Coronavírus

Fake news sobre as vacinas para Covid-19 podem atrapalhar imunização

Fake news sobre as vacinas para Covid-19 podem atrapalhar imunização

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Imagem de perfil de Sanar

A vacinação para a COVID-19 já se tornou realidade em muitos países, inclusive aqui no Brasil. Apesar da tão aguardada vacina, a resistência diante da possibilidade de ser vacinado, muitas vezes motivada por desinformações, já é um problema real que preocupa médicos e pesquisadores. 

No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 9% da população não quer se vacinar contra a Covid-19. E essa, acredite, não é uma tendência exclusiva de parte dos brasileiros.

No Reino Unido, o instituto Ipsos Mori revelou que 16% dos britânicos não tomariam a vacina se ela estivesse disponível à época da pesquisa. 

Já nos Estados Unidos o número é ainda maior, de acordo com o instituto Gallup: um em cada três pessoas afirmaram a mesma coisa. 

Agora, pesquisadores e autoridades de saúde temem que os ataques às vacinas e o aumento da circulação de fake news relacionada comprometa, em certa medida, os esforços para imunizar a população e conter o avanço da pandemia.

Principais tipos de fake news sobre as vacinas para covid-19

Com a crescente expansão de grupos antivacina nas redes sociais, uma parte deles no Brasil, informações falsas sobre vacinas para o combate à Covid-19 começam a ser fortemente divulgadas.

Entre os principais temas das fakes news estão:

  1. A vacina irá modificar o DNA dos seres humanos.
  2. A vacina contém na sua composição células de fetos abortados.
  3. As vacinas são parte de uma conspiração de Bill Gates para implantar microchips em seres humanos.
  4. Voluntários dos testes já morreram por terem se submetido ao uso das vacinas.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou instituições e autoridades sobre o que chamou de “infodemia”. Elas consistem em teorias da conspiração, fake news, rumores e outros conteúdos divulgados em torno da pandemia, que contribuem para aumentar os casos e as mortes por Covid-19.

A fake news: “ingerir álcool com uma alta concentração pode desinfetar o corpo e matar o vírus”, uma das mais veiculadas, fez cientistas estimarem que 5.876 pessoas foram hospitalizadas, 800 mortas e 60 ficaram cegas.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, afirmou que a desinformação sobre as vacinas é uma grande ameaça à saúde global e pediu, ainda, ajuda do Facebook, Google e Twitter nesse combate.

“As principais organizações digitais têm uma responsabilidade: garantir que seus usuários possam acessar informações sobre vacinas e saúde. Queremos que os atores digitais façam mais para tornar conhecido em todo o mundo que vacinas funcionam”, disse Adhanom. 

O temor da opinião pública pela segurança das vacinas contra covid-19

O estudo intitulado “Postmarketing Safety of Vaccines Approved by the U.S. Food and Drug Administration” analisou a segurança das vacinas através de mudanças feitas nas bulas de 57 delas que foram aprovadas ao longo de 20 anos pela Food and Drug Administration (FDA), o órgão americano de vigilância.

Os pesquisadores indicaram que o problema de segurança mais frequente que desencadeou mudanças nos rótulos das vacinas foi a expansão das restrições populacionais (36%), seguida das alergias (22%). 

De todas as vacinas, somente uma foi retirada do mercado por motivos de segurança. A RotaShield, usada contra o rotavírus, parou de ser comercializada por poder levar a uma obstrução intestinal em bebês, potencialmente fatal. 

Ao longo de um período de 20 anos, o estudo revelou que as vacinas podem ser consideradas extremamente seguras. Os resultados confirmaram a robustez do sistema de aprovação de vacinas e vigilância pós-comercialização das mesmas.

As campanhas antivacina têm mesmo impactos?

O estudo “The real-world effects of fake news”, feito pela FTI Consulting, uma empresa de inteligência de mercado, mensurou o impacto das informações falsas nas redes sociais sobre as vacinas.

