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Entendendo a Rinite alérgica | Colunistas

Entendendo a Rinite alérgica | Colunistas

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Etiopatogenia

            A rinite alérgica caracteriza-se por uma inflamação da mucosa da cavidade nasal decorrente da exposição a alérgenos. Diferentes agentes, tais como ácaros domésticos, ao entrar em contato com um organismo previamente sensibilizado, irão desenvolver uma série de reações que irão desencadear sintomas como rinorreia, prurido e congestão nasal. Ao ser captado pelas células dendríticas ao atravessar o epitélio nasal, os alérgenos (antígenos) são apresentados as células Th2, as quais por meio da secreção de citocinas possuem a capacidade de ativar uma série de mecanismos que caracterizam a sintomatologia da doença. Nesse cenário, pode-se destacar as interleucinas (IL), dentre elas a IL-4 responsável por estimular as células B a produzirem IgE que irão se ligar aos mastócitos e estimular a liberação da histamina, potente vasodilatador, a IL-5 responsável por recrutar eosinófilos que irão contribuir para a inflamação em quadro mais crônico da rinite alérgica, e a IL-13 responsável por estimular a produção de muco.

Quadro clínico

O início dos sintomas que caracterizam a rinite alérgica podem surgir entre os 5 e os 20 anos de idade. O prurido, bem característico, não se limita a região do nariz, podendo acometer estruturas como os olhos e as orelhas. Além disso, o prurido contribui para os espirros que podem ser frequentes e incomodam bastante o paciente. A rinorreia em geral se apresenta com uma consistência mucoide e coloração hialina. A obstrução nasal aparece com a evolução do quadro clínico do paciente, podendo ser bilateral ou unilateral, além de poder levar a um estágio de hiposmia ou anosmia. Ademais, os olhos, além de prurido, podem se apresentar com um lacrimejamento elevado e irritação da conjuntiva ocular. Em quadro mais sistêmico, o paciente pode apresentar mal estar, dispneia e irritabilidade – decorrente de dificuldades para dormir decorrente da obstrução nasal.

Diagnóstico

O diagnóstico de rinite alérgica baseia-se, principalmente, na história clínica do paciente. No entanto, recursos diagnósticos adicionais podem ser utilizados para se chegar ao diagnóstico.

– Recursos diagnósticos:

  • Etiológico: Pode-se fazer uso do kin prick test (SPT), utilizado para a identificação de alergias respiratórias, por meio de pequenos furos na pele com a consequente introdução de antígenos alérgicos, sendo observado os alérgenos os quais o paciente é alérgico por meio da formação de pápulas edematosas. Além disso, tem-se a avaliação dos níveis séricos de IgE, a principal imunoglobulina envolvida em reações alérgicas.
  • Avaliação da cavidade nasal: Pode-se fazer um exame detalhado da cavidade nasal a fim de identificar possíveis alterações da mucosa que indiquem uma reação inflamatória.
  • Avaliação por imagem: Por meio da radiografia da rinofaringe é possível identificar possíveis obstruções causadas por outros fatores, tais como a hipertrofia das tonsilas faríngeas. Já por meio da tomografia computadorizada e ressonância magnética é possível identificar quadros inflamatórios.
  • Avaliação complementar: Levando-se em conta que os sintomas da rinite alérgica podem prejudicar o bem estar do paciente, principalmente o sono durante a noite, faz-se necessário avaliar e tratar o impacto psicológico que isso pode gerar.

Tratamento

O tratamento da rinite alérgica pode se dá por meio da via não medicamentosa e da via medicamentosa.

Não medicamentoso

A higiene do ambiente domiciliar no qual vive o paciente é de extrema importância, tendo em vista que a redução de possíveis irritantes alérgicos, como ácaros domésticos, reduz as chances do paciente vir a desenvolver sintomas alérgicos. Ademais, a lavagem da cavidade nasal com solução salina em quadros de rinite alérgica se apresenta como uma medida eficaz, uma vez que limpa as vias superiores eliminando o muco e possíveis alérgenos que estejam concentrados na mucosa.

Medicamentoso

  • O uso de descongestionantes se mostra extremamente eficaz em quadros de rinite alérgica, uma vez que alivia o sintoma de obstrução nasal, dando um maior conforto ao paciente. Os medicamentos descongestionantes orais são agonistas a-adrenérgicos e o seu uso não deve ultrapassar 7 dias, uma vez que podem acarretar efeitos adversos como taquifilaxia.
  • O cromoglicato de sódio age sobre o organismo estabilizando a membrana dos mastócitos, evitando com que ocorra a sua desgranulação e eliminação da histamina. Dessa forma, ele age inibindo o prurido, a rinorreia e os espirros.
  • Os anti-histamínicos vão agir inibindo o receptor da histamina, não permitindo que eles ativem a hiper-reatividade das vias aéreas e o aumento da mobilidade ciliar no epitélio nasal. Atualmente, os anti-histamínicos de segunda geração são mais utilizados quando comparados aos de primeira geração, tendo em vista que os primeiros não geram efeitos adversos como a sonolência.
  • Os antileucotrienos são uma classe de medicamentos utilizados que bloqueiam a ação dos leucotrienos, envolvidos no desenvolvimento de reações alérgicas.
  • Os corticosteroides tópicos também podem ser usados no tratamento da rinite alérgica, sendo eficaz contra os sintomas da doença, principalmente, contra a congestão nasal.

Conhecendo outros tipos de rinite

Além da rinite alérgica, a mais comum dentre as rinites, existem diversos tipos de rinite que possuem causas diversas e são classificadas como não alérgicas. Dentre elas, pode-se citar a rinite idiopática, a eosinofílica não alérgica caracterizada pela forte presença de eosinófilos no desencadeamento dos sintomas, a rinite irritativa que pode ser causada por agentes irritantes como poluentes ambientas, a rinite ocupacional desencadeada por agentes os quais o indivíduo é exposto no trabalho, a rinite medicamentosa resultante de sintomas adversos causados por uso de terminados medicamentos, a exemplo de descongestionantes, a rinite induzida por fármacos, a exemplo de betabloqueadores, a rinite hormonal, a rinite gestacional, a rinite do idoso, a rinite do atleta e a rinite gustativa.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

SAKANO, Eulalia et al. IV Consenso Brasileiro sobre Rinites – 2017. São Paulo, 2017.

SAKANO, Eulalia et al. IV Brazilian Consensus on Rhinitis – an update on allergic rhinitis. Braz J Otorhinolaryngol, São Paulo, vol. 84, n. 1, p. 3-14, 2018.