Coronavírus

Hidroxicloroquina com azitromicina para pacientes ambulatoriais de alto risco: foi efetivo?

Hidroxicloroquina com azitromicina para pacientes ambulatoriais de alto risco: foi efetivo?

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Um estudo buscou avaliar a eficácia da hidroxicloroquina com azitromicina em prevenir desfechos fatais para pacientes ambulatoriais de alto risco com COVID-19. Neste post buscaremos discutir os achados do estudo e avaliar se a combinação das drogas se mostrou benéfica. 

O estudo buscou avaliar o uso de terapia no contexto ambulatorial. Após mais de 1 ano de pandemia, apenas duas drogas tiveram eficácia comprovada no tratamento contra a COVID-19. 

As drogas foram o Remdesivir e Corticoides, ambos no contexto hospitalar. No contexto ambulatorial, não há evidência do uso de terapias para prevenir progressão da doença.

O estudo buscou avaliar a associação de hidroxicloroquina e azitromicina no contexto ambulatorial, onde a maioria das infecções, transmissões e recuperações acontecem. 

Nesse sentido, encontrar uma terapia que seja eficaz em prevenir progressão da doença, diminuir transmissão e risco de hospitalização, se fazem necessárias, principalmente para aqueles indivíduos de alto risco. 

A motivação do estudo

A droga antimalárica hidroxicloroquina mostrou atividade in vitro contra o SARS-CoV-2, e a combinação com a azitromicina, a partir de dados observacionais, havia mostrado diminuição do tempo de clearence viral. 

Já foram realizados 3 ensaios clínicos randomizados, testando o uso da hidroxicloroquina em pacientes ambulatoriais, todos sem sucesso em mostrar benefício.

A maioria dos estudos, porém, foram feitos em população jovem e sem comorbidades.

O objetivo da pesquisa que aqui analisamos foi enriquecer os dados já obtidos, desta vez estudando o uso da droga em pacientes de alto risco. 

Como o estudo foi realizado: metodologia

O objetivo do estudo era analisar o efeito do uso combinado destas drogas em prevenir progressão para infecção do trato respiratório inferior, hospitalização e morte por COVID-19. 

O estudo consistiu em ensaio clínico randomizado, duplo cego, controlado por placebo. Participaram do estudo adultos dos Estados Unidos com infecção pelo SARS-CoV-2 confirmada laboratorialmente. 

Os pacientes foram divididos em três grupos: terapia com hidroxicloroquina (HCQ – 400mg 1x/dia, seguido de 200mg durante 9 dias), com ou sem azitromicina (AZ – 500mg, seguido de 250mg durante 4 dias), e o grupo placebo (ácido ascórbico mais ácido fólico).

Os pacientes foram estratificados de acordo com o risco para progressão para doença grave (alto risco versus baixo risco).

Os desfechos primários analisados foram: progressão em 14 dias para infecção do trato respiratório inferior, hospitalização ou morte no 28° dia relacionado à COVID-19, tempo de clearence viral.

O desfecho secundário analisou o tempo de resolução dos sintomas. 

Resultados e discussão

Participaram do estudo um total de 231 pacientes. A média de início da terapia foi de 5,9 dias após início dos sintomas. 

Os resultados mostraram que a terapia com HCQ, ou HCQ/AZ, não foi eficaz em diminuir o curso clínico de pacientes ambulatoriais com COVID-19.

Um modesto efeito foi observado no clearence viral dos pacientes tratados com HCQ, mas não naqueles tratados com HCQ/AZ. 

O estudo concluiu, portanto, que a Hidroxicloroquina e a terapia combinada hidroxicloroquina/azitromicina não foram terapias efetivas para tratamento de pacientes ambulatoriais com infecção pelo SARS-CoV-2. 

Os achados do estudo são compatíveis com outros dois ensaios clínicos randomizados, que não mostraram benefício na diminuição da duração dos sintomas em pacientes ambulatoriais em uso de hidroxicloroquina. 

Conclusão

Este é mais uma análise que realizamos aqui mostrando a corrida contra um vírus que ainda assola nosso planeta. A busca por terapias que reduzam a morbimortalidade e a transmissão da COVID-19 deve continuar.

O tratamento precoce efetivo continua sendo um dos objetivos de pesquisados ao redor do mundo.

Apesar do insucesso do estudo em mostrar algum benefício com o uso da hidroxicloroquina e a azitromicina, a pesquisa se mostra importante pois apresenta dados que se somam às evidências já coletadas, e servirá de base para pesquisas futuras. 

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Referências

Hydroxychloroquine with or without azithromycin for treatment of early SARS-CoV-2 infection among high-risk outpatient adults: A randomized clinical trial – The Lancet