Endocrinologia

Histologia e fisiologia do pâncreas endócrino | Colunistas

Histologia e fisiologia do pâncreas endócrino | Colunistas

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Imagem de perfil de Natália de Oliveira

Primeiramente, o pâncreas é conceituado como uma glândula mista, ou seja, esse órgão tem função tanto endócrina quanto exócrina, ambas de extrema importância para a manutenção do metabolismo digestivo e energético do corpo. 

Ademais, as secreções endócrinas do pâncreas determinam mudanças na homeostase do meio interno, as quais se relacionam com a ocorrência de doenças de alta prevalência e caráter endêmico, como o Diabetes Mellitus (DM), a obesidade e a Síndrome Metabólica.

Assim, no caso da sua parte endócrina, há a presença de aglomerados celulares, de aproximadamente 300 células, chamados de “Ilhotas de Langerhans”, as quais estão localizadas de maneira mais concentrada na parte caudal do pâncreas mas estão dispersas entre os ácinos serosos de toda a glândula que fazem o controle da parte exócrina.Também, essas ilhotas têm um tipo de conexão entre elas, pelas junções de Gap, o que facilita diversos processos de nutrição e de secreção.

Células das ilhotas

As células das ilhotas são divididas em:

  1. Alfa;
  2. Beta;
  3. Delta;
  4. Delta1;
  5. PP;
  6. G;
  7. Épsilon.

Cada uma delas secretam hormônios diferentes, de acordo com a ordem anterior:

  1. Glucagon;
  2. Insulina e amilina;
  3. Somatostatina;
  4. Polipeptídeo intestinal vasoativo;
  5. Polipeptídeo pancreático;
  6. Gastrina;
  7. Grelina.

Histologia

Histologicamente, as células não podem ser diferenciadas por métodos comuns de histologia, deve haver um tratamento imunocitológico específico para cada uma, com a adição de eletromicrografias. 

Além disso, o pâncreas é ricamente vascularizado por vasos sanguíneos, porém não há hierarquia na irrigação das células endócrinas em humanos. E é inervado por fibras provindas do Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático(Norepinefrina, Acetilcolina, GABA). 

           ⤷Nesse corte histológico de um pâncreas de rato, B é a coloração da ilhota para visualização das células beta, produtoras de insulina, C é a coloração das células alfa, produtoras de glucagon.

Fisiologia:

(Insulina)

A secreção de insulina é um processo complexo que envolve principalmente a percepção celular da concentração de glicose no meio extracelular.

Nesse sentido, uma curiosidade interessante é que a glicose ingerida tem maior potencial de estímulo da secreção de insulina que a glicose injetável, porque nos processos de digestão tem a liberação de GIP(peptídeo insulinotrópico dependente de insulina), que é um hormônio intestinal que promove a liberação de insulina e inibe a motilidade intestinal=EFEITO INCRETINA. 

Função

  • A insulina é um hormônio famoso, pois está intimamente relacionado à diminuição da glicemia no sangue, ou seja, tem uma ação hipoglicêmica, promovendo a entrada de glicose nas células-alvo. E, ao mesmo tempo, inibe processos de gliconeogênese e de glicogenólise.
  • Causa a diminuição das concentrações sanguíneas de ácidos graxos, de cetoácidos→inibe a beta-oxidação, e de aminoácidos→carácter anabólico. 
  • A insulina parece ter um efeito direto sobre o centro hipotalâmico da saciedade independentemente das consequências da glicemia. 

Secreção

A insulina é sintetizada no REG das células beta a partir de uma cadeia polipeptídica, a pré-pró-insulina, uma molécula de alta densidade e pouca compactação, que sofre clivagem enzimática de um fragmento de polipeptídeo e se transforma em pró-insulina.

Esse novo produto segue para o Complexo de Golgi das células B, é clivado/auto-excisão e tem a separação do peptídeo C(conector) e da insulina de fato.

Todavia, eles são armazenados juntos em grânulos secretórios, revestidos por clatrinas e aguardam a sinalização da glicose extracelular. 

Então, a partir da efetivação da sinalização, a glicose é transportada para dentro das células B pelo transportador GLUT2, que tem baixa afinidade por glicose, mas alta capacidade de transportá-la. Agora dentro da célula, a glicose é fosforilada a glicose-6-fosfato, pela enzima  glicoquinase, depois ela é oxidada e forma ATP, que é um fator importante para secreção de insulina. 

