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Intoxicação por Opióides – A diferença entre remédio e veneno está na dose | Colunistas

Intoxicação por Opióides – A diferença entre remédio e veneno está na dose | Colunistas

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O que é intoxicação exógena?

A intoxicação exógena é definida como as consequências químicas ou bioquímicas que causam um desequilíbrio orgânico, resultante do contato de pele, olhos ou mucosas com agentes tóxicos, os quais podem ser ambientais, como o ar, água, alimentos, plantas ou animais peçonhentos ou venenosos, como também podem ser substâncias isoladas, como pesticidas, medicamentos e produtos químicos, tanto de uso industrial, quanto de uso doméstico. A intensidade do acometimento do agente tóxico depende de duas variáveis, sendo elas: a concentração do produto e o tempo de exposição.

Aspectos Epidemiológicos

            A intoxicação exógena é um agravo de saúde de notificação compulsória semanal no Brasil, ou seja, sua ocorrência deve ser, obrigatoriamente, comunicada à autoridade sanitária, em um prazo máximo de sete dias, por qualquer profissional de saúde ou responsáveis por organizações e locais de saúde e de ensino, públicos e privados, tanto os casos confirmados, assim como os suspeitos, a fim de adoção de medidas adequadas para evitar novos casos.

            No Brasil, houveram 695.825 casos de intoxicação notificados entre os anos de 2007 a 2016 e, estima-se que a mortalidade por intoxicação exógena não intencional, é mais frequente em crianças menores de 5 anos e em adultos com idade superior a 55 anos de idade, sendo mais comum em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, isto é, em países de baixa e média renda.

            De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX, 2017) os principais agentes tóxicos foram os escorpiões, sendo o causador de 36% dos casos de intoxicação humana no ano em questão, seguido por medicamentos, com 25% dos casos. No entanto, os agentes que mais ocasionaram óbitos foram os agrotóxicos, com 27 ocorrências. Além disso, a causa mais comum é a tentativa de autoextermínio, na maioria das vezes pela ingestão de medicamentos, com 2932 casos. Ainda, observa-se que o sexo masculino é o mais acometido, configurando 61,54% dos casos.

Embora tanto a intoxicação exógena acidental, quanto a tentativa de suicídio, seja mais comum em homens, quando se trata de autoenvenamento, ocorre o predomínio do sexo feminino. Os homens tendem a usar meios mais violentos para dar fim à própria vida, como o uso de arma de fogo e enforcamento, demonstrando se preocupar menos com a desconfiguração de sua imagem. Já as mulheres, são menos propensas a cometer suicídio, haja vista que reconhecem mais rapidamente os sinais de depressão, buscando apoio em grupos de saúde mental e de profissionais capacitados, como psiquiatra e psicólogo, em momentos de crise. No entanto, quando não é possível evitar o autoextermínio, as mulheres procuram ingerir doses excessivas de medicamentos.

O que são opióides?

            Os opióides são substâncias provenientes do ópio que atuam no alívio da dor moderada e intensa. Eles podem ser naturais, ou seja, que não sofrem modificações, como a morfina e a codeína, semissintéticas, como a heroína, e sintéticos, como a metadona.

Qual o mecanismo de ação dos opióides?

Os opióides responsáveis pela analgesia, se ligam aos seus receptores na membrana celular dos neurônios do sistema nervoso central, denominados δ, κ e µ, os quais são ligados à proteína G inibitória. Assim, ocasionam a desativação da enzima adenilato ciclase, promovendo o fechamento dos canais cálcio dependentes pré-sinápticos e a abertura dos canais de potássio pós-sinápticos, ocasionando a hiperpolarização celular e o bloqueio, de forma parcial, da transmissão da dor.

Quais os efeitos da intoxicação por opióides?

Os principais sinais e sintomas apresentados pelos pacientes intoxicados por essa substância são analgesia, miose, constipação, náuseas e vômitos, depressão respiratória, arreflexia, euforia ou disforia, sedação, hipotensão e rigidez muscular. No entanto, a tríade clínica da intoxicação por opióides, isto é, o conjunto de sintomas que caracterizam esta intoxicação específica, é: miose, depressão respiratória e coma.

Antídoto e Farmacoterapia Substitutiva

O tratamento para intoxicação por opióides é a administração do antagonista dos receptores opióides, naloxona. Em caso de abstinência, há a possibilidade de terapia por substituição, que se trata da substituição do opióide em abuso pela mesma droga, mas em doses reduzidas, ou outro da mesma classe. Os principais fármacos de escolha para a farmacoterapia de substituição é a metadona e a buprenorfina, por terem longa meia vida e por causarem menos efeitos adversos.

A importância da prescrição e dosagem correta

            Que a morfina é ótima para o alívio da dor intensa, todos sabem, no entanto, como dizia o médico e físico do século XVI Paracelso, “A diferença entre remédio e veneno está na dose.”, portanto, é importante que seja indicada, assim como os outros fármacos, por um médico capacitado e na dosagem correta para não causar dependência química ou efeitos adversos letais. Além disso, se faz necessário o rastreio e o apoio psicológico tanto para os pacientes que buscam o autoextermínio por meio da intoxicação, quanto para os que sofrem pela dependência química de opióides.