Infectologia

Infecções por Taenia solium: o que é preciso saber? | Colunistas

Infecções por Taenia solium: o que é preciso saber? | Colunistas

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Imagem de perfil de Danieli Coelho

Popularmente conhecida como solitária, a Taenia solium é um parasita helminto da família Taenidae, classe Cestoidea e a ordem Cyclophyllidea. Podem chegar a medir de 3 a 5 metros de comprimento e viver por anos no organismo humano. Existem 3 estágios de desenvolvimento: ovos, cisticerco e verme adulto.

Os ovos são esféricos, de 30 a 40 μm de diâmetro e possuem um embrião hexacanto também chamado de oncosfera, são liberados nas fezes dos seres humanos.

O cisticerco é o estado larvário do parasita e consiste em um escólex que invaginou em uma vesícula preenchida com um fluido. Se desenvolve nos tecidos do hospedeiro intermediário, normalmente os suínos.

O verme adulto possui o corpo achatado em forma de cinta e a cabeça ou escólex consta com 4 órgãos de fixação chamados de ventosas. Outra característica desta espécie é que o corpo é segmentado e cada um desses segmentos individuais são denominados proglotes e o conjunto destas é denominado estróbilo. Cada proglote possui órgãos de reprodução masculino e feminino e devido a isto são hermafroditas. Conforme as proglotes se distanciam da cabeça elas sofrem maturação e quando maduras se desprendem e eliminam os ovos juntos com as fezes do hospedeiro.

Ciclo biológico

O ciclo biológico da Taenia solium consta com um hospedeiro intermediário e um hospedeiro definitivo. O ser humano pode atuar tanto como hospedeiro intermediário quanto como hospedeiro definitivo, dependerá da forma da qual o parasita a que foi exposto se encontra.

Geralmente o ser humano adquire o parasita ao consumir carne de porco contaminada crua ou mal cozida. O cisticerco é liberado durante a digestão devido ação da bile e então se fixam no intestino delgado e começam a se desenvolver. Aproximadamente de 60 a 70 dias após ingestão dos cisticercos inicia-se o aparecimento das proglotes e ovos nas fezes. Normalmente o organismo alberga somente um parasita, daí surge o nome solitária, acredita-se que isso aconteça devido a mecanismos do próprio parasita ou ainda a imunidade desenvolvida pelo próprio hospedeiro que inibe o desenvolvimento de outros parasitas. Quando acontece este mecanismo de infecção se desenvolve a teníase.

Acontece também a contaminação acidental, quando o ser humano ingere água ou alimentos contaminados com ovos, pode acontecer ainda a autoinfecção quando os ovos da zona perianal são levados até a boca. Neste caso os cisticercos que seriam desenvolvidos na musculatura dos suínos são desenvolvidos nos tecidos do organismo, a doença então é chamada de cisticercose. A oncosfera é liberada, penetra a parede do intestino e migra por meio da circulação para os tecidos, leva de 3 a 4 meses para que o cisticerco seja formado. Diversos tecidos podem ser afetados, o grande problema está no tropismo pelo globo ocular (oftalmocisticercose) e sistema nervoso central (neurocisticercose), este último caso é o mais frequente e a mais grave das infecções.

Sinais clínicos

Na teníase muito dificilmente os sintomas serão perceptíveis, caso sejam o infectado pode apresentar irritação na mucosa intestinal, desconforto abdominal, diarreia, alterações no apetite, emagrecimento, irritabilidade e fadiga.

Os sinais e sintomas na cisticercose depende da localização dos cisticercos. Quando em locais como tecido subcutâneo e músculos pode não apresentar sintomas. Entretanto quando ocasiona neurocisticercose pode ocasionar microcefalia, hidrocefalia, meningite, dano ao nervo craneal convulsões e defeitos visuais. Em casos de alojamento nos olhos pode causar a perda da acuidade visual e dano no trato óptico.

O cisticerco possui mecanismos de controle do sistema imunológico, deste modo somente a presença deste pode não ocasionar danos, porém quando ocorre a morte do cisticerco a resposta imunológica frente a isto exacerba os sintomas e pode levar ao desenvolvimento de convulsões e até mesmo levar o indivíduo a óbito. Ressalta-se que o cisticerco pode permanecer vivo dentro do organismo por até 10 anos.

Diagnóstico

O diagnóstico da teníase é feito com exame de fezes, onde são encontrados proglotes e ovos, também é utilizada a técnica de graham para pesquisa de ovos na região perianal. Como os ovos são idênticos aos da Taenia saginata, somente com este achado não é possível definir por qual espécie se dá a infecção. Para diferenciação é necessário realizar o estudo da proglote, onde a da Taenia solium possui de 12 a 15 ramificações uterinas e apresenta um tamanho menor.

No caso de cisticercose, especificamente na neurocisticercose, são utilizados exames de imagem como raios X, tomografia computadorizada e ultrassonografia, por meio deste é possível visualizar a presença dos cisticercos. Exames sorológicos também podem ser realizados, entretanto podem apresentar resultados falso positivos devido a infecções antigas pelo parasita.

Tratamento

No tratamento da teníase são utilizados fármacos, o de eleição é a niclosamida, mas podem ser utilizados alternativas como praziquantel, paromomicina e quinacrina.

Já no caso da cisticercose o tratamento pode ser farmacológico com praziquantel ou albendazol e em alguns casos é preciso realizar intervenção cirúrgica para remoção dos cisticercos em áreas como sistema nervoso central e olhos. Pode ser necessário a administração de corticoide para suprimir a resposta imunológica após a morte da larva.

Prevenção

Para prevenir as infecções recomenda-se ingerir carne bem cozida e que provenham de locais idôneos ou que seja congelada a -20ºC por pelo menos 12 horas, consumir somente água filtrada, possuir bons hábitos higiênicos e tratar os seres humanos infectados assim também como os animais.

Referências

Tortora, Gerard J. Microbiologia. 12. ed. – Porto Alegre, Artmed, 2017.

Murray, Patrick R.; Rosenthal, Ken S; Pfaller, Michael A. Microbiologia médica. 7. ed. ‑ Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.

Pfuetzenreiter, Márcia Regina; Pires, Fernando Dias de Ávila. Epidemiologia da teníase/cisticercose por Taenia solium e Taenia saginata. Disponivel em: https://www.scielo.br/j/cr/a/ckrWQWzcMtcMqpsTjv5p8GH/?lang=pt.

Autora: Danieli Souza Coelho

Instagram: @danielicoelho2000

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.