Na semiologia cardiovascular, assim como no exame de todos os sis- temas, a realização de uma anamnese completa e detalhada é essencial para nortear toda a avaliação do paciente, além de permitir sugestões de patologias e prognósticos.
No primeiro tópico da anamnese, deve-se realizar correlações com dados epidemiológicos e atentar para características da vida do paciente que possam demonstrar susceptibilidade a algumas patologias.
A avaliação e compreensão das queixas referidas pelos pacientes são de grande importância para a suspeição diagnóstica e definição do curso de tratamento e prognóstico. Assim, na semiologia do sistema cardiovascular, se faz necessário conhecer os principais quadros relacionados e observar casos importantes para diagnóstico diferencial
Trata-se de um sintoma largamente referido na prática clínica, consistindo na percepção incômoda dos batimentos cardíacos. Faz-se necessário avaliar frequência e ritmo cardíacos, duração das palpitações, fatores desencadeantes, grau de incômodo, ocorrência de síncope e pré-síncope, conhecimento de cardiopatia estrutural e história familiar de morte súbita. Podem estar relacionadas ao esforço (desaparecendo com o repouso e associada à dispneia), à causa psicológica ou a alterações no ritmo cardíaco.
A queixa de dispneia é compreendida como a percepção consciente e desagradável da própria respiração, podendo ser referida como “falta de ar”, “cansaço” e “dificuldade respiratória”. A relação da dispneia com causas cardiovasculares reside na congestão pulmonar, promovida pela insuficiência cardíaca, fazendo-se necessária a observação do quadro geral do paciente. Enquanto uma dispneia associada a edema vespertino de MMII pode indicar insuficiência cardíaca, a associação com dor precordial e sudorese sugere uma origem isquêmica. A dispneia relacionada a causas cardíacas caracteriza-se principalmente por:
A cianose consiste na alteração de coloração da pele e de mucosas, adquirindo tons azulado-violáceos, que refletem um baixo aporte de oxigênio para os tecidos atingidos, com baixa perfusão tecidual. Quando encontrada em pacientes neonatos, pode ser indicativo de cardiopatia congênita.
O edema de causa cardíaca envolve principalmente a sobrecarga de VD, além do aumento da pressão hidrostática e de retenção de sódio e água, já que ocorre ativação neuro-humoral como resposta adaptativa na insuficiência cardíaca, sendo necessária a avaliação de outros sintomas. O edema cardíaco tradicionalmente se apresenta nos MMII, fato relacionado à gravidade e sendo mais referido durante o período vespertino ou tardio (edema bilateral vespertino). Existem alguns casos peculiares, como por exemplo, a presença de ascite em casos de insuficiência cardíaca, pericardite e lesão de válvula tricúspide. A presença de anasarca indica um comprometimento mais grave.
Existem diversos outros sintomas que podem estar relacionados ao acometimento do sistema cardiovascular, mas que podem ser menos específicos e menos referidos. A lipotimia e a síncope são exemplos de quadros que podem ocorrer na vigência de bradicardia e taquicardia, podendo estar relacionadas à síndrome de Stokes-Adams. Além disso, é importante investigar a idade do paciente, em que posição ele estava no momento (já que mudanças de posição podem gerar episódios, principalmente em idosos), a presença de doença cardíaca prévia e o uso de medicações que podem ser pró-arritmogênicas (como os antidepressivos tricíclicos)