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Introdução sobre o estudo da hidroxicloroquina
No início da pandemia do novo coronavírus foi levantada a possibilidade do uso da cloroquina e derivados no tratamento dos pacientes com Covid-19 classificados como um quadro moderado à grave. O relatório original que elencou a HCQ como tratamento para o Covid-19 descreveu 26 pacientes que foram tratados em um estudo aberto e de grupo único que envolveu controles contemporâneos, mas não randomizados, em hospitais da França.
Nesse estudo, os pacientes foram tratados com HCQ na dose de 200 mg, três vezes ao dia, durante 10 dias. Os dados deste estudo foram relatados como mostrando a eficácia da HCQ na redução da carga viral em pacientes tratados, no entanto, os dados de 6 pacientes que receberam HCQ foram excluídos da análise devido à piora clínica ou perda do seguimento, o que dificulta a interpretação dos achados.
O objetivo dos autores do estudo que descreveremos buscaram analisar a associação entre uso de HCQ e insuficiência respiratória em um grande centro médico que presta atendimento a um número substancial de pacientes com Covid-19 na cidade de Nova York. Nossa hipótese foi de que o uso da HCQ estaria associado a um menor risco de um ponto final composto de intubação ou morte em análises
Método do estudo observacional da hidroxicloroquina
Foi um estudo observacional e multicêntrico realizado no New York Presbyterian Hospital, Irving Medical Center e em hospitais de Manhattan. Os participantes foram recrutados na admissão do serviço de saúde e teste para detectar a presença do Sars-Cov-2 foi através de swab nasofaringeo obtido no início da hospitalização e analisados através de RT-PCR.
O regime de tratamento escolhido foi de hidroxicloroquina em uma dose de 600 mg duas vezes no dia 1, seguida de 400 mg por dia durante 4 dias adicionais. A azitromicina na dose de 500 mg no dia 1 e depois 250 mg por dia por mais 4 dias em combinação com a hidroxicloroquina foi uma opção terapêutica adicional sugerida.
As variáveis analisadas foram idade; sexo; raça e grupo étnico relatados pelo paciente, IMC, Peso, altura, comorbidades, além de pressão parcial de oxigênio e a fração do oxigênio inspirado.
O desfecho primário foi o tempo do início do estudo (admissão) até a intubação ou morte. Para os pacientes que morreram após a intubação, o momento do desfecho primário foi definido como o tempo de intubação.
Resultados do estudo da hidroxicloroquina
Dos 1446 pacientes acompanhados, 70 pacientes foram intubados, morreram ou receberam alta dentro de 24 horas após a apresentação e foram excluídos da análise.
Dos 1376 pacientes restantes, durante um seguimento médio de 22,5 dias, 811 (58,9%) receberam HCQ (600 mg duas vezes no dia 1, depois 400 mg diariamente por uma média de 5 dias); 45,8% dos pacientes foram tratados dentro de 24 horas após a apresentação no pronto-socorro e 85,9% em 48 horas.
Os pacientes tratados com HCQ estavam mais gravemente doentes no início do que aqueles que não receberam HCQ (razão mediana da pressão parcial de oxigênio arterial para a fração de oxigênio inspirado, 223 vs. 360).
No geral, 346 pacientes (25,1%) tiveram um evento final primário (180 pacientes foram intubados, dos quais 66 morreram posteriormente e 166 morreram sem intubação).
Na análise principal, não houve associação significativa entre uso de HCQ e a modificação no desfecho de intubação ou morte (RR, 1,04, intervalo de confiança de 95%, 0,82 a 1,32). Os resultados foram semelhantes em análises de sensibilidade múltipla.
Discussão
Como observamos na introdução, as conclusões de um estudo inicial que mostrou um benefício da hidroxicloroquina em 26 pacientes tratados em hospitais franceses são difíceis de interpretar, dado o pequeno tamanho desse estudo, a falta de um grupo controle randomizado e omissão de 6 pacientes da análise.
Um ensaio clínico que testou duas doses de cloroquina em pacientes com Covid-19 planejou incluir 440 pacientes, mas foi interrompido após a inscrição de 81 pacientes devido ao prolongamento excessivo do QTc (Intervalo QT corrigido que quando alargado pode induzir a formação de arritmias) e uma indicação de maior mortalidade no grupo de altas doses (no qual os pacientes recebeu 600 mg duas vezes ao dia por 10 dias) do que no grupo de baixa dose (no qual os pacientes receberam 450 mg diariamente por 4 dias após uma dose inicial de 450 mg administrada duas vezes no primeiro dia).
Na análise principal, em um modelo de regressão multivariável com ponderação de probabilidade inversa de acordo com o escore de propensão, não houve associação significativa entre o uso de HCQ e o risco de intubação ou morte.
Os resultados foram semelhantes em análises de sensibilidade múltipla. Em nossa análise envolvendo uma grande amostra de pacientes consecutivos que foram hospitalizados com Covid-19, o uso de HCQ não foi associado a um risco significativamente maior ou menor de intubação ou morte (RR de 1,04; IC95%, 0,82 a 1,32).
Os autores reforçam que devido ao modelo utilizado novos estudos são necessários para que se possa chegar a uma conclusão definitiva sobre o uso.
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