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Febre Maculosa Brasileira (FMB): entenda tudo sobre a doença

Febre Maculosa Brasileira (FMB): entenda tudo sobre a doença

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A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença infecciosa febril aguda, de apresentação clínica e gravidade variável, causada pela Rickettsia rickettsii, cocobacilo Gram-negativo com tropismo para células endoteliais. É adquirida pela picada do carrapato infectado com Rickettsia, não existindo relatos de transmissão pessoa a pessoa.

Equídeos roedores, como a capivara, participam do ciclo de transmissão, por serem transportadores de carrapatos potencialmente infectados. A doença concentra-se nas regiões Sudeste e Sul do país, com maior incidência entre os meses de agosto e outubro e seu período médio de incubação é de sete dias.

A febre maculosa, inicialmente denominada febre maculosa das Montanhas Rochosas, foi identificada pela primeira vez no estado de Idaho, nos Estados Unidos, no final do século XIX. Seu nome deveu-se a sua grande incidência nos estados americanos cortados pela cadeia das Montanhas Rochosas.

Em 1906, o agente etiológico, a Rickettsia rickettsii (riquétsia) foi descrito por Howard Taylor Ricketts, que identificou também o carrapato como principal vetor de transmissão.

A febre maculosa é muito semelhante ao tifo. Em função dessa semelhança, Ricketts foi convidado a colaborar em pesquisas durante uma epidemia de tifo no México. Dias após isolar e identificar o microrganismo causador da doença, contaminou-se e veio a falecer de tifo em 1910.

No Brasil, a febre maculosa também é conhecida como tifo transmitido pelo carrapato ou febre petequial. Foi reconhecida pela primeira vez, no Brasil, em 1929, em São Paulo. Logo depois, foi descrita em Minas Gerais e no Rio de Janeiro

Epidemiologia da Febre Maculosa Brasileira (FMB)

A febre maculosa e outras riquetsioses têm sido registradas em áreas rurais e urbanas do Brasil. A maior concentração de casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, onde, de maneira geral, ocorre de forma esporádica.

A doença acomete a população economicamente ativa (20-49 anos), principalmente homens, que relataram a exposição a carrapatos, animais domésticos e/ou silvestres ou frequentaram ambiente de mata, rio ou cachoeira. Cabe destacar que 10% dos registros da doença são em crianças menores de 9 anos de idade.

Quanto a sazonalidade, verifica-se que o período de maior incidência é em outubro, período no qual se observa maior densidade de ninfas de carrapatos, podendo variar de região para região. A febre maculosa tem sido registrada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Goiás, Ceará e Mato Grosso do Sul.

As capivaras e os cavalos assumem grande importância na cadeia epidemiológica da doença, pois são os principais reservatórios dos carrapatos transmissores da febre maculosa. Os animais mantidos em pastos sujos, com vegetação alta, ou em matas ciliares encontram um ambiente bastante propício para a infestação. A Rickettsia rickettsii é o agente etiológico mais frequente e produz casos mais graves, embora existam outras espécies de riquétsias infectantes associadas a doença.

Febre Maculosa Brasileira predominante na região metropolitana de São Paulo (áreas urbanas que tem divisa com fragmentos de Mata Atlântica) possui um perfil diferente do citado. O R. rickettsii segue sendo o agente etiológico com o vetor carrapato Amblyomma aureolatum.

Neste perfil, cães e gatos com acesso livre aos fragmentos de Mata Atlântica são parasitados por estágios adultos de A. aureolatum, levando-os ao domicílio e peridomicílio, com o subsequente risco de parasitismo para os humanos. O contato prévio como aninais domésticos (principalmente cães) é apontado como um dos principais fatores exposicionais.

O quadro clínico nos humanos não apresenta diferenças quanto ao perfil anterior e não existe um padrão de sazonalidade específico. A incidência dos casos confirmados tem sido semelhante nos dois sexos, porém há uma parcela significativa em crianças (inclusive bebês), estando fortemente relacionada a transmissão intra domiciliar.

Em um estudo descritivo de série histórica, com tempo de seguimento de seis anos, utilizando dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde foi identificado um total de 75 óbitos, distribuídos ao longo de 2005 a 2010, havendo uma variação de incidência por sexo. Observou-se uma predominância entre homens (74,7%) em relação às mulheres (25,3%), nas faixas etárias compreendidas entre 11 a 20 anos e 21 a 30 anos, apesar de a faixa de 41 a 50 anos também apresentar número expressivo de óbitos.

Imagem de gráfico sobre Óbitos, de 2005 a 2010, por Febre Maculosa Brasileira, de acordo com faixa etária e sexo.

Imagem: Óbitos, de 2005 a 2010, por Febre Maculosa Brasileira, de acordo com faixa etária e sexo. Fonte: ARAÚJO, Rachel Paes de. Febre maculosa no Brasil: estudo da mortalidade para a vigilância epidemiológica. Cadernos Saúde Coletiva, 2016.

A distribuição dos óbitos causados por R. rickettsii por região geográfica mostra uma concentração na Região Sudeste (97,3%) e alguns casos na Região Sul (2,7%). O estado com maior número de óbitos foi São Paulo (61,3%), seguido de Minas Gerais (20%) e do Rio de Janeiro (10,7%)

Imagem: Distribuição no Brasil dos óbitos causados por Rickettsia rickettsii no período de 2005 a 2010. Fonte: ARAÚJO, Rachel Paes de. Febre maculosa no Brasil: estudo da mortalidade para a vigilância epidemiológica. Cadernos Saúde Coletiva, 2016.

SE LIGA! De acordo com a Portaria do MS de consolidação Nº 4 de 03 de outubro de 2017 todo caso de febre maculosa é de notificação obrigatória às autoridades locais de saúde, devendo se realizar a investigação epidemiológica em até 48 horas após a notificação, avaliando a necessidade de adoção de medidas de controle pertinentes.

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