesões e se não diagnosticada e tratada a tempo pode levar a óbito. É considerada uma doença rara que está relacionada a manifestações neurológicas, psicológicas e cirrose hepática. A incidência é de 30 casos por milhão de habitantes.
É uma doença hereditária que se expressa em homozigose recessiva, ou seja, ambos pais devem ser portadores do gene defeituoso e assim transmiti-lo ao filho, o casamento consanguíneo dos pais das pessoas afetadas é amplamente observado. Ressalta-se que a maior incidência da doença está entre judeus, italianos e japoneses, a estimativa é que cerca de 50 milhões de pessoas no mundo sejam heterozigotas para a doença de Wilson.
O locus do gene da doença está localizado no cromossomo 13, sendo o gene afetado o ATP 7B, que em seu complexo de Golgi é responsável pelo transporte intracelular de cobre. As falhas na incorporação do cobre à ceruloplasmina (proteína de transporte) e a ausência ou redução no funcionamento do gene diminuem a excreção do cobre na bile, o que provoca um aumento do cobre nos hepatócitos e posteriormente na corrente sanguínea onde se deposita em outros órgãos.
Até alguns anos atrás era considerada uma doença fatal, mas com os avanços da medicina, foram desenvolvidos medicamentos capazes de tratá-la.
Quais são os sinais e sintomas?
Na doença de Wilson temos uma grande variedade de sinais e sintomas, onde alguns são muito semelhantes a outras doenças e isso dificulta o diagnóstico.
Podem ser observados: demência, psicose, tremores, delírios ou confusão, dificuldade para andar, movimentos lentos, mudanças de comportamento e personalidade, perda da capacidade de falar (disartria), hepatite, insuficiência hepática, dor abdominal, cirrose, icterícia e hematêmese.
Observa-se que a demência afeta a poucas pessoas diagnosticadas com doença de Wilson, não sendo um sinal comum, porém presente em pequena porcentagem dos casos.
No início da doença apresenta-se aqueles sintomas relacionados à deterioração do fígado devido à retenção excessiva de cobre no órgão, enquanto os sinais e sintomas neurológicos são mais evidente na fase tardia.
Apenas em 20% dos casos a doença já aparece com sinais neurológicos e oftalmológicos, sendo o mais conhecido o sinal de Kayser-Fleischer, que se trata do acúmulo de cobre na membrana de descemet das córneas.
Como ela pode ser diagnosticada?
O diagnóstico da doença de Wilson é feito com base em manifestações clínicas, dados histoquímicos e bioquímicos, entretanto a biópsia nem sempre pode ser realizada.
No que diz respeito ao laboratório, o diagnóstico baseia-se na alteração de ceruloplasmina, presença de cobre na urina por 24 horas, cobre livre, identificação metal em níveis elevados no fígado e estudo genético. É utilizado também o exame oftalmológico com lâmpada de fenda para a detecção dos anéis de Kayser-Fleischer.
Quanto ao quadro clínico existe uma chamada tríade clássica, composta por doença hepática, neurológica e oftalmológica. Em casos de acometimento neurológico pode ser realizada uma ressonância magnética do encéfalo que apresentará sinais T2 anormais nos gânglios da base, conhecido como sinal do panda.
Existe cura? Qual o método para tratamento?
É extremamente importante saber que os pacientes com doença de Wilson devem ser orientados a manter uma dieta pobre em cobre, como: evitar filé de fígado, castanha de caju, feijão frade, sucos de vegetais, mariscos, cogumelos e cacau e ainda evitar suplementações que apresentem cobre em sua composição.
Não há cura para a doença, existe somente um tratamento da qual a pessoa será submetida para o resto de sua vida, se não for tratada adequadamente, a doença de Wilson é fatal, com o tratamento as pessoas geralmente apresentam melhora, a menos que a doença esteja em estado avançado quando diagnosticada. Pacientes sem tratamento correm sério risco de desenvolvimento de insuficiência hepática.
No início do tratamento, é recomendado a utilização de agentes quelantes, como a penicilamina ou trientina por via oral, esses medicamentos se ligam ao cobre em excesso facilitando sua eliminação. Todavia tais medicações apresentam muitos efeitos colaterais, tem-se disponível então um tratamento alternativo com suplementos de zinco, neste caso o mecanismo de ação será impedindo que o organismo absorva o cobre da alimentação. Em alguns casos são utilizadas combinações de quelantes e suplementos de zinco, mas ressalta-se que este último só deve ser ingerido 2 horas após a ingestão da penicilamina ou trientina, pois pode se ligar a elas e torná-las ineficazes.
Referências
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Socio SA., Ferreira AR, Fagundes EDT, Roquete MLV, Pimenta JR., Campos LF., et al. Wilson’s disease in children and adolescents: diagnosis and treatment. Rev. Paul Pediatric. 2010 (2). p 134-140. Disponible: https://www.scielo.br/pdf/rpp/v28n2/v28n2a02.pdf
Danieli Souza Coelho
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