A pesquisa tomou como base as postagens sobre a vacina tríplice viral (para sarampo, caxumba e rubéola) no Twitter, entre os anos de 2012 a 2018. Durante o período, houve uma redução na Inglaterra e País de Gales de 3% na cobertura da vacina. 

O estudo, feito por meio de um sistema de inteligência artificial, concluiu que a cada aumento de 100% no volume de desinformação sobre a tríplice viral somente no Twitter, existiu uma queda de 0,2% na cobertura vacinal. 

Como houve no período analisado um aumento de 800% da desinformação na rede social, isso gerou uma redução de 1,6% na cobertura vacinal.

“Outros estudos já haviam demonstrado uma associação entre o aumento da desinformação e a queda da cobertura vacinal”, afirmou a coautora do estudo, Meloria Meschi, em entrevista à BBC News Brasil. 

O desafio agora – depois deste tempo necessário para a produzir uma vacina eficaz contra a Covid-19 e disponibilizar para toda população – é evitar que as pessoas continuem a consumir o grande número de notícias falsas e teorias da conspiração que estão presentes e ainda deverão surgir.

Boatos espalhados após o início da vacinação

Após o início da vacinação, muitos boatos se espalharam relacionando a vacina da COVID-19 à morte de pessoas que a tomaram. Citamos aqui o caso da enfermeira Tiffany Dover, que desmaiou por um momento após ser vacinada. 

Apesar de ter recobrado logo a consciência, os ativistas antivacina utilizaram-se do ocorrido para afirmar que ela havia morrido após tomar a vacina. 

Os ativistas chegaram a espalhar suas fotos no facebook, e dirigir ataques contra a sua família. Um grupo no facebook chegou a ser criado, intitulado “Justice for Tiffany Dover”. 

Além de atribuir mortes falsas à pessoas que tomaram a vacina, o movimento também atribuiu mortes verdadeiras, que ocorreram por outras causas, à vacinação. 

Uma outra enfermeira foi vítima deste tipo de boato, Jennifer Lee McClung faleceu aos 54 anos por complicações da COVID-19, e teve sua história falseada e compartilhada por ativistas, que alegaram que ela havia morrido em consequência da vacina para COVID-19. 

Apesar do boato, a enfermeira faleceu sem ter sido vacinada. 

O que podemos fazer a respeito?

Não podemos fugir ou negar a realidade, as fake news sobre a vacina da COVID-19 existem e estão por aí circulando. Podemos nos perguntar, o que fazer a respeito?

Primeiramente, tomar consciência da necessidade de avaliar de forma muito crítica qualquer alegação contra a vacina, bem como alertar a outros para que façam o mesmo.

Uma outra estratégia consiste em checar a fonte da informação. Algumas fontes já possuem histórico confirmado de espalhar boatos e fake news, como por exemplo as informações divulgadas por ativistas do movimento antivacina. 

Uma outra forma de evitar cair nas fake news é ter muita cautela com informações advindas de fontes anônimas ou não aprovadas, ou aquelas denúncias baseadas em teorias da conspiração.

Algumas pessoas pensam que o testemunho nominal de alguém é uma informação digna de confiança, porém até mesmo isto pode ser forjado. 

Para exemplificar, nos EUA uma mulher gravou vídeo se identificando como enfermeira que havia tomado a vacina e que esta havia lhe causado paralisia de Bell. 

Após a checagem das informações, descobriu-se que não havia nenhuma enfermeira nos EUA com o nome alegado pela mulher, e que a única pessoa com tal nome estava em outra profissão e não estava incluso nos grupos prioritários para vacinação. 

Por fim, nós, profissionais da saúde, temos a obrigação de nos tornarmos propagadores de informações corretas e precisas sobre os riscos de benefícios da vacinação, tanto de uma forma geral, como especificamente a respeito da vacina contra a COVID-19. 

Inclusive, é importante divulgar os possíveis e diversos efeitos colaterais, antes mesmo deles serem utilizados por outras fontes como armas contra a vacinação. 

O combate à antivacinação é uma luta constante, e é preciso conscientizar-se que as fake news sobre a vacina da COVID-19 têm consequências para a saúde pública mundial. 

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