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Nos últimos dias, um caso interessante de cura de linfoma de Hodgkin após paciente contrair covid-19 estampou as páginas de notícias. Será essa uma esperança, ou só mesmo coincidência? Para entender um pouco mais sobre o caso, vamos começar do início.
Linfoma de Hodgkin
O linfoma de Hodgkin (LH), descrito pela primeira vez, em 1832, por Thomas Hodgkin, é definido como uma neoplasia do tecido linfoide caracterizada pela presença de células de Reed-Sternberg e/ou células de Hodgkin, num contexto inflamatório característico, ou seja, tomado por estroma, linfócitos, histiócitos, eosinófilos e monócitos. Pode ocorrer em tecido ganglionar e, raramente, em tecido extraganglionar.
Em suas características epidemiológicas, apresenta-se como uma neoplasia rara, apresentando uma incidência, na Europa e EUA, de 2 a 3 em 100 000 por ano. Há predomínio na raça branca, no sexo masculino, sobretudo em crianças.
O linfoma de Hodgkin é classificado em dois grupos, o linfoma de Hodgkin Nodular de Predomínio de Linfócitos e o linfoma de Hodgkin Clássico, cujo tem diversos subtipos. A classificação histológica é muito importante e deve ser feita no início da doença, pois a quimioterapia e/ou radioterapia modificam conforme a histopatologia.
Manifestações Clínicas
Na anamnese, podem estar presentes os sintomas B, constituídos por febre, suor noturno e perda ponderal, em cerca de 25% dos doentes. A febre geralmente é baixa e irregular, o que ocorre em cerca de 27% dos doentes. No entanto, existe um padrão de febre, o Padrão de Pel-Ebstein, que, sendo raro, é virtualmente diagnosticado. Trata-se de uma febre alta, persistente durante uma a duas semanas, alternando com períodos de apirexia de mesma duração. Outros sintomas podem estar presentes, como prurido e dor ganglionar após ingestão de álcool.
No exame físico, o achado mais comum são adenomegalias não dolorosas, com localização característica nas cadeias ganglionares do pescoço, supraclaviculares e axilares. Pode estar presente a síndrome da veia cava superior, causada por compressão pelas adenomegalias mediastínicas. Pode-se encontrar sinais de derrame pleural e hepato ou esplenomegalia. O eritema nodoso é a manifestação cutânea mais comum.
Nos exames de laboratório, pelo hemograma, pode-se encontrar citopenias, sobretudo na doença avançada e na histologia de deplecção linfocitária. Como também, pode-se encontrar granulocitose ou trombocitose. Aumentos da VSE e/ou LDH associam-se à doença avançada e sintomática.
Em relação aos exames de imagem, na radiografia de tórax é frequente encontrar alargamentos do mediastino. Na TC torácica, pode ter adenomegalias mediastínicas, derrames pleural e/ou pericárdico. A RM tem interesse apenas para avaliar situações específicas, como atingimento ósseo ou compressão da medula espinhal.
No entanto, o prognóstico é bom. A taxa de sobrevida aos 5 anos ultrapassa os 80%.
Tratamento
O tratamento na doença localizada difere de acordo com o subtipo da doença, sendo semelhante para os dois tipos histológicos na doença avançada. Como exemplo, no LH nodular, quando doença limitada, preconiza-se a excisão cirúrgica associada à radioterapia da área atingida, podendo esta ser omitida se a excisão for completa. Já na doença em fase avançada, o tratamento mais aceito atualmente é a quimioterapia combinada, esperando-se uma resposta completa em 70 a 80% dos pacientes. Sabe-se que a associação de radioterapia não melhora o prognóstico na doença avançada que apresenta remissão completa após esquemas de quimioterapia combinada.
COVID-19
O coronavírus é parte de uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais, incluindo camelos, gado, gatos e morcegos. A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que, ao infectar seres humanos, varia de um espectro clínico que cursa de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maioria (cerca de 80%) dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos, 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório.
Covid-19 e a curiosa cura do Linfoma de Hodgkin
O caso foi publicado no periódico British Journal of Haematology no dia 2 de janeiro deste ano. No relato, consta que, um homem de 61 anos diagnosticado com linfoma de Hodgkin em estágio III e hospitalizado na província de Cornuália, na Inglaterra, teve remissão completa e generalizada da doença após contrair o novo coronavírus.
De acordo com os autores da publicação, o paciente entrou no departamento de hematologia do Royal Cornwall Hospital com inflamação nos gânglios e anorexia, com perda de peso. O homem já fazia hemodiálise para insuficiência renal em estágio terminal, após um transplante mal sucedido dos rins.
Após ser diagnosticado com COVID, o paciente foi internado com falta de ar, chiado no peito e com pneumonia. A contaminação pelo coronavírus foi confirmada após exame de PCR. Após, ficou 11 dias em tratamento e teve alta hospitalar. Medicamentos usados no tratamento do linfoma, como corticoides ou imunohistoquímica não foram utilizados.
Após quatro meses do quadro, os nódulos diminuíram e um exame de imagem revelou a remissão generalizada do linfoma.
Os autores do artigo levantaram a hipótese de que a infecção pelo COVID-19 desencadeou uma resposta imune contra o tumor. Ou seja, as citocinas inflamatórias produzidas em resposta à infecção poderiam ter ativado células T específicas com antígenos tumorais e células que naturalmente agem contra o tumor.
Casos de remissão espontânea, como este, não são inéditos, porém com outras infecções de pneumonia infecciosa e no contexto do linfoma, não Hodgkin de alto grau.

Fonte: imagens Google.[Pacheco1]
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

REFERÊNCIAS
Aleman B, Raemaeken J, Tirelli U et al. Involved-Field Radiotherapy for advanced Hodgkin’s Lymphoma. N Engl J Med 2003; 348 (24): 2396-2406.
Alcântara RC, Silva Junior LCF, Arnozo GM, Oliveira TF de, Santana FMS, Silva Filho ER da, Santos AGG dos, Cunha EJO da, Aquino SHS de, Mesquita R da R, Souza CDF de. Covid-19 em Pacientes Oncológicos: uma Revisão do Perfil Clínico-Epidemiológico. Rev. Bras. Cancerol. [Internet]. 1º de junho de 2020 [citado 22º de fevereiro de 2021];66(TemaAtual):e-1046. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/revista/index.php/revista/article/view/1046
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Afinal, seria o coronavírus capaz de curar o câncer? | Veja Saúde (abril.com.br)