Dois novos estudos sugerem que pessoas que tiveram COVID-19 precisam de apenas uma dose das vacinas produzidas contra o novo coronavírus para que seus sistemas imunológicos fiquem aptos a combater a infecção.
A constatação é especialmente relevante para países que enfrentam escassez de insumos para a produção dos imunizantes, como é o caso do Brasil.
O estudo mais recente, ainda não publicado em revista científica, foi liderado por Andrew T. McGuire, do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seatle (EUA). O médico e sua equipe analisaram amostras de sangue de dez voluntários que tiveram COVID-19 e que foram vacinados depois.
Sete dos participantes receberam o imunizante da fabricante norte-americana Pfizer, desenvolvido em parceria com o laboratório de biotecnologia alemão BioNTech. Outros três receberam a vacina Moderna.
As descobertas sugeriram que seus sistemas imunológicos teriam dificuldade para se defender do B.1.351, a variante do coronavírus identificada pela primeira vez na África do Sul. Mas a aplicação de uma única dose de qualquer um dos dois imunizantes amplificou a quantidade de anticorpos no sangue em mil vezes.
Além disso, todas as amostras de sangue avaliadas neutralizaram também o coronavírus (SARS-CoV-1) que causou a epidemia da SARS, em 2003. Os anticorpos dos voluntários avaliados também apontaram um desempenho melhor do que de pessoas que não tiveram a COVID-19 e receberam duas doses da vacina.
Os pesquisadores ainda não sabem por quanto tempo o aumento da quantidade de anticorpos persistirá, mas McGuire considera que deverá ser “muito tempo”. O estudo também aponta um aumento nas células imunológicas que têm memória e lutam contra o vírus.
“Parece muito claro que estamos observando um aumento da imunidade pré-existente”, declarou McGuire ao N.Y.Times.
Segunda dose sem benefícios
O outro estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Nova York e descobriu que uma segunda dose da vacina contra a COVID-19 não trouxe benefícios significativos para pessoas que tiveram a infecção. O mesmo fenômeno já havia sido observado com vacinas para outros tipos de vírus.
Os voluntários participantes da pesquisa haviam sido infectados pelo SARS-CoV-2 cerca de oito meses antes da avaliação dos especialistas, mas tiveram um aumento no número de anticorpos de cem a mil vezes quando receberam a primeira dose da vacina.
Após a segunda dose, no entanto, os níveis de anticorpos não aumentaram mais. Na avaliação do principal autor do estudo, Mark J. Mulligan, o achado é a “prova real da força da memória imunológica” do corpo de quem foi infectado pelo novo coronavírus.
O especialista destaca, porém, que não está claro se o aumento de mil vezes nos níveis de anticorpos registrados no laboratório ocorrerá em ambientes da vida real.
Tendência
Os dois novos estudos se somam a trabalhos anteriores que já apontaram a eficácia de uma única dose de vacina para quem já contraiu a COVID-19. “Se você colocar todos os estudos juntos, terá informações muito boas sobre as pessoas que já foram infectadas e que precisam apenas de uma dose da vacina”, avaliou o imunologista Florian Krammer, da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, em Nova York.
O médico integra um grupo de pesquisadores que tenta convencer os cientistas do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) a recomendar apenas uma dose para quem já se recuperou da doença.
Porém, como alerta a reportagem do N.Y.Times, a resposta imunológica a uma infecção natural é altamente variável. A maioria das pessoas produz grandes quantidades de anticorpos que persistem por meses. Mas há quem contraia a forma leve de COVID-19 e produza poucos anticorpos, que caem rapidamente para níveis indetectáveis.
Por isso, a indicação dos especialistas é que os vacinados– e mesmo aqueles com altos níveis de anticorpos – sejam monitorados de perto após a primeira injeção, para o caso de seus níveis de defesa imunológica despencarem após algumas semanas ou meses.