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Coleta de dados no início da pandemia
Quando um surto ocorre, dados confiáveis são de extrema importância para que os responsáveis pela saúde pública consigam tomar decisões políticas, médicas e alocar recursos para poder reduzir ao máximo os efeitos da moléstia. No caso de uma epidemia emergente, informações atualizadas em tempo real permitem monitorar e prever o grau de propagação da doença. Então, a partir do momento da identificação dos primeiros casos de COVID-19 em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, pesquisadores começaram a reunir informações para ajudar epidemiologistas a modelar a trajetória do SARS-CoV-2.
Com o contínuo aumento de número de casos e propagação mundial de COVID-19, alguns voluntários da Universidade de Oxford e um time do Boston Children’s Hospital passaram a publicar manualmente, em planilhas, informações revisadas por pares para gerar referências confiáveis para a comunidade global. No entanto, o documento ficou sobrecarregado, ao ultrapassar a marca de 100.000 casos.
Mudança feita pelo Google
O Google e o Google.org, além de conceder 1,25 milhão de dólares, criaram, em parceria com pesquisadores de instituições acadêmicas dos EUA e Europa, uma forma de automatizar diariamente os dados de coronavírus de vários países, com algoritmo capaz de juntar informações dispersas e deletar registros duplicados de um mesmo caso. Para a construção do banco de dados, os arquitetos do projeto consultaram especialistas em questões éticas e legais para garantir o manejo e divulgação segura dos dados, os quais são resguardados por agências governamentais, universidades e hospitais, porque apesar de muitos países coletarem dados minuciosos durante surtos, eles, muitas vezes, não podem ser compartilhados abertamente devido a questões de privacidade. Dessa forma, as informações disponíveis no repositório são contínua e rigorosamente checadas para garantir o anonimato.
Atualmente, o Global.health possui informação de mais de 24 milhões de casos de 150 países, contabilizando em torno de 8 gigabytes de informação anonimizada individual proveniente de autoridades de saúde pública. Para cada indivíduo, existem até 40 variáveis associadas à história clínica, uma vez que dados individuais são extremamente importantes para os epidemiologistas poderem determinar a velocidade de propagação da doença entre diferentes grupos e, na situação atual, são também essenciais para monitorar as variantes e a vacinação, por exemplo, já que informações sobre o status da vacinação e infeção de uma pessoa com uma determinada variante do coronavírus pode ajudar a responder questões científicas sobre a resposta imune em relação às vacinas.

Fonte:https://global.health
Inovação e acessibilidade
Durante o decorrer da pandemia, houve a invenção de inúmeros mecanismos de rastreamento da doença, com constantes atualizações sobre a quantidade de novos casos e óbitos, como foi o caso do Global COVID-19 Dashboard, criado pela Universidade Johns Hopkins. No entanto, o Global.health é o primeiro banco de dados com informações-chave de casos de uma doença infecciosa, bem como suas variáveis associadas, como a data dos primeiros sintomas, o dia da confirmação por teste laboratorial, histórico de hospitalizações, comorbidades e viagens do paciente, representando uma gigante inovação para a área da medicina.
A utilização da plataforma é permitida a qualquer pessoa que disponha de um e-mail e acesso à internet, o que torna mais fácil para pesquisadores de localidades com relativamente poucos recursos poderem visualizar os dados e dar continuidade às pesquisas e aos avanços na área da saúde, propiciando uma cooperação e integração ágil entre vários grupos de pesquisa e governos. Um repositório aberto é necessário inclusive para a superação de barreiras geográficas, organizacionais e econômicas existentes no acesso à informação e, assim, promover o empoderamento de cientistas locais e, também, uma maior democratização da saúde pública.
As informações regionais disponíveis também são de extrema importância para autoridades de saúde pública locais, porque a integração e disseminação de dados de alta qualidade em tempo mínimo é vital para possibilitar a agilidade da criação de uma resposta de saúde pública para conter o avanço da doença.
O futuro da saúde mundial
A infraestrutura arquitetada tem potencial para não só ajudar na batalha contra a COVID-19, mas também pode ser adaptada para pesquisa de outras doenças e, então, acelerar respostas em futuras pandemias, sendo um mecanismo essencial para o rastreamento e prevenção, porque, com a tecnologia disponível anteriormente, não era possível monitorar, em tempo real, dados tão detalhados de diversas partes do mundo. Se a plataforma tivesse sido criada antes, epidemiologistas poderiam ter sido capazes de verificar a gravidade da disseminação da doença na China, mesmo antes de a Organização Mundial da Saúde confirmar a existência de uma pandemia em 11 de março de 2020.
O Global.health é um marco importante para a criação de um sistema global de vigilância de doenças mais integrado, acessível e prontamente atualizado, capaz de reunir informações importantes para diversas áreas da saúde, o que, no contexto de uma pandemia, é essencial para permitir o entendimento da doença. Com isso, espera-se que pessoas de diversos países possam se beneficiar com dados anonimizados de livre acesso de uma forma aberta e colaborativa, ensejando maiores avanços científicos e o melhor manejo possível de uma futura pandemia.
Autora: Natália Migliore

O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Referências:
Massive Google-funded COVID database will track variants and immunity – https://www.nature.com/articles/d41586-021-00490-5
How anonymized data helps fight against disease – https://blog.google/outreach-initiatives/google-org/how-anonymized-data-helps-fight-against-disease/
New Google.org COVID-19 database could hold key to disease’s mysteries – https://abcnews.go.com/Health/google-covid-19-database-hold-key-diseases-mysteries/story?id=76211711
Data curation during a pandemic and lessons learned from COVID-19 – https://www.nature.com/articles/s43588-020-00015-6