Índice
Confira nesta publicação tudo que você precisa saber sobre os fios de sutura!
A palavra sutura refere-se a todo o material usado para aproximar ou laquear tecidos, auxiliando assim no processo de cicatrização por primeira intenção.
O fio de sutura começou a ser usado para o fechamento das feridas a mais de 4.000 anos e vem evoluindo ao longo do tempo. Apesar dessa evolução, nenhum fio de sutura tem todas as características que o classifiquem como o fio ideal.
A escolha do material de sutura deve ser de acordo com as propriedades biológicas dos tecidos a serem aproximados, nas características físicas e biológicas dos fios e nas condições da ferida a ser fechada.
Classificação dos fios de sutura
Podem ser classificados de acordo com alguns parâmetros como a sua estrutura, origem do material e permanência nos tecidos.
- Degradação, eles são classificados em: absorvíveis e não absorvível;
- Material, podem ser: sintético ou natural;
- Configuração física, ou seja, de acordo com o seu filamento: monofilamento (associado a menor risco infeccioso e menor trauma tecidual) e multifilamento (associado a maior resistência a tensão, mais flexível e mais fácil de manusear).
O manuseio do fio é determinado por três propriedades: a memória, a elasticidade e a tensão dos nós. A memória refere-se à tendência para manter a posição – quanto maior a memória maior é a dificuldade em dar os nós e mantê-los com tensão.
A elasticidade diz respeito à possibilidade de retorno à posição inicial após a sutura ter sido estirada – efeito elástico, no qual mantém a tensão da sutura em áreas com variações de volume (edema). A tensão dos nós é a força necessária para um nó deslizar, sendo de especial importância na laqueação arterial.
Monofilamento | Multifilamento |
Poliglecaprone (Monocril) | Poliglactina (Vicril) |
Polidioxanona (PDS) | Ácido poliglicólico (Dexon) |
Poligliconato (Maxon) | Catgut |
Monofilamento | Multifilamento | Misto |
Ethilon | Seda | Nurolon |
Dermalon | Mersilk | |
Prolene | Ethiflex | |
Surgilene | Ethibond | |
Mersilene | Dacron | |
Novafil | Ethicon | |
Polydek | ||
Nurolon |
A escolha em fio absorvível ou fio não absorvível deve considerar o tempo necessário para a ferida cicatrizar, a tensão suportada pelos tecidos durante o processo de cicatrização e a questão da necessidade temporária ou permanente do fio de sutura para garantir o suporte mecânico.
Descrição de cada fio:
Absorvíveis
Monocril
Monofilamentar, sintético e absorção completa por hidrólise entre 90 e 120 dias. É constituído por um copolímero de poliglicaprona 25, tem uma boa segurança, alta resistência, pouca memória, ou seja, tem uma facilidade de manuseio e gera pouco traumatismo tecidual.
Polidioxanona (PDS)
Monofilamentar, sintético e sua absorção por hidrólise inicia após 90 dias e termina após 180 dias. Mantém uma boa força de tensão durante 60 e 90 dias.
É produzido a partir da polimerização da paradioxanona. Passível de ser utilizado na suspensão vaginal e no encerramento da aponeurose, sendo seguro também em suturas vasculares.
Poligliconato (Maxon)
Monofilamentar, com absorção lenta podendo demorar 180 a 210 dias e alta resistência. É constituído por poligliconato.
Catgut
Trata-se de um fio monofilamentar, absorvido por digestão enzimática, na qual, provoca reação tecidual mais intensa do que os absorvíveis. Atualmente não é utilizado, por se tratar de um derivado da submucosa ou da serosa do intestino bovino, dividido em Catgut simples e Catgut cromado.
O simples com 5 a 7 dias perde metade da resistência e com 3 a 4 semanas pede toda a resistência. Já o cromado prolonga o tempo de absorção e aumenta a resistência, perdendo a metade da resistência em 19 a 20 dias e após 5 semanas perde 100%.
