A hiperglicemia aguda é uma condição comum nos doentes críticos e não críticos, com ou sem diagnóstico prévio de diabetes mellitus. Essa alteração se desenvolve principalmente devido ao estresse metabólico agudo da doença ou do trauma, após procedimentos cirúrgicos ou efeito hiperglicemiante de medicamentos em uso. Entretanto, deve-se considerar que a elevada prevalência de hiperglicemia em pacientes hospitalizados pode ser reflexo de outros fatores, como o alto índice de diabéticos não diagnosticados ou a própria diabetes, que cursa com complicações cardiovasculares, acidente vascular cerebral e insuficiência renal, condições que levam mais frequentemente a internações.
A ocorrência de hiperglicemia intra-hospitalar é uma complicação comum e, por vezes, negligenciada. Diante das novas evidências e do risco de quadro hipoglicêmico, aceita-se uma glicemia aleatória com valor máximo de até 180 mg/dL para se definir uma hiperglicemia aguda e iniciar o tratamento. Deve-se medir a hemoglobina glicada (HbA1c) para saber se a hiperglicemia é recente ou se o paciente já é portador de diabetes, admitindo a existência de doença prévia em valores acima de 6,5% naqueles não diagnosticados com diabetes. Deve-se atentar para excluir previamente anemia falciforme ou hemoglobinopatias nesses pacientes, para não interferir na avaliação da HbA1c.
Para os pacientes diabéticos, recomenda-se suspender o uso da metformina preferencialmente 48 horas antes de alguma intervenção cirúrgica ou para realização de exames com contrastes radiológicos, levando em consideração que tal medicação pode provocar acidose láctica e falência renal após o uso do contraste.
Abordado na CAD e EHH, deve-se seguir o esquema de insulina Regular em bomba de infusão contínua com os mesmos objetivos.
Paciente H. J. P, 67 anos, 80 kg, previamente hipertenso, apresentou segundo episódio de AVC isquêmico há 2 dias. Após infusão de trombolítico e estabilização do quadro, o paciente começou a apresentar glicemia de 150 mg/dL. No segundo dia de internação, o paciente estável, no leito, sem queixas, apresentou uma glicemia de 185 mg/dL já na primeira medida glicêmica da manhã, seguida por uma glicemia de 230 mg/dL 6 horas após. Diante do quadro clinico do paciente, o plantonista da enfermaria optou por iniciar insulinização, em esquema intensivo (basal/bolus), usando uma dose 0,6 U/kg/d. Portanto, considerou uma dose total diária de 48 U e calculou o fator de sensibilidade para a dose de correção. Neste caso, um fator de sensibilidade de aproximadamente 30 (1500 ÷ 48).
No momento da alta algumas modificações acontecerão na terapia dos pacientes que tiveram quadro hiperglicêmico e as devidas orientações deverão ser transmitidas, principalmente para aqueles que não usavam a insulina antes da hospitalização. É fundamental que os pacientes com primodiagnóstico de diabetes sejam avaliados pelo especialista, para verificar o tipo de diabetes e a estratégia de tratamento que será mantida ambulatorialmente.
A hipoglicemia é uma condição clínica adversa, potencialmente fatal, porém, se diagnosticada e tratada rapidamente, apresenta boa resolução do quadro e bom prognóstico. Os sintomas típicos são taquicardia, tremores, sudorese, pele fria e pálida (desencadeados por descarga adrenérgica) e, em casos graves, letargia e estado comatoso, podendo contribuir com o aumento da morbidade e mortalidade. A hipoglicemia severa pode levar a alterações cardíacas, como arritmias e crises de angina, além de promover liberação de fatores pró-inflamatórios.1