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Fatores que dificultam a alimentação complementar infantil | Colunista

Fatores que dificultam a alimentação complementar infantil | Colunista

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Um dos capítulos mais importantes na vida de um ser humano é a introdução alimentar. Para a criança é novidade, descoberta de novos sabores e sensações, mas, para os pais pode ser motivo de ansiedade e preocupação.

Primeiramente, cabe uma revisão básica da consulta típica de puericultura e dos 10 passos para uma alimentação saudável, do Ministério da Saúde:

  • Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade em regime de livre demanda. O estímulo ao aleitamento começa no pré-natal e é dever do pediatra acompanhar o aleitamento e tirar todas as dúvidas e inseguranças da mãe em relação a esse tema.
  • Em caso de intolerância à lactose, doença materna que impossibilite o aleitamento ou o ganho de peso do bebê não estiver adequado, substituir sempre por FÓRMULAS INFANTIS e nunca por leite de vaca, cabra ou soja. O tipo da fórmula deve ser escolhido pelo seu pediatra, bem como sua diluição.
  • Até 12 meses: não oferecer chás, sucos e refrigerantes.
  • Com seis meses o bebê inicia a alimentação COMPLEMENTAR, ou seja, além do leite. O aleitamento materno continua até os dois anos de idade. Começamos apenas com almoço, depois, com 7 meses, introduzimos o jantar.
  • Quanto às frutas: TODAS são permitidas. Isso é uma dúvida muito frequente das mães. TODAS, TODAS são permitidas.
  • Procure deixar a refeição cada dia mais parecida com a textura que a família come. Comece com a textura de papa, bem batida e depois passe a somente amassar com o garfo, até que a criança consiga comer o alimento em sua textura natural.
  • Ofereça a comida com colher de plástico ou silicone. A de metal pode modificar o gosto do alimento.
  • As refeições devem ter pelo menos um alimento de cada grupo: cereais, leguminosas, carnes e hortaliças. Experimente oferecer separadamente os alimentos durante a refeição, para que o bebê consiga sentir as diferentes texturas e sabores. Preste atenção nas expressões que ele faz ao comer a comida. Os bebês se comunicam muito!  
  • A cada 3 a 5 dias, oferecer um alimento considerado alergênico: trigo, peixes, frutos do mar, soja, ovos. Esperar muito para introduzir alimentos alergênicos pode AUMENTAR a chance de atopia específica.
  • NÃO colocar sal na comida até o bebê completar um ano de idade. Quanto à sorvetes, balas, doces, petit suisse, biscoitos: PROIBIDOS até os dois anos de idade.
  • Crie um ambiente adequado para a refeição: de preferência à mesa e não em frente às telas. Não forçar a ingesta: a criança vai comer quando estiver com fome.

Depois desse resumo, adentramos no foco principal do texto: os fatores que podem dificultar esse processo. E o primeiro de todos com certeza é: financeiro. Sim, o preço da alimentação ideal é caro. Para uma família numerosa, mãe ganhando um salário mínimo, chega a ser inviável.

Cabe aqui um exemplo bem prático: Hoje, enquanto escrevo este artigo, 1kg de patinho moído custa R$36,99 num grande mercado paulista. No mesmo lugar, 1kg de salsicha sairá por R$15,64. Com a diferença entre os valores, R$21,35, daria para comprar 5kg de arroz e 1kg de feijão. Ainda há dúvidas que o bebê dessa família comerá salsicha ao invés de patinho moído? Ou pior: Não comerá proteínas.

O segundo fator de dificuldade é a comodidade dos industrializados. É óbvio que a opção mais saudável de papinha é a feita em casa: com legumes frescos, frutas com aveia. Entretanto, para fazê-las leva tempo: o tempo de ir ao mercado, higienizar, cozinhar, amassar, esfriar e finalmente dar aos pequenos. É muito mais prático abrir um pote de papinha pronta, ainda mais pensando na rotina feminina atual.

Outro fator que dificulta a introdução alimentar é o fato de não poder usar sal na comida do bebê até os 12 meses. Esse apelo é para prevenção da hipertensão arterial no futuro e, claramente, traz benefícios. Porém, não há dúvidas que a regra dificulta bastante a vida dos pais, que acabam tendo de fazer duas refeições diferentes.

A realidade (sobretudo brasileira) é que a maioria não cumpre a recomendação e, infelizmente, o consumo de sal no Brasil é muito acima do adequado e, dessa forma, as crianças adquirem o hábito do sal em excesso muito cedo. Dentro desse aspecto, também temos o problema da mídia bombardeando as crianças com propagandas coloridas e apetitosas de produtos cheios de sal e açúcar. Hoje, por lei, é proibido ligar esse tipo de alimento a um personagem (que faria aumentar o desejo da criança por aquele produto) mas, ainda assim, o marketing tem muita influência sobre nós.

Por fim, uma questão social que prejudica a introdução alimentar é o período de licença maternidade que, atualmente no Brasil, é de 120 dias e, em alguns poucos casos, 180 dias. 180 dias são seis meses. Isso significa que, na melhor situação possível, a mãe volta a trabalhar justamente no período da introdução alimentar.

A complicação que isso pode trazer é clara: Falta de tempo para o preparo das refeições do bebê, falta de tempo para deixar o bebê assimilar a comida, sentir a textura e os sabores. As mães que levam os filhos à creche, apesar dos aspectos negativos que essa decisão carrega, têm um respaldo maior quanto à rotina alimentar, afinal, o cardápio é feito por nutricionistas e os bebês passam a ter horário para comer.

Entretanto, as crianças que ficam com os avós ou babás podem ser prejudicadas nesse aspecto, pois a falta de orientação e conhecimento pode levar a erros alimentares nocivos para a saúde do bebê, sobretudo a longo prazo.

A alimentação correta é fator crucial para o bom desenvolvimento infantil e deve ser levada a sério. Um adulto saudável é fruto de uma puericultura bem feita, de uma família empenhada e de um país que dá suporte às mães nesse período tão importante da vida do ser humano. Estamos na luta!

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Autora: Gabriela Satori, Estudante de Medicina

Instagram: @gabrielasartorig