O órgão estadunidense, Food and Drug Administration (FDA), que tem como função controlar alimentos e medicamentos, em maio deste ano, anunciou que exigirá que alguns medicamentos da classe sedativos-hipnóticos sejam comercializados com o alerta de “tarja preta”, devendo advertir médicos e consumidores para a possibilidade de efeitos colaterais perigosos. Além disso, na bula, os riscos devem ser destacados em local altamente visível.
Os medicamentos que precisam passar por essa mudança são Eszopiclona (Lunesta), Zaleplon (Sonata) e Zolpidem (Ambien, Ambien CR, Edluar, Intermezzo, Zolpimist). Estes induzem o sono aumentando a atividade do neurotransmissor Ácido gama-aminobutírico (GABA), que atua inibindo a atividade do Sistema Nervoso Central.
Em entrevista ao jornal americano CBS News, Nancy Foldvary-Schaefer, do Sleep Disorders Center, da Cleveland Clinic, alarmou que pessoas que ingerem esses medicamentos podem acordar por algum motivo durante o sono e exibir comportamentos que fariam se, de fato, estivessem em vigília, como caminhar, correr e dirigir, por exemplo. Dessa forma, as drogas supracitadas não devem ser utilizadas em pacientes que já apresentaram algum tipo do que eles chamam de “comportamento complexo do sono” como o sonambulismo.
A FDA manifestou essa exigência após o resultado de 66 relatórios dos últimos 26 anos que evidenciou de ferimentos até morte como consequência do “comportamento complexo do sono” em pessoas que usaram esses remédios. Podemos incluir: overdoses acidentais; quedas; queimaduras; quase-afogamento e afogamento; acidentes de carro; hipotermia; envenenamento por dióxido de carbono; autolesões, que incluem lesões por projéteis de armas de fogo; e, tentativas de suicídio e suicídio. Vale ressaltar que, desses 66 relatórios, 20 pessoas morreram. O órgão americano lembra também que os 66 casos são aqueles que foram diretamente relatados pela instituição ou literatura médica, ou seja, há a possibilidade de haver mais casos subnotificados e, assim, torna-se difícil expor quão raros são esses riscos.
Ned Sharpless, comissário da FDA, em comunicado à imprensa, ressaltou que os incidentes podem ocorrer após a primeira dose dessas drogas para insônia ou após longo período de tratamento, em uso de doses mais baixas ou até mesmo em pacientes sem histórico desses comportamentos. Isto reforça que a terapia medicamentosa não deve ser a única saída para o tratamento da insônia.
Ainda não se descobriu completamente como essas medicações atuam durante o sono. Entretanto, evidências demonstram que elas estão ligadas a parassonias e, especificamente, a estados alterados de excitação durante o sono. No decorrer dos períodos de excitação baseada no sono, as pessoas podem realizar qualquer tipo de atividade (sair, cozinhar, dirigir) durante o tempo em que ainda estão em um estado parcial de sono. E, na maioria das vezes, os indivíduos que vivenciam essas parassonias, no mesmo tempo em que tomam os medicamentos sedativos-hipnóticos, não têm memória do que fizeram.
É bom lembrar que o comportamento perigoso durante o sono devido às medicações é relativamente raro. No entanto, é necessário que médicos e pacientes estejam cientes dos riscos.
Um ponto a ser visto também é que 10 a 15% dos adultos norte-americanos têm distúrbios de insônia e, muitas vezes, foram tratados com remédios como primeira opção. Foldvary-Schaefer destaca que há outros tratamentos como terapia cognitivo-comportamental que envolve higiene do sono, técnicas de relaxamento e controle dos estímulos que mantêm a vigília, têm resultados melhores a longo prazo do que a terapia medicamentosa.
O que fazer se você, brasileiro, ao ler esta noticia, estiver tomando esses medicamentos para insônia?
Primeiramente, não entre em pânico. Como já dito, os efeitos colaterais mais graves são relativamente raros. Converse com o seu médico sobre as medicações e riscos, avalie a terapia não–farmacológica (Terapia cognitiva comportamental, higiene do sono, etc). Se você e seu médico decidirem que o melhor é parar de usar a medicação, definam um cronograma a impedir interrupções de sono ou sintomas de abstinência (dependência é muito comum). Além disso, nunca mude a dose sem consultar o seu médico e, se apresentar algum “comportamento complexo” durante o sono, o FDA orienta a procurar urgentemente o seu médico.
Autor: Lucas Albuquerque