A farmacêutica alemã Merck, responsável pela fabricação do antiparasitário Ivermectina, informou em comunicado que não há dados científicos que comprovem a eficácia do medicamento contra a COVID-19. O medicamento é um dos indicados pelo Ministério da Saúde como “tratamento precoce” de infectados.
Em nota oficial, a farmacêutica disse que seus cientistas estão “examinando cuidadosamente as descobertas de todos os estudos disponíveis e emergentes de Ivermectina” para o tratamento da COVID-19, e que até o momento a análise da empresa identificou os três principais pontos abaixo:
- Nenhuma base científica para um efeito terapêutico potencial contra COVID-19 de estudos pré-clínicos;
- Nenhuma evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com COVID-19;
- A preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos.
“Não acreditamos que os dados disponíveis suportem a segurança e eficácia da Ivermectina além das doses e populações indicadas nas informações de prescrição aprovadas pela agência reguladora”, escreveu a Merck.
De onde vem a fama da ivermectina?
O antiparasitário ganhou fama na internet, após interpretações deturpadas de que ele seria a cura contra a doença causada pelo SARS-CoV-2. Isso aconteceu depois da publicação de um estudo australiano in vitro, mas revisões provaram que o fármaco só teria efeito se fosse utilizado em doses muito altas, com efeitos colaterais gravíssimos e até risco de overdose em pacientes.
Apesar da ciência descartar o uso do antiparasitário para COVID-19, um levantamento do G1 mostrou que a Ivermectina foi um dos medicamentos que teve aumento nas vendas durante a pandemia. E o número foi significativo: 557% vendas a mais do que em 2019.
O uso disseminado levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a emitir uma nota oficial, em julho de 2020, afirmando que “as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes na bula do medicamento” e que o uso “para indicações não previstas na bula é de escolha e responsabilidade do médico prescritor”.
Mais uma evidência contra o “Kit Covid”
Apesar das evidências contrárias, a Ivermectina é um dos medicamentos que compõe o que vem sendo chamado de “kit covid”, indicado pelo Ministério da Saúde para o suposto “tratamento precoce” da infecção.
Segundo reportagem do G1, em janeiro o Ministério da Saúde lançou um aplicativo que recomendava o uso do antiparasitário e de outros medicamentos sem eficácia comprovada, inclusive para crianças. Um dia depois, o aplicativo saiu do ar.
Porém, estudos realizados ao redor do mundo já apontam que os fármacos que compõem o “kit covid” se mostraram ineficazes e, muitas vezes, até prejudiciais à saúde.Um dos mais recentes foi feito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e concluiu que a cloroquina, outro medicamento que compõe o kit, é tóxica para as células vasculares do corpo humano.