A celulite orbitária bacteriana constitui um quadro infeccioso agudo com risco vital para os tecidos moles da região orbitária. Globalmente, divide-se em duas situações: celulite periorbitária ou pré-septal, localizada anteriormente ao septo orbitário e celulite orbitária ou pós-septal, quando instalada posteriormente ao septo.
Várias são as causas que podem evoluir para tal patologia, sendo não raramente secundárias a eventos muitas vezes já instalados (tabela 1), porém o mecanismo mais comum é a disseminação local.
A anatomia da região justifica o risco aumentado da infecção. O septo é oriundo do periósteo do crânio e das inserções palpebrais, sendo próxima a dura-máter circundando o cérebro. Além disto, as órbitas anatomicamente possuem grande afinidade com as pálpebras, os dentes, o ducto nasolacrimal e os seios da face, principalmente do seio etmoidal que é separado dos tecidos orbitários por pequena lâmina óssea.
A celulite pré-septal, assim com a pós-septal, apresenta sintomas comuns de acometimento dos tecidos moles periorbitários apresentando eritema, edema, calor, sensibilidade palpebral e quemose (edema conjuntival). O quadro clínico da pré-septal limita-se aos tecidos moles externos, não apresenta acometimento orbitário, diferenciando-se assim da pós-septal. A celulite pós-septal deve ser suspeitada se estiverem presentes os sinais orbitários que incluem oftalmoplegia dolorosa, proptose, acuidade visual reduzida, defeito pupilar aferente e diplopia. A celulite pós-septal apresenta pior prognóstico e pode evoluir de forma fulminante com complicações severas que incluem a trombose do seio cavernoso, abscessos intracranianos, meningite e cegueira.
O diagnóstico é feito por meio dos sinais clínicos de acometimento orbitário já citados associados a exames complementares e laboratoriais. Os achados dos exames laboratoriais, hemograma completo e proteína C reativa (PCR), evidenciam um processo infeccioso com leucocitose e aumento do PCR.
O tratamento inicial depende da etiologia bacteriana relacionada a maioria dos casos de celulite pré e pós-septal. Na celulite pré-septal usa-se antibioticoterapia via oral associada a AINEs e compressa quente. Já na celulite pós-septal inicia-se com antibiótico de amplo espectro com ação contra germes gram +, gram –, anaeróbios, produtores de betalactamase.
J.S.S, 15 anos, sexo masculino, foi ao PSF queixando-se de dor em olho direito, hiperemia conjuntival e edema em região periorbitária. O médico, após a avaliação, iniciou colírio com antibiótico (Tobrex®) e lubrificante ocular (Lacrifilm®).