A conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, que pode ser de origem infecciosa ou não infecciosa, podendo ter como agente causal bactérias, vírus e até processos alérgicos. Constitui uma queixa recorrente em atendimentos de atenção básica, sendo considerada a doença ocular mais comum, equivalente a 25% de todo o atendimento emergencial oftalmológico. Afeta todas as faixas etárias e classes socioeconômicas e apresenta predomínio dos 20 aos 29 anos.
A conjuntivite pode ser causada por agentes tóxicos, mecânicos, alergias e infecciosos (vírus, bactérias, fungos e parasitos), podendo ser divida em infecciosas e não infecciosas (alérgicas e não alérgicas).
A fisiopatologia da inflamação conjuntival está relacionada ao agente causal, onde a vasodilatação provoca o dano endotelial através do aumento da permeabilidade, gerando quemose e, por estímulo de terminações nervosas sensoriais, levando a uma hipersecreção.
Conjuntivite bacteriana: A conjuntivite bacteriana aguda geralmente cursa com início abrupto de hiperemia conjuntival, queimação, irritação, sensação de corpo estranho, pálpebras aderidas, fotofobia, secreção mucopurulenta com envolvimento geralmente bilateral, embora um olho possa ser afetado 1-2 dias antes do outro, sendo autolimitada, durando de 7-14 dias e tendo um período de contágio de 5 a 7 dias. Os principais sinais são injeção conjuntival difusa, reação papilar e erosões corneanas puntatas, comumente cursa com ausência de linfonodo pré-auricular. Conjuntivite viral: Pode se manifestar de diferentes maneiras como uma doença viral sistêmica junto a outros sintomas próprios (herpes vírus, a varicela zoster e HIV), aparecer isoladamente ou se assemelhar a um resfriado, com tosse matinal, congestão nasal e secreção. O quadro geralmente cursa com hiperemia conjuntival, secreção hialina, fotofobia, reação folicular, sensação de queimação ou areia nos olhos e geralmente unilateral. São autolimitadas, cursam de 7 a 14 dias e o período de contágio se entende do início do quadro clínico ao 14o dia. Os principais sinais são edema palpebral, folículos, hemorragias conjuntivais, pseudomembranas, ceratite e linfadenomegalia pré-auricular que pode estar presente em até 90% dos casos. Conjuntivite alérgica: A conjuntivite alérgica pode se apresentar como um sintoma isolado ou compor uma reação alérgica generalizada, com sintomas em outros segmentos corporais. As queixas principais incluem prurido intenso, fotofobia, secreção hialina e olho vermelho persistente e a maioria dos pacientes contém história prévia de atopia ou apresentam quadros alérgicos, com rinite ou bronquite associados. O quadro geralmente é bilateral, simétrico e não contagioso, podendo seu curso ser agudo ou crônico.
O diagnóstico das conjuntivites é clínico, fundamentado na anamnese do paciente e no exame biomicroscópico com o auxílio da lâmpada de fenda, onde se observa inflamação conjuntival, associada a outros achados.
Os principais diagnósticos diferenciais das conjuntivites constituem as causas de olho vermelho, dentre estas as uveítes, crises agudas de glaucoma, ceratites e traumas.
Conjuntivite bacteriana: O tratamento das conjuntivites bacterianas fundamenta-se na utilização de antibióticos tópicos, mas não se deve esquecer de medidas para evitar a proliferação da conjuntivite como: higiene ocular com SF 0,9%, lenço descartável, trocar fronhas e toalhas de rosto, lavar as mãos após manuseio de colírios, uso de óculos escuros, além de atestado médico de 5 a 7 dias. Os antibióticos tópicos mais utilizados são as quinolonas: ciprofloxacino (Maxiflox®), gatifloxacino (Zymar®), moxifloxacino (Vigamox®) e os aminoglicosídeos como a tobramicina (Tobrex®), esses podem ser usados 4 a 5 vezes ao dia (1 gota) e devem ser associados aos lubrificantes (Lacrifilm®, Systane UL®, Hyabak® e Refresh Advanced®). Se houver processo inflamatório muito intenso, o uso de corticoides tópicos também pode ser indicado associado, como exemplos temos: Maxiflox-D®, Tobradex®, Zypred®, Vigadexa®. Conjuntivite viral: A conjuntivite viral não apresenta tratamento específico, geralmente a resolução é espontânea em duas semanas, porém há benefícios com uso de lubrificantes e compressas frias, além das medidas preventivas já listadas acima. Conjuntivite alérgica: medidas iniciais, nos casos mais simples, incluem controle ambiental do agente causal e uso de lubrificantes (Lacrifilm®, Systante UL®, Refresh Advance®, Hyabak ®) de 4/4 h. Em casos moderados, podem ser usados colírios anti-histamínicos e inibidores dos mastócitos (Patanol- S® ou Lastacaft®) 1 vez ao dia, no período de maior prurido e antialérgicos sistêmicos durante as crises agudas (Loratadina 10 mg de 12/12 h ou Descloferinamida 2 mg de 8/8 h).
C.F, 47 anos, sexo feminino, dona de casa, chega ao pronto-socorro queixando-se de hiperemia conjuntival, secreção purulenta, ardência e fotofobia em olho direito, que se iniciou há um dia. Refere que seu filho apresentou quadro semelhante há dois dias. Nega baixa acuidade visual e dor ocular. Afirma não fazer uso de correção, não ser portadora de nenhuma doença de base e não ter história prévia de patologia ocular.