Lesão de tendão e fáscia tem uma cicatrização mais prolongada, com isso, o catgut deve ser evitado nesses casos, além de serem submetidas as esforços e tensões constantes. E é contraindicado a sua utilização em suturas de úlceras duodenais, anastomoses pancreatojejunais e anastomoses biliares, podendo ser absorvido rapidamente pela ação de enzimas.
Ácido poliglicólico (Dexon)
Trata-se de um fio multifilamentar, foi o primeiro fio sintético e absorvível fabricado. Ele é absorvido por hidrolise, liberando monômero ácido glicólico solúvel. A sua absorção completa pode durar 90 a 120 dias.
Poliglatina 910 (Vicril)
Segundo fio sintético e absorvível produzido. É composto pela união de 2 polimeros, 90% de ácido glicólico e 10% de ácido lático. Trata-se de um fio com força tênsil de 28 a 35 dias e a absorção completa após 70 dias.
Permite dar nós seguros e com fácil execução, gera pouco traumatismo ao tecido e pouca reação do corpo contra o fio. Bem utilizado na Ginecologia e obstetrícia.
Inabsorvíveis
Polipropileno (Prolene, Surgilene)
Constituído por polipropileno. Possui uma elevada a resistência a tensão permanecendo imutável em testes realizados após vários anos de implantação nos tecidos. Tem uma grande elasticidade, e a facilidade em distribuir a tensão em suturas continuas, gera pouca reação do tecido suturado e é fácil de remover.
Leva a pouca proliferação bacteriana, já que se trata de um fio monofilamentar. Já que tem uma alta resistência e uma boa elasticidade, se torna um fio adequado para anastomoses vasculares, anastomoses de tendões e suturas da parede abdominal.
Nylon (Ethilon e Dermalon)
São fios de Nylon, tem uma elevada resistência a tensão, elasticidade e memória. Provoca uma reação tecidual mínima. Passa por hidrólise lenta, perdendo 15-20% da resistência a tensão por ano.
Poliéster (Mersilene)
Primeiro fio sintético não absorvível a ser produzido. É multifilamentar e traçado, com uma resistência a tensão constante e elevada.
Polibutester (Novafil)
Monofilamentar sintético com elevada elasticidade, flexibilidade e resistência a tensão. Tem uma boa segurança dos nós e um bom grau de alongamento, tornando benéfico para o fechamento da parede abdominal.
Poliamida (Nylon)
Disponível no mercado tanto monofilamentar quanto multifilamentar trançado. Gera pouca reação tecidual e pode ser utilizado em tecidos infectados na apresentação monofilamentar.
Outras vantagens, baixo custo e fácil manuseio, em contrapartida, os nós podem desfazer-se com facilidade.
Conclusões sobre fios de sutura
O fio ideal seria aquele que pode ser utilizado em qualquer momento, maleável e flexível facilitando o manuseio, permitindo dar nós seguros, gerando pouca reação no tecido.
É importante conhecer as propriedades de cada fio e a sua utilização, de acordo com o tipo de tecido e a ração tissular que irá provocar.
A escolha de qual fio utilizar depende de uma série de fatores, como:
- o tempo necessário para a lesão cicatrizar,
- a tensão suportada pelos tecidos durante o processo de cicatrização e
- a questão da necessidade ser temporária ou permanente para garantir o suporte.
Sugestão de leitura complementar
Esses artigos podem ser do seu interesse:
- Como passar na prova de anatomia da faculdade de medicina?
- Saiba tudo sobre a vacina contra o câncer de próstata, pulmão e ovários
- O que preciso saber sobre a aula prática de anatomia do cérebro?
Veja também:
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.
Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.
Referências
Medeiros ACM, Araújo-Filho I, de Carvalho MDF. Fios de Sutura. Jour Surg Cli Res. Vol. 7 (2) 2016:74-86
Barros M, Gorgal R, Machado AP, Correia A, Montenegro N. Princípios básicos em Cirurgia: Fios de sutura. Acta Med Port. 2011; 24(S4): 1051-1056