Urgência e Emergência

K9: entenda essa droga emergente e suas repercussões

K9: entenda essa droga emergente e suas repercussões

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Entenda o que é a K9, quais são as preocupações acerca de sua disseminação no país e como proceder. Bons estudos!

A nova droga K9 se tornou uma preocupação pública após a sua chegada no Brasil. Por isso, se atualizar e entender as principais repercussões dela para a população vulnerável é fundamental.

A droga e os estudos a seu respeito ainda são recentes e vem sendo estudados por especialistas. Por isso, temos aqui uma breve revisão do que a K9 e suas variações tem causado e seus efeitos nos usuários.

O que são as drogas K2, K4 e K9?

A família de canabinoides sintéticos já era conhecida nos Estados Unidos e Europa, chamados de “spice“.

Sua formulação vêm dos anos 1990, pelo químico John Huffmann, na Carolina do Sul. O seu objetivo inicial era pesquisar os efeitos da droga no alívio do sofrimento de pacientes com HIV e câncer.

O canabinoide sintético se liga ao mesmo receptor cerebral que a maconha comum. Entretanto, a sua potência chega a ser 100 vezes pior que a da maconha, com efeitos negativos piores que o crack.

Pensando nisso, o termo “maconha sintética” não é correto, visto que a semelhança entre elas é apenas o receptor da substância: endocanabinoides.

Os canabinoides sintéticos são conhecidos como “especiarias”, com efeitos capazes de levar a um pânico moral, o que tem acontecido nas cidades brasileiras.

Chegada da droga K9 no Brasil

A droga K9 se popularizou durante o ano de 2022 nos Estados Unidos, com a circulação de vídeos na internet.

No Brasil, segundo dados da Secretaria de Saúde de São Paulo, o seu alcance dobrou em 2023 (216 casos), em apenas 5 meses, comparado a todo o ano de 2022 (98).

Considerando o efeito potente da nova droga em comparação à outras, sua venda foi proibida na Cracolândia pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). A causa atribuída à essa proibição são os prejuízos ao comércio local, além da preocupação que os efeitos nocivos aos usuários atraiam serviços de socorro médico e polícia.

Maconha vs Drogas K: não são comparáveis

É fundamental que as drogas K2, K4 e K9 não sejam confundidas e nem mesmo mencionadas como sinônimos da maconha.

Embora ambas compartilhem o mesmo receptor cerebral, chamar as drogas spice ou K9 como “super maconha” ou “maconha sintética” pode ter implicações negativas por:

  • Dar a falsa impressão de que os efeitos da maconha e da K9 são semelhantes, apenas mais potentes, o que não é verdade;
  • Associar a maconha medicinal e seu uso à uma preocupação moral, enfraquecendo o movimento científico por sua pesquisa e liberação para fins terapêuticos respaldados por evidências.

A cannabis medicinal tem tido avanços importantes nos últimos anos, tanto em evidências científicas quanto no treinamento de prescrição pelos profissionais de saúde. Associá-la ao consumo de uma droga problemática para a sociedade pode representar uma valência social negativa para cannabis medicinal.

Efeitos da droga K9: organismo e comportamento humano

A K9 é capaz de causar efeitos físicos e psicológicos, conhecido como “efeito zumbi”. A depressão do sistema nervoso central leva a uma hipersonolência e vômitos. Esse é um binômio perigoso para um grande risco do uso da droga: broncoaspiração.

Outros riscos incluem a psicose e estado de confusão mental. Muitos usuários apresentam movimentos involuntários, com contorção de todo o corpo sobre seu eixo. Outros sintomas relatados são convulsões, alucinações, paranoia, agressividade e pânico.

Com base nisso, a K9 vulnerabiliza o usuário por completo. Dentre todos os efeitos da droga, esse é um dos que mais preocupa em relação à população infantil.

Evolução de sintomas ao uso da droga K9. Fonte: Secretaria de Saúde de SP.

Identificando a intoxicação por K9 e o que fazer diante disso

A intoxicação por K2, K4 e K9 tem sido relatada frequentemente. Devido aos seus potentes efeitos, é importante que sejamos capazes de identificar sinais de intoxicação pela droga.

Por isso, esteja atento a sinais como:

  • Vômito e salivação excessiva;
  • Sonolência, desorientação;
  • Dificuldade de respirar;
  • Desmaios, convulsão;
  • Sinais evidentes na boca ou na pele decorrentes de contato ou ingestão de substâncias químicas ou plantas tóxicas;
  • Lesões, queimaduras ou vermelhidão na pele, boca e lábios;
  • Cheiro característico de algum produto na pele, roupa ou objetos ao redor;
  • Alterações súbitas do comportamento ou estado de consciência.

