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Não é novidade que circulam fake news sobre a Ivermectina como cura da COVID-19, assim como outras drogas ou tratamentos milagrosos. Em tempos de pandemia, muitas vezes as fake news que circulam mais rapidamente são aquelas prometendo a cura da doença.
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A novidade, entretanto, é que na última sexta-feira, 10/07/2020, a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, emitiu nota afirmando que a Ivermectina não deve ser considerado a cura da COVID-19, nem previne o contágio pelo novo coronavírus, ao contrário do que a população tomou como tábua de salvação.
A Ivermectina, o estudo Australiano e a fake news
A notícia falsa começou lá atrás, e surgiu após a interpretação errônea de um estudo científico australiano publicado. Entenda onde tudo começou:
Motivação do estudo australiano
Ocorre que pesquisadores da Austrália resolveram testar a substância Ivermectina contra o novo coronavírus. O estudo foi motivado pelo conhecimento da eficácia in vitro desta substância contra outros vírus. Após a publicação dos resultados, a notícia chegou de forma equivocada às redes sociais como uma promessa de cura, e rapidamente se espalhou.
Porém, a conclusão da pesquisa é muito diferente do boato espalhado. Veja de forma clara o que exatamente a pesquisa concluiu:
A atuação da Ivermectina contra vírus e parasitas de amplo espectro
A Ivermectina é uma medicação autorizada pela FDA (Food and Drug Administration, agência dos EUA responsável por liberar medicamentos) para utilização como antiparasitário de amplo espectro. Nos últimos anos, porém, mostrou ter atividade antiviral in vitro contra diversos tipos diferentes de vírus.
Metodologia do estudo australiano
Baseados nesse conhecimento, os pesquisadores resolveram testar a Ivermectina contra o novo coronavírus. Então, realizaram um experimento onde células foram infectadas com o SARS-CoV-2 (novo coronavírus), e depois adicionaram a substância Ivermectina.
Após a infecção das células in vitro, analisaram pela técnica de RT-PCR a replicação do SARS-CoV-2 nas células que receberam a Ivermectina e compararam com a replicação do vírus naquelas que não receberam a substância.
Em 24 horas, houve uma redução em 93% da replicação viral, quando comparada com amostras de controle. Após 48 horas, a redução foi de aproximadamente 5.000 vezes, demonstrando que o tratamento in vitro com Ivermectina conseguiu eliminar essencialmente todo material viral.
Os pesquisadores também não identificaram toxicidade da Ivermectina em nenhuma das concentrações utilizadas.
Foi concluído então que a Ivermectina possui ação antiviral contra o SARS-CoV-2, causador da covid-19, IN VITRO.
Resultados preliminares do estudo com a Ivermectina
Nesse estudo, uma única dose de Ivermectina foi capaz de eliminar o vírus dentro de 24-48 horas. Sua conclusão ressaltava que, apesar de ser um breve relatório de testes iniciais, uma possibilidade foi levantada de utilizar a Ivermectina como possível antiviral útil para limitar a replicação do SARS-CoV-2, e frear a covid-19.
A pesquisa ainda não teve comprovação de benefício em ambiente clínico. Assim como outros medicamentos, a Ivermectina surge como uma promessa de sucesso, mas deve ser testada ainda em humanos. Os resultados encontrados in vitro não podem ser tomados como verdadeiros in vivo.
Confira o estudo inicial australiano.
Cuidados necessários com testes in vitro
Os testes in vitro encontram-se nos níveis mais básicos da pesquisa na área de saúde. Além disso, a Ivermectina também havia apresentado resultados semelhantes contra vírus como HIV, dengue, influenza e Zika Vírus, e nenhum destes se mostrou eficaz na prática clínica.
É preciso ressaltar ainda que a dose necessária para ser eficiente na inibição in vitro foi muito superior à recomendada na bula. Portanto, se esta mesma dose for requerida in vivo para prevenir e/ou tratar a infecção pelo SARS-CoV-2, o corpo humano não suportaria. Desta forma, restaria ainda saber se dosagens menores seriam suficientes para promover a ação antiviral.
A busca por um tratamento para covid-19
O desenvolvimento de um antiviral eficaz para a SARS-CoV-2, se oferecido aos pacientes no início da infecção, poderia ajudar a limitar a replicação viral, impedindo a progressão rápida da doença, e restringindo a transmissão pessoa-a-pessoa.
Mas, apesar das inúmeras pesquisas, ainda não se chegou a um medicamento comprovadamente benéfico e curativo no ambiente clínico.
Portanto, a notícia espalhada, alegando que a Ivermectina é a cura contra a COVID-19 é FAKE, e deve ser combatida.
A última nota da ANVISA sobre a Ivermectina
Como dito anteriormente, no dia 10/07/2020, provocada pela insistência ao uso da ivermectina sem indicação médica, a ANVISA viu-se obrigada a publicar uma nota oficial reforçando que não existem estudos conclusivos comprovando a eficácia de seu uso no combate à COVID-19, entretanto, não há estudos que indiquem que seja maligno.
A ANVISA reforça ainda que não há medicamento no Brasil aprovado para profilaxia da COVID-19. Os usos seguros da Ivermectina são aqueles indicados na bula. O médico, contudo, é responsável por indicações não previstas.
Confira na íntegra a nota da ANVISA sobre a Ivermectina:
“Diante das notícias veiculadas sobre medicamentos que contém ivermectina para o tratamento da Covid-19, a Anvisa esclarece:
Inicialmente, é preciso deixar claro que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da Covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso.
Até o momento, não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19 no Brasil.
Nesse sentido, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento.
Cabe ressaltar que o uso do medicamento para indicações não previstas na bula é de escolha e responsabilidade do médico prescritor.”
Um adendo: provável mecanismo de ação da ivermectina na covid-19
Apesar do pensamento mecanicista nem sempre corresponder ao sucesso na prática clínica, acrescentamos aqui o provável mecanismo de ação da Ivermectina, proposto no artigo dos pesquisadores australianos.
De acordo com o artigo, a Ivermectina desestabilizaria a ligação das proteínas importinas (alfa/beta1) às proteínas do novo coronavírus, impedindo sua passagem através do complexo de poro nuclear da célula (NPC).
Como resultado, o vírus não mais conseguiria reduzir a resposta viral da célula hospedeira, o que permitiria adequada resposta celular antiviral contra o SARS-CoV-2. Veja o mecanismo esquematizado na figura abaixo:

Conclusão:
Apesar de todo os prós apontados até agora, não se pode afirmar ainda que a Ivermectina seja uma medicação eficaz contra a covid-19.
Portanto, é Fake News que ela seja considerada a cura da covid-19 e que em pacientes humanos seus resultados foram comprovados.
Todavia, é importante afirmar também que ainda existem estudos importantes e sérios em andamento, que não tiveram seus resultados revelados, podendo comprovar ou não o uso do medicamento para o tratamento da covid-19.
A ANVISA, de maneira correta, informa que os usos seguros da Ivermectina estão descritos na bula do remédio e que outras aplicações dependem dos novos estudos e autorização.
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