O ATP fecha os canais de (K+) na membrana celular sensíveis a essa moeda energética, causando uma despolarização da mesma. Isso propicia a entrada de (Ca+) sensíveis à voltagem, seguindo seu gradiente  eletroquímico. 

Esse aumento da concentração de (Ca+) causa a secreção, de fato, da insulina, que vai se deslocando do Comp. de Golgi para a membrana celular, perdendo as clatrinas no seu revestimento. Então, ocorre sua exocitose, com ajuda das fibras do citoesqueleto, por meio de seus grânulos, os quais entram na circulação êntero-hepática e já sofrem uma degradação de 50% por insulinases específicas, depois entram na circulação sistêmica. 

-Na célula-alvo: A insulina guia a glicose para local específico e se liga aos receptores de membrana, como o ENPP-1, o qual transfere a insulina para dentro da célula e permite a ligação dela com uma outra proteína, a IRS, que irá fosforilar a insulina e permitir sua utilização pelo GLUT4, para, finalmente, a entrada da glicose dentro da célula.  

(Glucagon)

-Fatores iniciais: É considerado o hormônio antagonista da insulina, ou seja, com o aumento da glicemia, há a inibição desse hormônio, sendo sua supressão máxima em valores glicêmicos próximos de 200mg/dl e sua estimulação máxima em valores próximos de 50mg/dl. 

Seus grânulos das células alfa são muito mais numerosos, mais compactados, menores e mais densos que os das células beta.

Eletromicrografia de células α (A) e células β (B) de ilhota de Langerhans de coelho. Observe que os grânulos das células α são muito mais numerosos, em arranjo mais compacto, menores e mais densos do que os das células β (5.040 ×). (Fonte: Jorns A, Grube D. The endocrine pancreas of glucagon-immunized and somatostatina-immunized rabbits. Cell Tissue Res. 1991;265:261-273.)

-Função: Esse hormônio atua principalmente nos hepatócitos, na quebra do glicogênio em glicose.

Também, ele ativa as enzimas hepáticas responsáveis pela gliconeogênese, então, incentiva uma oferta cada vez maior de energia, tendo um efeito positivo na concentração sanguínea de ácidos graxos e dos cetoácidos. 

-Secreção: Assim como na insulina, há a formação de um pró-hormônio, que irá sofrer clivagem proteolítica e se transformar na sua forma ativa. Assim, terá sua ligação com os receptores de membrana das células-alvo, que serão acoplados à Adenilil ciclase por uma proteínas Gs. Esse processo é estimulado, além da glicemia, pela ingestão de proteínas, em especial, as que possuem aminoácidos arginina e alanina,  pela liberação de colecistocinina, pelo jejum e pelo exercício intenso. 

(Somatostatina)

Ela possui um efeito parácrino e endócrino, ou seja, pode agir inibindo as células alfa e beta, também, age nas células musculares lisas do trato digestivo e da vesícula biliar, reduzindo a motilidade desses órgãos. Tudo isso, como uma resposta aos altos níveis de glicose, de aminoácidos, de quilomícrons no sangue após uma refeição.

(Polipeptídeo intestinal vasoativo)

Ele induz a glicogenólise e a hiperglicemia, além de regular a motilidade intestinal, o tônus da musculatura lisa da parede intestinal e a secreção de íons e de água pelas células epiteliais intestinais. 

(Polipeptídeo pancreático)

Ele ↓ o HCL secretado pelas células parietais estomacais, inibe as secreções exócrinas do pâncreas e também estimula a liberação de enzimas pelas células principais do estômago. 

(Gastrina)

Ela ↑ liberação de HCL pelas células parietais e aumenta a taxa regenerativa das células estomacais. 

(Amilina)

Ela inibe o esvaziamento estomacal e participa na inibição de glucagon. 

(Grelina)

Ela induz a sensação de fome e modula a taxa de relaxamento receptivo da musculatura lisa da túnica muscular externa do trato gastrointestinal. 

Referências Bibliográficas:

-Tratado de Histologia, de Leslie P. Gartner, quinta edição/Fisiologia, de Linda S. Constanzo, sexta edição/Fisiologia Humana, uma abordagem integrada, de Dee Ungalub Silverthorn, sétima edição.

Autora: Natália de Oliveira Lima, @natii_limaa. 

O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.