Fibromialgia: o que você precisa saber | Colunistas

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Introdução

Fibromialgia é uma doença que tem como característica uma dor muscular difusa junto com distúrbios de sono, fadiga e distúrbios emocionais. Ela é uma das doenças reumatológicas mais comuns sendo que no mundo ela acomete de 0,2% a 5% da população mundial. Já no Brasil, o prevalência é de 2 a 2,5%. Além disso, a maioria dos pacientes são mulheres e a idade mais prevalente é entre os 30 e 50 anos de idade.

Apesar de hoje ser uma doença conhecida, somente a partir da década de 70 é que surgiram mais pesquisas sobre ela. Tanto que o termo fibromialgia surgiu apenas em 1981, quando foi sugerido que o termo antigo fibrosite fosse substituído pelo atual.

Outro ponto importante da fibromialgia é que ela não tem tratamento! Se tratam somente os sintomas.

Causa e fisiopatologia

A causa da fibromialgia e sua fisiopatologia ainda não foram confirmados. Entretanto a principal hipótese é que há uma alteração no eixo da dor devido algum gatilho estressante de qualquer natureza (trauma, emocional, infecção, doença crônica, etc). Fisiologicamente, o eixo da dor tem uma via ascendente e uma descendente. A ascendente é uma via excitatória composta neurotransmissores como glutamato e substância P, já a via descendente é uma via inibitória composta por neurotransmissores como noradrenalina e serotonina. A alteração em questão seria uma disfunção neuro hormonal com deficiência de neurotransmissores inibitórios e/ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios. Devido a diminuição da inibição da dor e um aumento da sensibilidade da mesma, a resposta da dor estará aumentada.

Já os distúrbios do sono e humorais acontecem possivelmente devido a dor crônica.

Quadro clínico

O sintoma mais importante da fibromialgia sem sombra de dúvidas é a dor que tem como características ser difusa, crônica (>3 meses de duração) e acometer tanto áreas axiais quanto periféricas. Além da dor, o sono desregulado, a alteração do humor e a fadiga também são características importantes da doença. 

Outros sinais e sintomas seriam parestesia e sensação de edema articular, além das manifestações satélites, que estão presentes em 90% dos pacientes com fibromialgia. Essas manifestações são cefaleia, cistite intersticial, síndrome da fadiga crônica (que é a manifestação satélite mais frequente), distúrbios funcionais instestinais, síndrome das pernas inquietas, distúrbio cognitivo, dor pélvica crônica e disfunção da articulaçãoo temporomandibular.

Diagnóstico

Para o diagnóstico de fibromialgia existem dois critérios essenciais, que é os critérios feitos pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR) de 1990 e os critérios também feitos pelo ACR em 2010/2011. Vale ressaltar que o melhor a se fazer para diagnosticar a fibromialgia é usar ambos os critérios.

Os critérios de 1990 têm os famosos “tender points”. Os tender points são ao todo 18 pontos dolorosos em locais como musculatura, ligamentos e bursas. Entretanto, apesar de serem famosos, os tender points atualmente não são mais obrigatórios para se fazer o diagnóstico de fibromialgia. Isso porque os pacientes com fibromialgia podem ter dor em outros locais além dos 18 pontos ou até mesmo ter menos que 11 pontos dolorosos (o diagnóstico antigamente pedia que pelo menos 11 dos 18 pontos tivessem dor no exame físico) e porque poucos médicos tem experiência em realizar a palpação dos tender points Além dos tender points, segundo este critério, a dor deve estar presente por no mínimo 3 meses e deve ser difusa e generalizada, assim, ela deve estar presente nos hemicorpos direito e esquerdo, acima e abaixo da cintura e no eixo axial.

Já os critérios de 2010/2011 não tem os tender points, assim, aumentando a sensibilidade do teste. Além disso, a cefaleia, a fadiga e o distúrbio cognitivo se tornaram critérios diagnósticos. Para a dor, foram criados duas ferramentas: o índice de dor generalizada (IDG) e a escala de gravidade dos sintomas (EGS).

O IDG utiliza 19 regiões possíveis do paciente sentir dor, assim, seu escore é de 0 a 19. Já o EGS avalia a gravidade de sintomas específicos, que são fadiga, sono não reparador e sintomas cognitivos, sendo que a gravidade pode variar de 0 a 3 pontos. Já sintomas como dor abdominal, cefaleia e depressão é avaliado o número dos sintomas, assim, variando de 0 a 3. Portanto, é possível pontuar entre 0 e 12 pontos.

Assim, caso o IDG seja maior ou igual a 7 associado com um EGS maior ou igual a 5 ou caso o IDG seja entre 3 e 5 e o EGS maior ou igual a 9, o diagnóstico de fibromialgia é altamente sugestível. Além disso como nos critérios de 1990, a dor deve estar presente por no mínimo 3 meses e não pode haver outra doença que explique essa dor.

Vale ressaltar que em 2016, os critérios de 2010/2011 foram atualizados, assim, atualmente o diagnóstico de fibromialgia  é feito com:

  • dor generalizada em pelo menos 4 das 5 regiões preestabelecidas
  • Sintomas por no mínimo 3 meses
  • IDG >7 e EGS >5 ou IDG 4-6 e EGS>9

Além disso, é importante dizer que o diagnóstico de fibromialgia é válido independentemente de outros diagnósticos, ou seja, ela não é um diagnóstico de exclusão.

Tratamento

O tratamento da fibromialgia tem como principal meio as medidas não farmacológicas como educar o paciente em relação a doença dele, exercícios físicos, principalmente os aeróbios e terapias psicológicas. Outras medidas não medicamentosas, mas que foram pouco estudadas e ainda não são tão indicadas são a acunputura, que aparenta melhorar a dor no curto prazo, a quiropatia e a massagem. Porém, vale ressaltar novamente, essas três últimas citadas ainda necessitam de mais estudos que comprovem sua eficácia.

Já o tratamento medicamentoso envolve o uso de antidepressivos tricíclicos, os inibidores duais e os inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Outro medicamento que pode ser usado para a dor difusa e para o sono são os gabapentinpoides como a pregabalina. Também pode se usar relaxantes musculares como a ciclobenzaprina e para casos de resgate pode se usar tramadol.

Anti inflamatórios não esteroidais,, benzodiazepínicos e glicocorticóides não são recomendados.

Pedro Henrique Nakada

Instagram: @phnakada


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Heyman RE, et al. Fibromialgia diagnóstico. Sociedade Brasileira de Reumatologia, Associação Médico Brasileira. Disponível em https://diretrizes.amb.org.br/_DIRETRIZES/Fibromialgia_%E2%80%93_diagn%C3%B3stico_aut_OK/O%20Meu%20Cat%C3%A1logo/files/assets/common/downloads/publication.pdf . Acesso em 11 de junho de 2021.

Fibromyalgia. Mayo Clinic. Disponível em https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/fibromyalgia/symptoms-causes/syc-20354780 . Acesso em 11 de junho de 2021

Paiva, ES; Martinez, JE; Provenza JR. Fibromialgia. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2a edição, capítulo 96.

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