Por ser sintética, a quantidade de substância exigida para atingir o efeito desejado é muito superior ao de canabinoides naturais. Assim, o risco de overdose cresce.

Diante dos sintomas assim descritos, é importante que os serviços como SAMU (192), Pronto Socorro ou atendimento em UPA sejam buscados. Essas equipes dispõe de equipamentos capazes de auxiliar na desintoxicação do usuário.

K9
Criança após uso do K9. Fonte: Arquivo pessoal jornalistas G1.

O que não fazer diante de um usuário intoxicado por drogas?

Essas são informações gerais sobre medidas que não devem ser tomadas diante da suspeita de intoxicação por drogas. Assim, após acionar o SAMU ou encaminhar o usuário à uma unidade de saúde apropriada:

  • Tente identificar de qual agente tóxico o usuário fez uso;
  • NUNCA ofereça leite, água, qualquer outro alimento ou medicamentos;
  • NÃO provoque vômitos;
  • RETIRE as roupas impregnadas com a droga;
  • LEVE ao serviço de saúde a embalagem, o rótulo ou a bula do produto que a vítima foi exposta.

K9 e crianças: o que as tornam vulneráveis à droga?

As crianças fazem parte de uma das populações mais vulneráveis ao contato com a droga K9.

Em fevereiro desse ano, o caso David Dias teve importante repercussão. O garoto de 12 anos vivia em Diadema, São Paulo, com sua mãe e 4 irmãos. Segundo sua mãe, ele foi a uma festa de aniversário, onde teve contato com a droga, tendo posteriormente sofrido uma parada cardíaca e falecido.

K9
David Dias, criança vítima da droga K9.

Assim como David, dezenas de crianças tem sido encontradas em estados de vulnerabilidade pelo uso da droga. Na cidade de São Paulo, são registradas cenas de atonia. Por isso, em abril de 2023, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo publicou uma nota técnica para assistência a crianças e adolescentes intoxicados por canabinoides sintéticos.

Fluxo e manejo dos quadros de intoxicação aguda por drogas emergentes em crianças e adolescentes na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Fonte: Secretaria de Saúde de SP.

Identificação da droga K9 por especialistas e usuários

A investigação das drogas K representa um desafio para a Química Forense brasileira. Identificar a droga é um trabalho árduo, realizado em etapas.

No Departamento de Perícias Laboratoriais, a droga é diluída e depois analisada. O aparelho usado para a análise é o Cromatógrafo gasoso, que é acoplado à espectometria de massa. Através de um banco de dados extenso, a composição química é avaliada e reconhecida dentre milhares de substâncias.

Ainda, a forma de apresentação e distribuição da droga é muito variada. As formas de apresentação mais conhecidas da droga são:

  • Cigarro;
  • Spray;
  • Comprimidos;
  • Sachês e por-pourri de ervas;
  • Sais de banho;
  • Goma de mascar;
  • Essência de cigarro eletrônico (vape).
Diferentes formas de apresentação da K9 aos usuários. Fonte: Secretaria de Saúde de SP.

Conclusão e principais pontos sobre a droga K9

Em um resumo breve, podemos concluir que:

  • Os canabinoides sintéticos não são “super maconhas” ou sinônimo de maconha;
  • A droga K e seus variações não estão mais restritas ao centro de São Paulo, mas alcançando outras regiões;
  • As autoridades de saúde e políticas públicas estão preocupadas com a K9, formulando diretrizes e fluxogramas de atendimentos;
  • Intoxicações por K9 são frequentes e seus efeitos são muito mais potentes e negativos que muitas outras drogas, até mesmo o crack;
  • As apresentações da droga são variadas, sendo importante estar atentos à diversidade de meios de alcance à crianças e adolescentes.

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Perguntas frequentes

  1. O que é a K9?
    A K9 é uma droga da família dos canabinoides sintéticos, com efeitos potentes e potencialmente fatais.
  2. Quais são as recomendações ao se deparar com uma intoxicação por K9?
    Entrar em contato com o SAMU (192), não oferecer alimentos ou medicamentos e nem estimular o vômito.
  3. Quais medidas autoridades têm tomado quanto à droga?
    Emissão de notas técnicas e fluxogramas de atendimento.

Referências

  1. Imagem de capa.
  2. Orientações para assistência às intoxicações por canabis/maconha sintética junto à população infantojuvenil na RAPS-MSP.
  3. ALVES, V.L. et al. The synthetic cannabinoids phenomenon: from structure to toxicological properties: a review. Crit Rev Toxicol. v. 50, n. 5, p. 359-82, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1080/10408444.202 0.1762539. Acesso em: 06 mar. 2023.