Ascite consiste no acúmulo patológico de líquido na cavidade peritoneal e sua principal causa é a hipertensão portal resultante de cirrose, responsável por 85% dos casos. O sucesso no manejo depende da identificação e correção do fator causal.
Existem várias causas de ascite, sendo a principal delas, como dito, a cirrose hepática. A ascite é a complicação mais frequente dos pacientes, ocorrendo em 60% dos casos com a doença descompensada, sendo indicativo de mau prognóstico. Outras causas importantes de ascite são as de etiologia cardiogênica e as secundárias a doenças peritoneais, além de condições sistêmicas que ocasionam hipoalbuminemia.
Pacientes com ascite tipicamente apresentam distensão abdominal, que pode ser assintomática ou associada com desconforto, plenitude pós-prandial, dispneia e ganho de peso. O tempo do surgimento da ascite, assim como alguns achados específicos, podem estar associados à causa de base. Os pacientes com infecção do líquido ascítico podem apresentar febre, dor abdominal, taquicardia, dispneia e alternação do estado mentaL
A avaliação inicial de um paciente com ascite deve incluir história clínica e exame físico, sendo necessária a confirmação através de paracentese diagnóstica, podendo associar exames de imagem como a ultrassonografia abdominal. A avaliação laboratorial é realizada através da função hepática, função renal e eletrólitos.
A paracentese diagnóstica com análise do líquido ascítico é fundamental em todos os doentes investigados por ascite para identificar a causa desta e descartar a hipótese de peritonite bacteriana espontânea (PBE) nos pacientes sabidamente cirróticos. É o método mais rápido e custo-efetivo, sendo realizada à beira do leito, com retirada de pequena quantidade de líquido ascítico para análise. A paracentese de alívio é terapêutica ao remover grandes volumes de líquido ascítico, visando o alívio dos sintomas associados ao aumento da pressão intra-abdominal. As complicações são raras, dentre elas o vazamento de líquido ascítico, hematoma, sangramento, perfuração de alça e infecção.
A aparência do fluido ascítico pode fornecer informações quanto à causa subjacente da ascite antes mesmo do exame laboratorial: • Amarelo citrino ou claro: é a aparência mais frequente em cirróticos sem complicações. • Turvo: suspeita-se de PBE. • Leitoso: denominada ascite quilosa, possui alta concentração de triglicérides, indicativo de malignidade ou, menos comumente, cirrose.
Os exames laboratoriais realizados rotineiramente no líquido ascítico são a dosagem de albumina, proteínas totais, citologia total e diferencial e cultura. Testes adicionais devem ser direcionados de acordo com a suspeita de etiologia da ascite.
A ascite refratária é aquela que não responde ao tratamento de mobilização ou que recidiva de forma precoce. A sobrevida média nesse grupo de pacientes é de aproximadamente 6 meses, sendo a ascite refratária considerada uma indicação ao transplante hepático. Pode se apresentar sob a forma de resistência à ação dos diuréticos (não responde à dose máxima) ou intratável com diuréticos (apresenta complicações relacionadas ao uso de diuréticos que são incompatíveis com a manutenção desse tratamento, como insuficiência renal, distúrbios hidroeletrolíticos e encefalopatia).